Os dois primeiros meses do segundo mandato de Ratinho Junior (PSD) já têm entre suas características marcantes os embates entre oposição e governo em relação o futuro do pedágio no Paraná. A manhã desta sexta-feira (3) traria um novo episódio nesse duelo para definir o futuro da manutenção e ampliação de rodovias de todas as regiões do estado, mas, até agora, a única certeza é que o imbróglio permanece.

O governador receberia em Curitiba, às 10h, o ministro dos Transportes, Renan Filho (MDB), para uma solenidade em que o Paraná iria delegar ao governo federal os dois primeiros lotes a serem futuramente concedidos para exploração de concessionárias. O ato oficial, porém, acabou desmarcado horas antes de ocorrer, conforme informou no meio da noite desta quinta-feira (2) o deputado estadual Arilson Chiorato, presidente do PT no Paraná e membro da oposição a Ratinho Junior. A agenda também não consta mais na página da Agência Estadual de Notícias.

O cancelamento da solenidade desta sexta-feira representa só mais um capítulo de uma “novela” que começou ainda em 2021 e cujo enredo gira em torno do modelo de pedágio a ser colocado em concorrência pública. “O debate sobre a modelagem ainda continua”, avisou o parlamentar.

O lote 1, com 473 quilômetros, abrange ligações entre Curitiba e Guarapuava (Trevo do Relógio), de Guarapuava a Ponta Grossa e segmentos na própria região metropolitana da capital. Já o lote 2, com extensão de 600 quilômetros, também engloba Curitiba, em trecho até o litoral, além de rodovias entre Ponta Grossa e Jaguariaíva, de Jaguariaíva até Ourinhos, na divisa com São Paulo, e da cidade paulista até Cornélio Procópio, no Norte Pioneiro.

Chiorato esteve em Londrina nesta quinta-feira. Em visita à FOLHA, deu entrevista na qual reforçou as críticas ao formato de pedágio colocado no papel pelo Palácio Iguaçu e que tem sido pauta bastante presente nas idas do governador a Brasília.

PT pede tarifa barata

“Pedágio caro não significa garantia de obras. Vinte e quatro anos de contrato, [o Paraná teve] o pedágio mais caro do Brasil, apenas 51% das duplicações feitas, 57% das terceiras faixas, 38 grandes obras sumiram dos contratos, [entre elas], o Contorno Norte de Londrina“, exemplificou o petista.

Para Chiorato, o modelo do Executivo estadual pode resultar em um custo médio ao usuário de R$ 21 a cada 100 quilômetros rodados. De acordo com ele, é possível reduzir esse valor para cerca de R$ 10, em um sistema semelhante ao existente em rodovias de Santa Catarina.

Uma tarifa mais barata, segundo o parlamentar, não inviabiliza investimentos em intervenções pedidas há décadas pela população, como duplicar trechos de pista simples. “Os dois projetos defendem as mesmas obras”, afirmou Chiorato.

Possível definição neste semestre

O deputado estadual estimou que o modelo de pedágio pode ser definido neste semestre, mas fez cobranças ao ministro Renan Filho. “Ele está em um governo que quer ver o desenvolvimento, não o atrapalho econômico. Espero que ele não seja indecente a ponto de validar um modelo desse.” Ao mesmo tempo, perguntado se pode ser necessária a intervenção do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) no impasse, Chiorato disse que “tomara que seja”.

Embate na Frente do Pedágio

Até o futuro da Frente Parlamentar sobre o Pedágio da Assembleia Legislativa está nebuloso. A base governista e a oposição duelam pela liderança do grupo, que já tem fiscalizado a questão da modelagem desde a legislatura passada. Uma decisão quanto aos rumos da frente está prevista para a semana que vem. Para o petista, a frente sofre uma “tentativa de usurpação por parte do governo do estado.”

A FOLHA acionou a assessoria de imprensa da Secretaria de Infraestrutura e Logística do Paraná para comentar o assunto, mas não obteve resposta até a conclusão da matéria.

Críticas de Requião Filho

Em tom conciliador, Arilson Chiorato também abordou as declarações do correligionário Requião Filho (PT) que, em entrevista à FOLHA nesta semana, disparou contra o próprio partido e reivindicou mais transparência nas discussões internas da legenda.

“Nós vivemos de respeito às opiniões divergentes. Eles [Roberto Requião e Requião Filho] ainda precisam entender um pouco mais do funcionamento do partido, sobre como se dá a discussão de temas controversos, que começam e ficam no debate interno para depois serem públicos.”