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Política 5m de leitura

Governabilidade de Bolsonaro em jogo nas eleições no Congresso

Com apoio do Centrão, Planalto busca dominar a pauta do Legislativo, mas há de se saber se o temperamento do presidente ajudará

ATUALIZAÇÃO
03 de fevereiro de 2021

Pedro Moraes - Grupo Folha
AUTOR

A disputa pela presidência da Câmara dos Deputados e do Senado, a cada dois anos, vem ganhando maior destaque público. A polarização e a instabilidade políticas foram elementos fundamentais para que o que antes era apenas uma formalidade da discussão entre as lideranças se tornasse um cabo de guerra. O Palácio do Planalto comandado por Jair Bolsonaro (sem partido) se empenhou como nunca para garantir sua governabilidade com nomes simpáticos ao governo na presidência das duas Casas. E ele saiu vencedor em ambas. Na Câmara, Arthur Lira (PP-AL) venceu Baleia Rossia (MDB-SP) por 302 votos a 145. No Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG) teve 57 dos 78 votos válidos. 

Apoiado por Alcolumbre, Bolsonaro e parte da oposição, 
Rodrigo Pacheco (DEM-MG) presidirá o Senado por dois anos
 

Também pudera, cabe às chefias das mesas – o presidente do Senado também preside o Congresso Nacional – pautar a agenda do Legislativo durante dois anos, e, desta forma, dialogar com o governo federal dentro do que garante a Constituição. “Não há uma relação hierárquica entre os senadores e o presidente da Casa. A definição da pauta é uma negociação com as lideranças. O principal poder é o de definir, em última instância, questões de relevância como o pedido de impeachment de autoridades. São os presidentes das Casas os primeiros filtros. Por isso, tanto o presidente da Câmara como o do Senado são alguns dos cargos políticos mais importantes da República”, explicou Gilberto Guerzoni, consultor legislativo do Senado.

 

Na análise do cientista político Elve Cenci, professor da UEL (Universidade Estadual de Londrina), Bolsonaro, com seu explícito apoio às campanhas de Pacheco e do deputado Arthur Lira (PP-AL), vai além da preocupação com a pauta de reformas e da chamada agenda de costumes. Afeito a confrontos e nada às relações institucionais, manter seu modus operandi é fundamental. “O presidente quer que o comando do Congresso seja amplamente próximo ao governo, tanto que tem instrumentalizado as instituições. Sempre que cabe à sua decisão, tem nomeado pessoas leais a ele, mesmo que não cumpra os ritos, como ocorreu na Procuradoria Geral da República. Ele quer que o congresso não seja uma ameaça constante”, pontuou.

 

FRITURA

Há que se lembrar que, no início do mandato, Rodrigo Maia (DEM-RJ) estava longe de ser uma ameaça ao presidente. Seu partido compunha a base do governo. Mas, com o passar do tempo e as muitas intempestividades, Bolsonaro começou um processo de fritura do presidente da Câmara. “Há um discurso para o eleitorado do presidente e, quando há uma reação política negativa, ele chuta a porta e volta atrás. A vacina é só um exemplo. Sempre que contrariado, Bolsonaro começa a fritura e a estabelecer um antagonista. Aconteceu de ele gritar que um projeto não estava andando no Congresso, enquanto ele mesmo não tinha mandado”, afirmou Censi, que ainda lembrou que o mesmo pode acontecer na nova gestão. “Com certeza, a ideia é que o Congresso seja usado a favor do governo, o que nada diz respeito à necessidade da democracia”.

A base fundamental da governabilidade de Bolsonaro passa pelo apoio dos partidos do Centrão, que historicamente são conhecidos por seu fisiologismo, ou seja, independentemente de uma agenda ideológica, o que vale são verbas e cargo, dinheiro e poder. A estratégia pode ser útil neste momento de eleições internas, mas não garante ao Planalto um mar de tranquilidade. “Para o Centrão, quanto mais o governo sangrar melhor, mais terá que ceder. O ex-presidente Michel Temer (MDB) precisou queimar R$ 30 bilhões para salvar a pele. O apoio desses partidos poder colocar um presidente na lona. O apoio dado agora significa uma fatura que logo irá chegar e os apoiadores vão cobrar”, alertou Censi. (Com Agência Estado).

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