Professor de geografia da rede estadual de ensino, Emerson Henrique dos Santos está na carreira há 22 anos, mas em maio afastou-se das salas de aula por problemas de saúde. As más condições de trabalho fizeram com que ele desenvolvesse depressão e síndrome do pânico e, atualmente, cumpre funções administrativas nas quatro escolas em que deveria lecionar. Santos não estava entre os mais de 2.000 docentes ouvidos na pesquisa, mas compartilha das mesmas dificuldades e anseios apontados pelos colegas. "A educação tem que ser uma questão de políticas públicas. Os políticos não podem usar a educação para a promoção deles. Nos faltam formação, recursos tecnológicos e ambiente adequado", afirmou.


LEIA TAMBÉM:

- Desânimo, sobrecarga de trabalho e baixos salários
- 'Investimos bastante', afirma secretária

Santos reivindica a formação continuada e a participação ativa na elaboração de políticas públicas e aponta a questão salarial como um dos itens mais importantes para a valorização da docência. "Não trabalhamos só por amor. Temos que ter uma boa valorização. Quando não tem material didático, acabamos comprando com o nosso dinheiro. Se quer ser um professor um pouco melhor, tem que ter o seu material. Mas estamos há três anos sem reajuste nenhum", ressalta.

A redução da hora-atividade nas escolas da rede estadual no Paraná, que a partir de 2016 baixou de 33% para 30%, disse Santos, reduziu os ganhos da categoria e obrigou os professores a trabalharem em mais escolas como forma de compensar a perda salarial. "Esse é um dos fatores que estão fazendo com que muitos professores adoeçam."

REVESES
Também professor de geografia, Vanderlei José Ferreira acrescenta a suspensão do PDE (Programa de Desenvolvimento Educacional) à lista de reveses sofridos pelos docentes da rede estadual paranaense. O programa era pré-requisito para que os professores conseguissem avançar para o nível três na carreira, ganhando em qualificação e, também, financeiramente. "O PDE era uma formação continuada bastante importante. Nos tirava um ano da sala de aula para estudar", avaliou. "Embora tenha compensação para os professores que têm mestrado e doutorado, não há como conseguir a progressão na carreira sem o programa."

Ferreira iniciou a docência há 17 anos, mas também está fora das salas de aula por problema de saúde. "Estamos sofrendo mais com a questão salarial em razão do aumento da inflação, da crise econômica e do governo, que não cumpriu a data-base nos últimos três anos. Nossa categoria está indignada, doente, entristecida, desmotivada."

"A ideia especificamente para essa pesquisa é que ela ressoe para a comunidade, de um modo geral, para que a sociedade entenda com mais clareza qual é o retrato da educação brasileira na visão dos professores", destacou a gerente de Projetos do Todos Pela Educação, Caroline Tavares. Mas os autores do estudo também querem que os dados levantados cheguem ao poder público, à academia, ao terceiro setor e a outras organizações da sociedade civil envolvidas com a questão da melhoria da educação. "A ideia é trazer clareza e transparência a esse processo para que a gente não se esqueça, quando estiver pensando na melhoria para a educação, que isso tem que partir de quem está lá na ponta, executando essas políticas", defendeu. (S.S.)