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Política 5m de leitura

Um retrato da divisão do poder no Congresso Nacional

Pesquisa de órgão intersindical aponta as 100 principais lideranças no legislativo em 2019, Paraná tem número expressivo

ATUALIZAÇÃO
31 de janeiro de 2020

Pedro Moraes - Grupo Folha
AUTOR

O retorno das atividades parlamentares no Congresso Nacional já está marcado. Na próxima segunda-feira (3), será feita a inauguração da segunda Sessão Legislativa Ordinária da 56ª Legislatura, para um ano que tem como desafio avançar nas reformas e debater temas áridos, como a decisão sobre cumprimento de pena após condenação em segunda instância. No ano passado, as tarefas não foram menores e nem de responsabilidade inferior. Foram aprovadas a Reforma da Previdência, o Pacote Anticrime e os fundos eleitoral e partidário. O movimento nos bastidores, o duelo de forças políticas e a influência exercida pelos congressistas foram necessários para que o Diap (Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar) lançasse a 26ª edição do estudo “Os Cabeças do Congresso Nacional”, em que são listadas as 100 principais lideranças do legislativo e apresentadas uma série de estatísticas sobre a divisão do poder. “Criamos uma metodologia própria em que medimos a influência no Congresso a partir de aspectos institucionais, sobre as reputações e as decisões nas quais estão envolvidos”, explica o jornalista Antônio Queiroz, coordenador-geral da pesquisa e idealizador do projeto.

Como resultado, a pesquisa chegou ao panorama sobre a divisão do poder de forma desigual. Alguns estados e partidos permanecem em posições de liderança, enquanto outros mostram que precisam buscar por protagonismo no jogo político – o número completo dos “cabeças” por estado e região figuram no quadro que ilustra a matéria. O Paraná ocupa uma posição de destaque, com oito parlamentares – número superior ao Rio de Janeiro e Minas Gerais, dois importantes colégios eleitorais, ambos com sete cada. “Os nomes apontados pela pesquisa são de políticos experientes e entre os novatos estão pessoas ligadas ao governo. Um peso bastante expressivo. O retrato da pesquisa tem seu valor pelos critérios”, avalia Elve Censi, professor do Departamento de Filosofia da UEL (Universidade Estadual de Londrina).

 

NOMES

A lista do Diap apresenta entre os representantes paranaenses: Ênio Verri (PT), Filipe Francischini (PSL), Filipe Barros (sem partido), Gleisi Hoffmann (PT), Gustavo Fruet (PDT), Ricardo Barros (PP), Rubens Bueno (Cidadania) e Sérgio Souza (MDB) – todos deputados federais. No método da pesquisa, os parlamentares são divididos em cinco grandes categorias: Debatedor, Articulador/Organizador, Formulador, Formador de opinião e Negociador. “Desde que entrei no legislativo, ainda como vereador em Londrina, tenho a opinião que preciso ser fiel aos meus projetos e crenças. Por isso, me mantenho aberto ao diálogo”, avalia Filipe Barros, que é colocado na categoria Negociador, por sua atuação no primeiro ano em Brasília, como articulador do PSL, do qual saiu para ajudar o presidente Jair Bolsonaro a fundar a própria legenda, o Aliança Pelo Brasil.

Já Ênio Verri é lembrado por sua capacidade de articulação. Em seu segundo mandato como deputado federal, o político maringaense já passou pela Assembleia Legislativa e pela secretaria de Planejamento do Estado na gestão de Roberto Requião. O parlamentar acredita que esta estratégia é fundamental para a obtenção de resultados do seu trabalho. “A organização é uma característica que, em geral, redunda em mobilizações mais exitosas e a articulação é uma habilidade basilar da política. Acredito que construí essas duas competências ao longo dos meus mais de 40 anos de atividade política”, afirma o deputado, que avalia a pesquisa de forma positiva. “Ela é útil para sinalizar aos parlamentares como a postura dele é percebida no Congresso Nacional”, opina.

 

BANCADA

Apesar da potencial influência paranaense apontada pelo estudo, o organizador critica que os resultados voltados para o Estado estão aquém das possibilidades. “Com toda a certeza, se houvesse um movimento suprapartidário proposto pela bancada do Estado, as emendas com recursos dariam um novo panorama para o Paraná”, questiona Queiroz. Parte do time do Paraná, Filipe Barros concorda com a crítica. “Este é um trabalho que deve ser feito pelo governo no estado e acredito que foi iniciado no ano passado. Vejo que o governador Ratinho Junior (PSD) tem essa preocupação e deva ampliar o diálogo neste sentido”, aposta Barros.

Por parte do Senado, o Paraná ficou sem o nome de um dos políticos mais recorrentes: Alvaro Dias (Pode). O senador havia sido citado ininterruptamente desde 2011 até 2018, mas, segundo o organizador do estudo, o político perdeu força. “O senador se tornou um verdadeiro franco atirador, o que fez ele perder o papel que tinha. No entanto, outro nome vem ganhando um papel de destaque. É bem possível que o senador Oriovisto Guimarães esteja entre os 100 mais influentes no próximo ano. Seu trabalho tem tido excelente repercussão no Congresso”, avalia Queiroz.

EXPERIÊNCIA

Num olhar mais amplo sobre o Congresso, a pesquisa chega a conclusões que retratam a atual cena política nacional. Apesar de a lista dos 100 mais influentes parlamentares trazer rostos já muito conhecidos, a surpresa é a da ascensão de novatos em postos decisivos. Este é o caso do paranaense Felipe Francischini como presidente da CCJC (Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania) da Câmara. “Este era um posto tradicionalmente ocupado por ex-presidentes da casa e medalhões, vê-lo no posto mostra uma mudança das estruturas de poder”, avalia Antônio Queiroz, que resume o clima no parlamento. “Temos uma Câmara que só funciona porque tem um presidente experiente, que é o caso do Rodrigo Maia (DEM-RJ), enquanto no Senado as coisas só se mantêm estáveis graças à experiência dos que cercam Davi Alcolumbre (DEM-AP)”. Um retrato da política brasileira, que alguns insistem em chamar de nova.

BOX

Raio-X da liderança 

Alguns dados apresentados pelo estudo apontam o funcionamento das duas Casas. A maioria dos listados entre os 100 é formada por parlamentares de 1º mandato – são 36 entre deputados e senadores. Já a participação feminina também é retratada. Das 77 deputadas e 13 senadoras da atual legislatura, apenas oito deputadas e duas senadoras integram o grupo dos mais influentes do Congresso Nacional.

Já a posição institucional ocupada pelos parlamentares no Congresso também demonstra ter influência entre os que mais se destacam: 59 são líderes ou vice-líderes de partido, enquanto 21 atuam no comando de comissões ou nas mesas diretoras. “Esses fatos mostram que o poder dentro dos partidos ainda tem grande ascendência sobre o próprio legislativo”, aponta o cientista político Elve Censi.

O posicionamento dos partidos entre as 100 principais lideranças também figura como é a divisão no Congresso. O partido com maior número de influentes é o PT, com 16 parlamentares, seguido pelo MDB, com 10, PSDB com 9 e o PSL com 8. “Com tudo o que foi apurado após a Lava Jato, o PT conseguiu manter sua influência no legislativo. Já o DEM e o PP, ambos com sete parlamentares na lista, mostram que mantêm suas relevâncias”, pontua Censi.

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