Dados do Ministério da Saúde mostram que o Brasil registra, em média, cerca de 30 mil novos casos de hanseníase anualmente, fazendo com que a doença seja um problema de saúde pública no País. Uma londrinense de 79 anos faz parte desta estatística. A confirmação do diagnóstico veio após a realização de um exame. “A reação foi de medo com a doença”, define a idosa, que prefere não ser identificada.

O tratamento foi por intermédio do Cismepar (Consórcio Intermunicipal de Saúde do Médio Paranapanema), onde pegava os remédios. “Depois de finalizar o tratamento passei a ser avaliada mensalmente no primeiro ano e depois vou espaçando. Tenho consciência que, minimamente, precisarei ser acompanhada no serviço por cinco anos”, conta. “A vida atualmente está bem, porém, ainda sinto fraqueza nas pernas”, comenta.

Uma das enfermidades mais antigas do Mundo, a hanseníase é crônica e causada por uma bactéria denominada Mycobacterium leprae. A doença pode atingir qualquer pessoa e afeta, principalmente, pele, olhos, mãos, pés e nervos.

“Entre os sintomas estão uma ou mais manchas de cor variada: esbranquiçada, avermelhada ou acastanhada; mancha com diminuição e/ou perda de sensibilidade; pele seca e queda de pelos; dor, sensação de choque, fisgadas e agulhadas ao longo dos nervos dos braços e pernas; caroços no corpo, avermelhados e dolorosos; e diminuição da força muscular das mãos, pés ou face”, listou a enfermeira Flávia Meneguetti Pieri.

GRATUITO

A contaminação acontece por meio de gotículas de saliva que são eliminadas na fala, tosse e espirro no contato próximo e frequente com doentes que ainda não iniciaram o tratamento ou estão em fases adiantadas da doença, sem os devidos cuidados. Apesar de grave, a hanseníase tem cura e o tratamento é gratuito, oferecido no SUS (Sistema Único de Saúde). Londrina tem dois centros de referência: o Cismepar e a Policlínica Municipal. A porta de entrada são as UBS (Unidades Básicas de Saúde).

LEIA TAMBÉM:

= Londrina e cidades da região vão receber vacina contra a dengue

= Ciatox da UEL registra aumento nos atendimentos por intoxicação

“A cura é mais fácil e rápida quanto mais precoce for o diagnóstico. O tratamento é via oral e envolve a associação de três antimicrobianos. Essa associação é denominada Poliquimioterapia Única (PQT-U) e está disponível nas apresentações adulto e infantil. A associação de antimicrobianos reduz a possibilidade de desenvolvimento de resistência medicamentosa pela bactéria causadora da doença, o que pode ocorrer quando se utiliza apenas um medicamento”, detalha a profissional de saúde, que é professora do Departamento de Enfermagem da UEL (Universidade Estadual de Londrina), onde coordena o Grupo de Atuação e Pesquisa em Infectologia da instituição.

TEMPO DE TRATAMENTO

A duração do tratamento varia conforme a forma clínica da doença. “Para indivíduos com hanseníase paucibacilar (PB) a duração é de seis meses até nove meses e para os casos multibacilar (MB) é de doze meses a dezoito meses, sendo este o transmissor da doença. É importante ressaltar que já no início do tratamento (15 dias após o início), pela ação dos medicamentos, o indivíduo MB deixa de transmitir a doença”, ressalta.

VACINA

Segundo informações do Ministério da Saúde, a pasta, juntamente com a Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz), financia o ensaio clínico para avaliar a eficácia da Lepvax, primeira vacina específica para hanseníase do mundo, que aguarda liberação da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) para prosseguir os testes.

Imagem ilustrativa da imagem Hanseníase: conhecer, tratar e acolher
| Foto: Folha Arte

JANEIRO ROXO

Anualmente é realizado o Janeiro Roxo, como uma forma de conscientizar e orientar sobre a doença. Nesta segunda-feira (29) é celebrado o Dia Mundial de Combate à Hanseníase.

“O Janeiro Roxo é uma tentativa de reduzir a discriminação das pessoas que possuem esta doença. Mesmo sendo uma enfermidade muito antiga, poucas pessoas entendem de fato o que causa a hanseníase, quais são os sinais e sintomas e como é feito o tratamento”, frisa.

Em 2024, o tema da campanha é “Conhecer, Tratar e Acolher”. “O objetivo da campanha é ampliar o conhecimento da população sobre a doença, por meio de ações de conscientização, e reforçar a importância do diagnóstico precoce para evitar a ocorrência de sequelas graves, que geram incapacidades físicas”, observa.

‘Enfermidade segue sendo negligenciada’

O Painel de Monitoramento de Indicadores da Hanseníase coloca o Brasil como o segundo país com maior incidência da doença no mundo, atrás apenas da Índia. Além disso, de acordo com a OMS (Organização Mundial da Saúde), o Brasil é responsável por 96,3% dos casos nas Américas.

“Apesar de possuir tratamento e mesmo cura conhecida, a enfermidade causada pelo microorganismo Mycobacterium leprae segue sendo uma doença negligenciada: no atual estágio de sua situação epidemiológica, já não parece ser uma prioridade para atores públicos e privados da Saúde a erradicação de sua presença”, adverte e enfermeira e professora Flávia Meneguetti Pieri.

Além dos estigmas históricos, a detecção da doença encontra outra dificuldade: a maior incidência nas regiões mais afastadas dos grandes centros e pobres.

“Em regiões do País como Norte e Nordeste a ocorrência da hanseníase em menores de 15 anos é uma realidade. Pesquisas vêm mapeando o avanço da doença e ressalta que o desenvolvimento dela ‘depende do bacilo, do hospedeiro e das condições do ambiente’. O Brasil tem áreas em que os diagnósticos são mais predominantes do que em outras, a maioria dos indivíduos diagnosticados com a doença vive em condições precárias e temos um alto número de incapacitados nessas regiões no momento do diagnóstico”, cita.

BUSCA ATIVA

“Por isso a importância das chamadas buscas ativas, o acompanhamento dos contatos intradomiciliares e/ou sociais que auxiliam na detecção e notificação de novos casos. Isso se dá porque, mesmo tendo uma taxa de infecciosidade alta, apenas 5% das pessoas afetadas pelas bactérias adoecem de fato, favorecendo um diagnóstico tardio que pode levar ao agravamento do estado de saúde do indivíduo”, acrescenta.

No Paraná, foram diagnosticados nos últimos cinco anos 3.440 novos casos de hanseníase. Somente em 2023 foram 341. A maioria dos pacientes são homens.