Imagem ilustrativa da imagem Morro do Macaco: frio, aranhas e esperança de dias melhores
| Foto: Micaela Orikasa - Grupo FOLHA

De longe, duas lindas paineiras-rosa, altas e floridas, atraem os olhares. É época de floração e o rosa pinta o chão entre o asfalto e um caminho de terra e pedras, mas a sombra das copas largas não chega no lado baixo do Morro do Macaco, comunidade que se instalou próximo ao Córrego Sem Dúvida, nos fundos dos bairros Maria Cecília, Aquiles Stenghel e Primavera, na zona norte de Londrina.

Em dias ensolarados, não há uma sombra para as 30 casas adaptadas no terreno aberto, ao lado de uma quadra de esportes, também castigada pelo sol. São famílias que tiveram que descer o Morro porque já não havia mais espaço na "parte alta" e só nas últimas três semanas chegaram mais cinco moradores.

“As pessoas perderam o emprego e não têm como pagar aluguel. Quando eu cheguei eram só quatro casas, mas foi aumentando muito e as pessoas continuam chegando. Lá em cima são mais casas. Deve ter hoje umas 230 famílias”, diz Luciane Guimarães de Jesus, 34, apontando para o alto do Morro. Ela e o marido são pastores na comunidade e circulam com muita intimidade pelos caminhos de terra, contando um pouco da história de cada um.

Por lá, ninguém sabe o porquê do nome “Morro do Macaco”. Todos se arriscam em dizer que é pela presença de macacos na mata, mesmo que em três anos de existência da comunidade nenhum deles tenha aparecido por lá. “O que tem de monte é aranha. Das grandes e peludas mesmo. Elas estão por toda parte e não morrem com veneno. Elas vêm da mata”, comenta.

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OPORTUNIDADE PARA TRABALHAR

As aranhas dão medo, mas não tiram o sono de quem não tem o básico dentro de casa. “Eu fazia diárias e ganhava R$ 200 por mês, mas minha patroa pegou ‘corona’ e agora não posso mais ir. Na pandemia, o pessoal foi dispensando as diaristas e está difícil arrumar serviço”, conta Tânia Mara Pereira. Ela mora com os dois filhos, Maria Eduarda, 7, e Mateus Eduardo, 15, e tenta sobreviver com as doações de roupas e alimentos desde que o marido saiu de casa há quatro meses. “Alimento a gente está se virando, mas emprego está muito difícil. Se eu pudesse pedir algo, seria uma oportunidade para trabalhar e ter uma renda”, afirma, ao mostrar a geladeira com a comida comprada por uma filha que mora em outra região da cidade.

Tânia Mara Pereira: “Alimento a gente está se virando, mas emprego está muito difícil. Se eu pudesse pedir algo, seria uma oportunidade para trabalhar e ter uma renda”
Tânia Mara Pereira: “Alimento a gente está se virando, mas emprego está muito difícil. Se eu pudesse pedir algo, seria uma oportunidade para trabalhar e ter uma renda” | Foto: Micaela Orikasa - Grupo FOLHA

“Quando ela vem me visitar, traz um pedaço de carne e umas frutas. É o que ajuda, fora as doações. A sorte é que ela veio ontem e por isso a geladeira está assim, com comida”. Enquanto Pereira mostrava a geladeira, Maria Eduarda comia um prato de macarrão no café da manhã. Ela divide um espaço de dois cômodos com a mãe e o irmão, improvisado com tábuas de madeira.

PREOCUPAÇÃO COM A MAIS NOVA

Algumas casas foram levantadas com tijolos comprados pelos moradores, com as reservas que tinham dos últimos meses de trabalho. Na casa de Talita Rodrigues da Silva, as paredes são metade de madeira e metade de tijolos. Aos 26 anos, está grávida do sexto filho. A família inteira sobrevive do Bolsa Família enquanto o esposo busca trabalho. “Nossa renda tem sido de R$ 375 por mês. Comida no almoço e janta não falta porque sempre chega alguma ajuda, mas carne é uma vez por mês e quando dá”, diz.

Talita Rodrigues da Silva, grávida do sexto filho: "Antes estava ruim, mas agora está pior"
Talita Rodrigues da Silva, grávida do sexto filho: "Antes estava ruim, mas agora está pior" | Foto: Micaela Orikasa - Grupo FOLHA

A preocupação dela no momento é com a chegada do frio. Ela diz que no Morro do Macaco venta bastante e faz muito frio. Sobre a pandemia, respondeu: “antes estava ruim, mas agora está pior. Se eu pudesse fazer um pedido seria algumas coisinhas para a Débora Lorelay. Diferente dos meus outros filhos, para ela eu não consegui comprar nada. Tenho apenas uma sacola de roupas doadas”, desabafa, passando a mão na barriga de oito meses.

A mais nova integrante do Morro do Macaco não imagina como é estar do lado "de fora". O que todos esperam, especialmente Silva, a mãe, é que ela encontre por aqui um lugar aquecido, acolhedor e humano. Um lugar onde não há espaço para fome e que o colorido da vida exista além das paineiras-rosas no alto do Morro.

SERVIÇO - Quem puder ajudar os moradores do Morro do Macaco com doações de agasalhos, calçados, alimentos e materiais de construção pode entrar em contato com o CJV (Centro Juvenil Vocacional) pelo telefone: (43) 3327-0123 ou 99964-3355.

Morro do Macaco, na zona norte de Londrina
Morro do Macaco, na zona norte de Londrina | Foto: Micaela Orikasa - Grupo FOLHA

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