No Carnaval de 2003, a Unidos do Jardim do Sol levou ao Autódromo desfile com o tema "O samba faz escola"
No Carnaval de 2003, a Unidos do Jardim do Sol levou ao Autódromo desfile com o tema "O samba faz escola" | Foto: César Marinho



O carnavalesco Joaquim Braga aponta como um dos fatores que levaram ao desmonte das escolas de samba de Londrina e ao fim dos desfiles a exclusão do Carnaval da lista de prioridades das administrações públicas. O fomento e os investimentos, ressalta ele, sempre dependeram da opinião pessoal de cada prefeito. "O Carnaval, ano a ano, nunca foi pontuado como prioridade nas políticas públicas. Entra um gestor que na concepção pessoal dele não gosta de carnaval e aí decide não investir", queixa-se.

Com o Promic (Programa Municipal de Incentivo à Cultura), avalia o carnavalesco, a destinação de verba melhorou, mas antes disso, Braga lembra os altos e baixos vividos por quem se dispunha a trabalhar pelo Carnaval em Londrina. "De 2000 para trás, não tivemos política pública de incentivo. Todo ano tínhamos que ir atrás do prefeito com o pires na mão e dependíamos da boa vontade dele. Por isso o carnaval era como uma gangorra. Em alguns anos era muito bom, em outros, não muito."

Produtor cultural e diretor de Carnaval da Escola de Samba Explode Coração, a única ainda ativa no município, Benê Macedo acredita que a falta de verba foi o principal motivo para o fim dos desfiles. "Antes existia uma linha para os desfiles de escola de samba. Era um dinheiro específico para isso. E aí aconteceu que acabaram transformando essa linha em uma linha de carnaval, no geral."

Com a fragmentação da verba, opina Macedo,fica difícil reorganizar os desfiles. "Hoje, para fazer um carnaval bacana, que atraísse a comunidade, não daria para pensar em menos de R$ 500 mil", calcula. A verba total destinada pelo Promic aos projetos carnavalescos atualmente é de cerca de R$ 250 mil. "É muito difícil voltar a pensar em desfiles das escolas de samba em Londrina", afirma.

"As pessoas criticam quando um gestor destina verba para o Carnaval. Muita gente considera o investimento desnecessário, mas isso é hipocrisia", rebate Macedo. "A verba é carimbada. Se não for gasta no Carnaval, não pode ir para a saúde. E se pegar a verba de Londrina para o Carnaval hoje, de R$ 250 mil, dividida pelos 365 dias do ano, não dá nem R$ 700 por dia. Não paga nem a dipirona gasta no sistema de saúde."

Apesar do fim dos desfiles, a Explode Coração, bicampeã do carnaval londrinense, faz apresentações em eventos e durante três anos conduziu o projeto cultural "O samba atravessa Londrina", beneficiado pelo Promic. "Neste ano faríamos a quarta edição durante o carnaval, mas o projeto não foi selecionado. A gente leva para todas as regiões da cidade todos os elementos da avenida, durante cinco horas. A ideia é devolver o gosto pelo Carnaval para as pessoas. As pessoas acham que porque acabaram os desfiles não tem mais escola de samba." Neste ano, a programação da escola será toda fora de Londrina.

Segundo o secretário municipal de Cultura, Caio Júlio Cesaro, há uma demanda pela retomada dos desfiles das escolas de samba em Londrina e o tema já foi tratado em uma reunião aberta com a comunidade. O município, disse ele, reconhece a importância do evento, mas lembra que o custo é alto. "É um processo que precisa ser retomado e, se for para fazer, precisam ações ao longo do ano e retomar nas comunidades, começar pequeno. Nossa proposição foi dar continuidade às discussões para ver como podemos viabilizar. Em outros municípios, isso se dá por meio de parceria entre as escolas e a iniciativa privada", destacou Cesaro.

Neste ano, dos cinco projetos de carnaval inscritos no Promic, três foram selecionados: o Bailinho do Plantão, comandado pelo elenco de palhaços do Plantão Sorriso; o Bloco Folia da Cidadania e o Bloco Bafo Quente. Os R$ 250 mil destinados à linha Carnaval do Promic representam em torno de 5% do orçamento global do programa. "O edital não direciona para um tipo de ação específica de carnaval, se é bloco, marchinha ou escola de samba. (O Promic) recebe a proposta, analisa e seleciona aqueles que melhor atendem aos critérios do edital", explicou Cesaro.

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