Bernardo e Maria Lúcia Trindade se conheceram como foliões no Country Club, em 1971
Bernardo e Maria Lúcia Trindade se conheceram como foliões no Country Club, em 1971 | Foto: Saulo Ohara


"Quanto riso, oh, quanta alegria! Mais de mil palhaços no salão", canta Bernardo Trindade, 74, relembrando as festas de Carnaval no Londrina Country Club. O local chegou a receber cinco mil pessoas em uma noite de folia, em uma delas, no fim da década de 1960, o contador aposentado encontrou Maria Lúcia Trindade, 73, sua esposa há 48 anos. O Carnaval dos clubes sociais mudou muito desde então, mas as memórias da diversão e do encontro ficaram.

Bernardo ia sozinho, mas Maria Lúcia Trindade estava acompanhada de 13 irmãos. Lá, todos se encontravam. "O Carnaval era muito bom, vinham amigos meus de São Paulo para passar Carnaval em Londrina. Logo no começo, tinha o conjunto do Niquinho, que tocava na sede antiga, também tinha a Orquestra Continental de Londrina. Era muito gostoso", recorda Bernardo.

Conforme as mudanças de espaços, a festa também ganhava nova cara. "Primeiro era na sede antiga, depois foi para o ginásio Pandeirão e aí inauguraram a sede nova, tinha até camarote, começou a ficar elaborado, vieram Wilson Simonal e Maria Alcina, artistas conhecidos", recorda Bernardo. "No Pandeirão foi uma loucura, mas na sede nova foi também, nos camarotes todo mundo se juntava, era uma delícia", acrescenta Maria Lúcia.

A folia oficial durava quatro dias, começava às 23h e terminava às 5h, mas a bagunça se estendia. "Antes de ir a gente já marcava a saideira na casa de um amigo, porque a turma era muito grande. Ficávamos a noite toda no clube e, na saída, a gente tomava café na casa de outro", conta a corretora aposentada. Se tivesse matinê para o público infantil, eles entravam também.

Com as corridas com Rei Momo, muita bebida e lança-perfume, que ainda não era proibido, o salão enchia de londrinenses animados. "Naquele tempo era um Carnaval muito família, o povo todo se conhecia, colocava as mesas juntas, era muito bom. Era paquera também, tinha muita moça bonita que ia, não é porque eu conheci minha mulher lá não, até porque ela nem era tão bonita assim", provoca a esposa e os dois riem do comentário.

Ela, fantasiada de índia, passou por Bernardo. "Eu estava com o irmão dela, falei: 'vou casar com essa Índia', ela estava fantasiada, toda metida. Falei e casei. Não foi amor de Carnaval", brinca. Nunca mais foram desacompanhados desde então. "Gostamos tanto, que nosso filho nasceu no Carnaval de 1972", ri o aposentado.

Apesar da animação, atualmente os dois não participam mais e apresentam seus motivos. "Eu acho que o Carnaval perdeu um pouco a diversão, não sei porque as pessoas pararam de participar, aquelas grandes músicas acabaram, ficou chato, hoje você vai e escuta sertanejo", critica Bernardo, mas entende a transição de gerações. "Hoje em dia tem muito mais festa, naquela época não, então quando chegava o Carnaval era para arrebentar."

Sob outra perspectiva, Maria Lúcia acrescenta sua razão. "Se eu fosse mais jovem, com certeza eu iria, mas na nossa idade não dá mais, nós estamos cansados, não temos mais pique para isso", argumenta. Bernardo concorda, passou por um período difícil nos últimos anos, mas mantém a juventude carnavalesca de quem não vai deixar nunca de ser um grande folião. "Eu gostaria muito que voltasse aquele: 'quanto riso, quanta alegria'", diverte-se cantando. "Isso não morre nunca", ri.

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