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Política 5m de leitura

Mais da metade dos municípios do Paraná estão com contas no vermelho

Panorama é apontado em um estudo da CNM, que pede medidas para contornar a crise; prefeitos citam cenário insustentável

ATUALIZAÇÃO
01 de setembro de 2023

Douglas Kuspiosz Especial para a FOLHA
AUTOR

Imagem ilustrativa da imagem Mais da metade dos municípios do Paraná estão com contas no vermelho

Um estudo divulgado pela CNM (Confederação Nacional dos Municípios) indica que mais da metade dos municípios paranaenses fecharam o primeiro semestre de 2023 com contas no vermelho. Das 272 prefeituras que enviaram dados ao Siconfi, ferramenta da STN (Secretaria do Tesouro Nacional), 142 apresentaram deficit - ou seja, 52%. No mesmo período do ano passado, eram 18, ou 7% do total.

Para a confederação, a piora na situação fiscal tem levado a um comprometimento da receita com despesas típicas do funcionamento das prefeituras, como pessoal e custeio. De cada R$ 100 arrecadados, R$ 96 são para despesas correntes. 

Para o presidente da CNM, Paulo Ziulkoski, esse cenário de crise é também resultado das despesas criadas pelo Congresso e o governo federal “sem previsão de receitas, como os pisos nacionais, caindo toda demanda no colo dos municípios”. 

Segundo a CNM, entre as despesas que oneram os cofres municipais estão as recomposições salariais, o reajuste do piso do magistério e o atraso no pagamento de emendas parlamentares. Além disso, há a queda do FPM (Fundo de Participação dos Municípios). 

“Ano passado esse fundo, que é a principal arrecadação de mais de 5 mil municípios do Brasil, cresceu 25%. Esse ano, está crescendo 1%. Houve todos esses fatores conjugados, mais a queda da arrecadação e os repasses obrigatórios do aumento dos funcionários do quadro geral”, avalia Ziulkoski, que cita o subfinanciamento de programas federais e novas atribuições aos municípios. “Somando tudo isso, levou a essa crise que se avizinha de uma profundidade estrutural muito grande.”

Outros problemas elencados pela entidade são a redução em emendas de custeio - de R$ 436,2 milhões para R$ 92,6 milhões -, a redução de 590,2 milhões para R$ 246,4 milhões em emendas para o Estado, e a cota-parte do ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços) que, devido à LC (Lei Complementar) 194/2022, recuou 8,5%.

O presidente da AMP (Associação dos Municípios do Paraná), Edimar Santos, que também é prefeito de Santa Cecília do Pavão (Norte Pioneiro), afirma que as prefeituras têm assumido compromissos que são competência estadual e federal, o que aumenta os custos. 

Para piorar, entre maio e agosto de 2023, os municípios paranaenses registraram uma queda de 20% nos repasses estaduais e federais, indica a AMP. A associação lançou uma mobilização para chamar atenção do Estado e da União para o problema e vai cumprir agenda com deputados federais, estaduais e com o governador Ratinho Junior (PSD) na segunda-feira (4). 

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Santos aponta que uma das demandas é o reajuste do componente do Samu (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência). O programa deveria ser mantido com 50% de recursos da União, no mínimo 25% do Estado e até 25% dos municípios. Mas, com a falta de reajustes, “os municípios do Paraná estão colocando além da sua competência”, diz o presidente, citando um gasto de R$ 180 milhões. 

Outra necessidade apontada pela instituição é o aumento dos repasses para o transporte escolar da rede estadual e o custeio de procedimentos de saúde. Um exemplo citado por Santos é o montante de R$ 150 milhões do programa Opera Paraná, cujo gasto ficou na casa dos R$ 22 milhões. “Nossa pauta é que repasse esse valor [R$ 128 milhões restantes] aos consórcios, ou mesmo aos municípios, para gestão e redução das filas das cirurgias eletivas”. 

FATOR CENSO

No Paraná, 42 municípios tiveram queda no número de habitantes, segundo o Censo Demográfico de 2022. Isso significa uma redução no FPM, uma vez que a faixa de coeficiente é baseada na população. A Lei Complementar (LC 198/2023) tentou minimizar o impacto, com uma transição de dez anos para que os municípios se enquadrem em índices de distribuição dos recursos. 

O presidente da AMP afirma que os municípios “já estão perdendo” esses recursos, e ressalta que seria ideal realizar o Censo a cada cinco anos. “O Censo interfere na distribuição de recursos”.

Para o presidente da Amepar (Associação dos Municípios do Médio Paranapanema) e prefeito de Arapongas (Região Metropolitana de Londrina), Sérgio Onofre, há anos as prefeituras vêm “pagando contas que não são delas”, e que a situação está insustentável. 

Ele cita o exemplo das UPAs (Unidade de Pronto Atendimento), cujo repasse, desde a criação do programa em 2010, é de R$ 500 mil. “Vou continuar recebendo R$ 500 mil em uma UPA que gasta R$ 1,8 milhão? Não tem condição”, opina. 

Onofre também acredita que “o FPM caiu porque o custo Brasil aumentou”, citando a nova estrutura ministerial. “A queda do FPM veio acordar os prefeitos para ver o que eles estão pagando”. 

MEDIDAS

Entre as medidas que as instituições municipalistas citam para contornar a crise está a programação da PEC (Proposta de Emenda à Constituição) 25/2022, que traz um adicional de 1,5% no FPM; a redução da alíquota patronal do INSS para 8%; a recomposição do ICMS (PLP 94/2023); a atualização de programas federais defasados (PEC 14/2023); a ampliação da Reforma da Previdência para os municípios (PEC 38/2023) e outras ações. (Com Assessoria)

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