A quarta dose contra Covid pode trazer alguma reação específica?
Especialistas respondem essa e outras perguntas e ressaltam que não há motivo para considerar que os imunizantes são perigosos
PUBLICAÇÃO
terça-feira, 21 de junho de 2022
Especialistas respondem essa e outras perguntas e ressaltam que não há motivo para considerar que os imunizantes são perigosos
Samuel Fernandes - Folhapress
São Paulo - Com a recomendação da quarta dose de vacina contra Covid-19 para os maiores de 40 anos, podem surgir dúvidas acerca de efeitos colaterais dos imunizantes.
Afinal, quais são as reações esperadas para esses produtos? A quarta dose -ou segundo reforço- pode trazer alguma reação específica? A Folha de S.Paulo conversou com especialistas para responder a essas e a outras perguntas comuns.
Quais reações são esperadas quando alguém se vacina contra a Covid?
Os principais efeitos das quatro vacinas utilizadas no Brasil - Coronavac, Janssen, Pfizer e Astrazeneca - são dor no local da aplicação, sensação febril, mal-estar, dor no corpo e quadro gripal. Normalmente, esses sintomas desaparecem em até 24 horas, no máximo podendo durar dois dias.
Reações como essas já são conhecidas para outros imunizantes e remédios. "Sugiro ler a bula de alguns antitérmicos para ver as reações que alguns deles podem causar", afirma Isabella Ballalai, vice-presidente da Sbim (Sociedade Brasileira de Imunizações).
Além disso, não são todas as pessoas que apresentam esses sintomas. De acordo com a bula dos imunizantes, a maior parte desses sintomas mais leves pode ser sentida em torno de 10% daqueles que utilizam os medicamentos.
"A maioria das pessoas não tem nada, e são reações absolutamente normais e significam simplesmente que o sistema imune está reagindo com a vacina", diz Cristina Bonorino, imunologista e professora titular da UFCSPA (Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre).
Algumas reações mais incomuns podem ocorrer. Consta da bula da vacina da Pfizer, por exemplo, que de 0,1% a 1% de pessoas que utilizaram o imunizante apresentaram insônia, cansaço físico intenso, suor noturno ou urticária (alergia da pele com forte coceira).
Assim como a Pfizer, as outras três vacinas podem ter reações adversas muito incomuns. "Nenhuma delas causa problemas importantes", afirma Marcos Boulos, professor de infectologia da Faculdade de Medicina da USP (Universidade de São Paulo).
A quarta dose de uma vacina pode trazer algum efeito colateral diferente de outras aplicações?
Não existem evidências de que uma quarta dose resulte em efeitos diferentes dos que já foram vistos anteriormente. Dessa forma, mantém-se o que já se sabe e é documentado nas bulas dos produtos.
"Normalmente, a cada dose de vacina, não só da Covid, a chance de evento adverso é menor. A primeira dose normalmente é a mais reatogênica", diz Ballallai.
Casos em que esses efeitos podem acontecer em doses adicionais, como na quarta aplicação, são normalmente quando se utiliza uma vacina diferente das outras já aplicadas -esquema chamado de heterólogo.
"O esquema heterólogo pode ter mais eventos adversos, mas são reações leves", acrescenta Ballallai.
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Por que as vacinas podem causar efeitos colaterais?
Muitas vezes, entende-se que sentir alguma reação após a vacinação significa que o imunizante está funcionando. A realidade, no entanto, não é tão simples assim.
"O fato de ter um efeito adverso em geral é um indicativo de que a vacina está funcionando, mas, se não sentir isso, não significa que a vacina não funciona", afirma Bonorino.
Ela explica que cada pessoa tem a chamada resposta inata, "que é uma inflamação inicial que precede toda a resposta que vai gerar memória imunológica". Acontece que algumas pessoas podem ter maior sensibilidade a sentir os sintomas e outras nem tanto.
Outro fator que influencia o surgimento de reações é a tecnologia utilizada em cada vacina. Boulos afirma que aquelas com a plataforma de adenovírus - em que se utiliza um vírus que transporta o código genético do Sars-CoV-2, patógeno que causa a Covid-19 - são as que podem causar maiores efeitos adversos.
"As pessoas que mais reclamam provavelmente tomaram as vacinas de adenovírus. Elas são aquelas que se injeta um vírus específico, que apesar de ele não causar quase nada, pode ter alguns efeitos colaterais pequenos", afirma o infectologista, reiterando que os efeitos, quando sentidos, ainda são bem leves.
No Brasil, as vacinas da Janssen e da Astrazeneca são produzidas com essa tecnologia. Além da plataforma de adenovírus, existe a tecnologia de RNA mensageiro (Pfizer) e de vírus inativado (Coronavac). Elas também podem apresentar efeitos adversos, mas mesmo assim ainda são muito leves e em grande parte dos casos desaparecem logo.
Existem efeitos colaterais mais graves?
De uma maneira geral, as vacinas utilizadas em doses de reforço têm perfil parecido em causar efeitos adversos comuns e que não duram mais de dois dias. A vacina da Janssen tem um histórico de causar uma rara síndrome relacionada a coágulos sanguíneos potencialmente mortais. Situação parecida já foi documentada para a Astrazeneca.
As ocorrências fizeram com que o FDA (Agência de Alimentos e Drogas dos Estados Unidos) limitasse o uso da vacina da Janssen no país, mas ela ainda continua disponível para aplicação. No Brasil, a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) avaliou que os benefícios do imunizante superam os riscos, que são muito raros.
Na bula da vacina, a Janssen diz que os casos são raramente documentados, mas é importante procurar atendimento médico e informar ao profissional de saúde que tomou a vacina ao sentir sintomas como dores de cabeça fortes ou persistentes, convulsões, alterações do estado mental, visão turva, hematomas inexplicáveis fora do local da vacinação que aparecem em alguns dias, pequenas manchas arredondadas na pele fora do local da vacinação, falta de ar, dor no peito, dor ou inchaço nas pernas ou dor abdominal persistente.
Na bula também é dito que é possível reportar a presença de efeitos colaterais por meio do sistema nacional de notificação.
Para Ballallai, a síndrome é muito rara e a vacina, assim como as outras aprovadas, tem um alto perfil de segurança documentado por meio dos estudos clínicos e também pelas muitas doses que já foram aplicadas.
"Até agora, para todas essas vacinas, o perfil de segurança é excelente com raríssimos casos de eventos adversos que consideramos graves. Não há motivo nenhum para considerar que as vacinas contra a Covid são perigosas", afirma.
Ela também diz que nem todos os efeitos adversos, principalmente os mais graves, têm relação causal com as vacinas. Nestes casos, é importante a realização de investigações a fim de averiguar se tem alguma associação do imunizante com a reação.
Os efeitos colaterais indicam que as vacinas não são seguras?
Como explicado acima, existem algumas razões para o aparecimento de eventos adversos. Uma delas é a tecnologia utilizada pela vacina e outra é a indicação de que o sistema imunológico está reagindo ao imunizante.
Nenhum evento adverso, no entanto, indica que as vacinas não são seguras. Um indício disso são os estudos clínicos feitos que medem a segurança dos imunizantes.
Outro grande indicativo da segurança desses produtos utilizados atualmente contra a Covid-19 é que eles já tiveram uma alta dose de aplicação, mas com pouquíssimos relatos de reações graves.
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