O número de confirmações da Covid-19 em crianças entre 0 e 9 anos subiu de 71 para 163 em apenas um mês em Londrina. Um salto de 129% que acende um alerta sobre a importância das famílias manterem as medidas preventivas, em especial, o isolamento social. Na faixa etária dos 10 aos 19 anos, o salto foi de 112%, passando de 190 para 403 casos.

Imagem ilustrativa da imagem Casos de Covid-19 em crianças aumentam 129% em Londrina
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Nova doença pode estar associada à Covid-19 em crianças

Os dados consideram os boletins epidemiológicos da secretaria municipal de Saúde dos dias 10 de agosto e 10 de setembro. Há um mês, a cidade registrava um total de 3.799 confirmações da doença desde o início da pandemia (em março) e os números atualizados na quinta-feira (10) já alcançavam 7.493. Ou seja, quase quatro mil casos a mais.

A FOLHA conversou com o chefe da UTI (Unidade de Terapia Intensiva) Pediátrica do HU (Hospital Universitário), Arnildo Linch Junior. A unidade estava, na quinta-feira, com três crianças em isolamento aéreo com suspeita de Covid-19 devido ao quadro clínico de doença respiratória ou por terem tido contato com pessoas que testaram positivo para a doença.

O HU é referência para os atendimentos graves da Covid-19 em Londrina e para os demais 20 municípios que compõem a 17ª Regional de Saúde. Ao todo, são 19 leitos (nove de retaguarda) para atender crianças até 14 anos e 11 meses. No dia 10 de agosto, a taxa de ocupação de leitos pediátricos do SUS (Sistema Único de Saúde) e privados estava em 58%. Na mesma data deste mês, houve um aumento para 63%.

O pediatra comenta que o perfil de admissão na UTI varia a cada semana, mas diz que normalmente são recém-nascidos de mães que tinham a confirmação da doença, ou que apresentavam sintomas respiratórios ou tiveram contato com outras pessoas positivas.

CONTATO SOCIAL

No entanto, o cenário mudou nas duas últimas semanas. “Percebemos uma característica diferente com o aumento do número de crianças com maior idade, entre 5 e 10 anos, que vieram para o hospital ou com suspeita ou com história de contato com pacientes adultos que testaram positivo. Inclusive, tivemos uma criança com critérios de gravidade que precisou vir para a UTI ficar entubada, mas que teve um bom desfecho”, diz.

O pediatra destaca que os casos citados se referem a crianças que internaram com critério de gravidade, mas cita que há muitos casos nesta mesma faixa etária que chegam no pronto-socorro e, que por conta do estado de saúde estável, vão para casa ficar em isolamento.

“Isso provavelmente já está indicando um aumento do contato social dessas crianças. É o que a gente tem percebido na prática. Alguns cuidados têm sido menores agora. A gente vê crianças frequentando ambientes sociais, inclusive praças públicas e parques, onde ficam em contato com outras crianças”, alerta.

EVOLUÇÃO E RECUPERAÇÃO

De todas as crianças que são internadas na UTI do HU, em torno de 40% evoluem de forma mais grave, ou seja, precisam ser entubadas ou apresentam quadro de pressão baixa, com necessidade de usar medicação.

Até o momento, nenhum óbito de crianças suspeitas ou confirmadas para Covid-19 foi registrado em Londrina, mas em Arapongas (Região Metropolitana de Londrina), uma menina de 11 anos perdeu a vida após contrair a doença. Ela chegou a ser internada, mas faleceu no dia 15 de agosto.

No Brasil, um dos casos mais recentes aconteceu no dia 9 deste mês. Um bebê de cinco meses que havia testado positivo para o novo coronavírus morreu no Rio Grande do Sul. Segundo a administração municipal de Santa Maria, a criança já apresentava outras doenças de saúde, assim como a criança de Arapongas.

O chefe da UTI pediátrica do HU explica que a diferença das internações entre adultos e crianças é apenas numérica. “Há menos crianças internadas com essa doença, mas uma vez que elas internam com critérios de gravidade, se comportam muito semelhante aos adultos. Vão ter comprometimento de outros órgãos que não é só o pulmão, podem ter alteração de pressão arterial e quanto mais tempo permanecerem nessas condições, teoricamente, maior é a chance de ter um desfecho ruim”, comenta.

ESPECULATIVO

A pandemia do novo coronavírus vem gerando uma grande "onda" de informações. Uma delas é de que as crianças são assintomáticas, isto é, não desenvolvem sintomas ou apresentam sinais leves. Sobre isso, o chefe da UTI pediátrica do HU de Londrina, Arnildo Linch Junior, diz que, de fato, essa é uma particularidade do vírus Sars-CoV-2. Entretanto, ele alerta que o risco de as crianças contraírem o vírus é igual ao dos adultos, o que também não as isenta de ter uma forma grave da doença.

“É o que a gente vê na prática. Aquela criança que já tem uma doença anterior, como asma, diabetes ou má formação cardíaca, pode desenvolver a forma mais grave, porém, nada impede de uma criança também sem nenhuma doença também tenha complicações, apesar de ser menos frequente quando comparado com adultos”, afirma.

O pediatra reforça que por se tratar de um vírus novo os estudos têm sido contínuos, com base nos tratamentos dos pacientes. “Na literatura, temos tido publicações diárias sobre a Covid-19 e em relação à criança é tudo muito especulativo ainda. Provavelmente, a multiplicação do vírus após ele ser adquirido possa ser menor nas crianças, assim como a manifestação dele em outros órgãos como pulmão, por exemplo”, considera.

SINAL DE ALERTA

A orientação para que as famílias busquem atendimento médico para as crianças segue os mesmos critérios dos adultos, como febre e sintomas respiratórios, com exceção de um detalhe: a presença de vômito, diarreia ou dor abdominal.

O especialista ressalta que em crianças, esses sintomas podem caracterizar uma complicação. “Outro sinal pode ser febre associada a uma palidez, um estado geral de saúde debilitado, com dificuldades para alimentação ou taquicardia. Sempre que surgir esses primeiros sintomas é importante buscar ajuda médica”.

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