O CIATox-HU (Centro de Informação e Assistência Toxicológica)da Universidade Estadual de Londrina vem registrando números cada vez maiores de atendimentos de casos de picadas de cobras, escorpiões e aranhas, entre outros animais peçonhentos (venenosos), prestando assessoria a profissionais de saúde e à população em geral sobre o manejo dos ferimentos nas primeiras horas após os acidentes.

Balanço feito pelo centro aponta que foram registrados mais de 6,7 mil acidentes com animais peçonhentos. Os dados são de 339 municípios do Paraná e de outros 13 estados brasileiros atendidos nos últimos cinco anos. A ampla maioria ocorreu em Londrina (1.466), no entanto, até cidades que não fazem parte da 17ª Regional de Saúde, como Cianorte (277), Apucarana (217), Wenceslau Braz (207) e Cornélio Procópio (188) já encaminharam pacientes ou solicitaram apoio para a administração dos medicamentos.

Plantonista no CIATox, o docente do Departamento de Ciências Farmacêuticas (CCS) da UEL Edmarlon Girotto destaca que a demanda vem crescendo desde 2019, a partir do avanço dos casos envolvendo escorpiões e aranhas na Região Metropolitana de Londrina.

ORIENTAÇÃO

Outro fator, avalia, é o próprio conhecimento da população sobre o trabalho que é realizado no centro, que pode ser acionado nos sete dias da semana em todos os horários, pelo telefone (43) 3371-2244.

Ao buscarem pela ajuda, os cidadãos envolvidos em acidentes serão orientados a realizar a limpeza do local dos ferimentos com água e sabão, além de permanecerem calmos e em repouso. O objetivo é evitar o aumento da pressão arterial de modo que o veneno se espalhe mais rapidamente pelo corpo, alcançando órgãos vitais.

ESCORPIÕES

Os acidentes com escorpiões representam mais de 50% do total e envolvem principalmente três espécies – Tityus serrulatus (escorpião-amarelo), Tityus sp e o Bothriurus. Também são registrados inúmeros casos com aracnídeos não identificados.

Somente no ano passado, 912 acidentes com escorpiões foram atendidos, 54 a mais do que em 2022, ano que já havia registrado um boom nos atendimentos referentes a estes animais. “Hoje verifica-se a presença de escorpiões em residências, o que é relatado pela Secretaria Municipal de Saúde, além de muitos escorpiões em cemitérios, áreas com entulhos, terrenos com acúmulo de sujeira. Houve uma boa adaptação do escorpião nestes ambientes”, alerta o professor.

Diante deste cenário arriscado, principalmente nos períodos de clima quente, a recomendação é para o uso de EPIs (Equipamentos de Proteção Individual), como luvas e botas, durante a limpeza destes locais.

ARANHAS

Ataques de aranha armadeira aparecem em segundo lugar no ranking dos animais peçonhentos, segundo estimativa do CIATox.

Quando analisado o número total de atendimentos, o animal que aparece em segundo lugar é a aranha-armadeira (Phoneutria sp), com 1661 casos nos últimos cinco anos ocorridos no Paraná. O balanço da evolução anual registrou estabilidade entre 2020 (276) e 2021 (274), disparando entre 2022 (332) e 2023 (437). Ainda no grupo das aranhas, a aranha-marrom (Loxosceles intermédia) e a aranha-de-jardim (Lycosa) estiveram envolvidas em 351 e 230 casos, respectivamente.

COBRAS

Encontradas com mais frequência na zona rural, as cobras costumam atacar apenas quando se sentem ameaçadas, devendo ser deixadas de lado caso estejam apenas passeando próximo a residências e grupos de pessoas. No entanto, alguns casos ainda chamam a atenção, especialmente quando envolvem crianças.

Em novembro de 2023, um menino de dois anos morreu após ter sido picado na região da panturrilha por uma cascavel, em Panorama, interior do estado de São Paulo. O acidente ocorreu no acampamento de pesca em que a criança estava com a família.

De acordo com o professor Edmarlon, casos graves com este resultado são mais raros e estão relacionados com a quantidade de veneno despejado pelas cobras em um ataque, sendo proporcionalmente muito mais letal em crianças de até sete anos. “A quantidade é a mesma e as crianças estão mais expostas”, destaca.

No grupo das cobras, as jararacas (Bothropoides jararaca) são as principais causadoras de acidentes em todo o País, representando 627 casos atendidos pelo CIATox nos últimos cinco anos ocorridos no Paraná.

A segunda espécie mais frequente é a cascavel (Caudisona durissa), que demandou a orientação dos profissionais do CIATox em 234 casos ocorridos no estado nos últimos cinco anos, sendo 65 somente em 2023.

ENCONTRO EM MARÇO

A partir do dia 22 de março, a UEL irá receber pesquisadores e representantes de órgãos públicos, como o Instituto Butantan (SP), durante o I Encontro sobre Animais Peçonhentos do Norte do Paraná. As inscrições podem ser realizadas online e o prazo para a submissão de trabalhos científicos encerra no dia 20 de fevereiro.

Docente do Departamento de Biologia Animal e Vegetal (BAV-CCB) e membro da comissão organizadora, o professor Fernando Jerep destaca que o evento tem o objetivo de promover a aproximação de pesquisadores da região Norte do Paraná com estudiosos de diferentes estados brasileiros, além de estimular a cooperação em questões fundamentais acerca do envenenamento por animais. Ele também adianta que a programação será bastante ampla, englobando áreas como Conservação de Biodiversidade, Tecnologia, Biomedicina, Saúde Pública e Epidemiologia.

Divulgação.

“O objetivo é reunir as mais diferentes linhas de pesquisa com estes animais para termos um panorama sobre como está a questão no Norte do Paraná. Então, vamos ter órgãos públicos envolvidos, profissionais do setor agrícola, que geralmente estão em contato com estes animais, e do setor urbano também”, comenta.

O I Encontro sobre Animais Peçonhentos do Norte do Paraná é promovido pela seguintes instituições: Rede Vital Para o Brasil (RBV); Centro de Informação e Assistência Toxicológica; Instituto Butantan; Fundação Ezequiel Dias (Funed); Casa de Vital Brazil (CVB); Centro de Produção e Pesquisa e Imunológicos do Paraná (CPPI); Núcleo de Ofiologia e Animais Peçonhentos da Bahia (NOAP) e Centro de Estudos de Venenos e Animais Peçonhentos da Unesp de Botucatu. E conta com o apoio da Pró-reitoria de Extensão, Cultura e Sociedade (Proex) da UEL e Fundação Araucária.

(Com informações da Agência UEL)