O desânimo dos professores com o magistério fica evidenciado em alguns itens da pesquisa Profissão Docente. Entre os mais de 2.000 docentes entrevistados, 49% não recomendam a profissão às novas gerações, apesar de 57% deles terem entre 11 e 30 anos de docência e 7%, mais de 31 anos de carreira.

Além de não indicarem a profissão, 33% afirmam total insatisfação com a docência em razão da desvalorização (48%), má remuneração (31%), rotina desgastante (15%) e falta de infraestrutura e recursos (13%).

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No quesito remuneração, outro dado da pesquisa indica que os salários pagos aos professores nem sempre são suficientes para o sustento deles ou de suas famílias. A grande maioria dos docentes tem nesse trabalho a principal renda familiar e, do total de entrevistados, 29% são obrigados a fazer atividades extras para reforçar o orçamento doméstico e 37% dão aula em mais de uma escola.

Os professores de disciplinas que têm poucas aulas por semana, como educação física e artes, são os maiores prejudicados pelas condições de trabalho da docência porque eles têm que trabalhar em várias escolas e com a carga horária muito alta para conseguir garantir um salário no final do mês, observa a gerente de Projetos do movimento Todos Pela Educação, Caroline Tavares. "Pensar em melhoria da educação sem que o professor tenha tempo para investir na sua capacitação ou se dedicar a atividades extra classe é impossível", avalia.

A remuneração média no País, de acordo com informações repassadas pelos próprios professores, é de R$ 4.451,56. Segundo a pesquisa, um em cada três docentes têm contrato com carga horária abaixo de 20 horas semanais, o que pode interferir nos rendimentos no final do mês e no cumprimento do um terço da carga horária prevista na Lei do Piso do Magistério para trabalhos extra classe.

Entre os professores ouvidos, 58% afirmaram ter tempo remunerado fora da sala de aula, mas apenas 30% deles têm um terço ou mais do total da sua carga horária para atividades como planejamento de aulas.

Afastado desde maio das salas de aula por problemas de saúde, o professor de geografia Emerson Henrique dos Santos trabalha em quatro escolas e mesmo assim não está livre das dificuldades financeiras. "Tinha plano de saúde, mas parei de pagar. Não aguentei manter", comentou.

"Eu recomendo o magistério. Não estou dando aulas no momento, mas no ano que vem quero voltar. Já aconteceu muita coisa bacana comigo por ser professor. Mas é preciso que haja mudanças nas políticas públicas", afirmou Santos.

"Quando os alunos vêm perguntar sobre a profissão, a gente fala que a educação é importante, mas a gente não tem motivação para incentivar os alunos a seguirem a carreira nessa conjuntura atual. Talvez possa mudar. É o que a gente busca", disse o professor de geografia Vanderlei José Ferreira.(S.S.)