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Política 5m de leitura

Assassinato de petista em Foz teve motivo torpe, conclui polícia

Presidente nacional do PT diz que conclusão do inquérito é incentivo à violência política

ATUALIZAÇÃO
15 de julho de 2022

Mauren Luc/Folhapress
AUTOR

A Polícia Civil do Paraná anunciou nesta sexta-feira (15) a conclusão do inquérito que investigou em menos de uma semana o assassinato do guarda municipal petista Marcelo Arruda pelo policial penal bolsonarista Jorge Guaranho. De acordo com a polícia, o crime ocorrido no último sábado (9) em Foz do Iguaçu teve motivo torpe e, tecnicamente, não será enquadrado como crime de ódio, político ou contra o estado democrático de direito, por falta de elementos para isso.

Enterro ao militante petista Marcelo Arruda, assassinado pelo policial bolsonarista Jorge Guaranho
 

A polícia diz que tudo começou sim em uma provocação do bolsonarista seguida de discussão por questões política e ideológica. Mas que, para enquadrá-lo como um crime político, seriam necessários requisitos para isso, como o de tentar impedir ou dificultar outra pessoa de exercer direitos políticos.

Jorge foi indiciado por homicídio duplamente qualificado. Ele invadiu a festa de 50 anos de Marcelo, que tinha o PT como tema, e o matou —o bolsonarista acabou baleado pelo petista e segue internado em estado grave. Segundo a polícia, na tarde de sábado, Jorge estava em um churrasco regado a bebidas e lá ficou sabendo da festa temática do PT e, diante disso, decidiu agir —um outro convidado do churrasco era funcionário do clube no qual Marcelo havia alugado o salão de festa e, por isso, tinha acesso às câmeras de segurança.

Esse funcionário visualizou as imagens do salão em meio ao churrasco, como rotina, segundo a polícia, e foi nesse momento, em meio a uma roda de amigos, que o bolsonarista ficou sabendo da festa temática do PT - a polícia diz não ver nenhum crime por parte desse funcionário. Segundo testemunhas, Marcelo e Jorge não se conheciam, e Jorge inicialmente invadiu o local da festa gritando palavras de ordem a favor de Bolsonaro e contra o PT e Lula.

Jorge estava em seu carro, com a esposa e uma criança no banco traseiro. Em meio a suas provocações, como mostram as imagens, Marcelo enche a mão com um punho de terra e pequenas pedras de um jardim na entrada do salão e o atira em direção ao carro de Jorge, que promete voltar e deixa o local.

Jorge então retorna minutos depois, agora armado e sem a esposa e a criança. O único foco dele era Marcelo, por causa da discussão anterior. Jorge atira primeiro, o que levou a polícia a descartar legítima defesa. Ele efetuou quatro disparos, sendo que dois atingiram Marcelo, que revidou com dez disparos, sendo que quatro deles atingiram o bolsonarista.

Em resumo, segundo a polícia, Jorge foi inicialmente ao salão para provocar os participantes da festa por causa do tema político do aniversário. Mas, durante as discussões, passou a ter Marcelo como seu único foco. E que teria cometido o assassinato por impulso, após discussão, e não de forma premeditada.

"Chegamos à conclusão que vamos indiciar o agente penal pelo crime de homicídio qualificado por motivo torpe e por causar perigo a outras pessoas no local, que poderiam ter sido atingidas pelos disparos", afirmou a delegada Camila Cecconello, chefe da investigação.

Marcelo era tesoureiro do PT municipal. No partido havia mais de dez anos, ele concorreu a vereador e a vice-prefeito pela sigla em eleições recentes.

AGRESSÕES

Ainda segundo a polícia, Jorge foi agredido por três convidados da festa de Marcelo, quando caiu ferido no salão. Um inquérito sobre esse ponto específico segue em andamento - a polícia quer saber se as lesões em Jorge foram causadas ou agravadas por essas agressões.

A polícia afirma ainda que não haverá reconstituição do crime e que aguarda o resultado da apuração do Instituto de Criminalística para desvendar outros detalhes, como a dosagem alcoólica em ambos.

Durante as investigações, segundo a polícia, foram ouvidas 17 pessoas, entre as quais testemunhas que estavam no salão de festa, palco do assassinato, além de familiares do petista e do bolsonarista.

A conclusão do inquérito foi anunciada em entrevista do secretário estadual da Segurança Pública, Wagner Mesquita, da delegada-chefe da Divisão de Homicídios e Proteção à Pessoa, Camila Cecconello, e do promotor Tiago Lisboa. O Paraná é governador por Ratinho Júnior (PSD), aliado do presidente Jair Bolsonaro e que buscará a reeleição em outubro.

O crime em Foz provou forte reação do mundo político. O PT, por exemplo, recorreu à PGR (Procuradoria-Geral da República) com cobranças sobre mais segurança nas eleições. Já a Polícia Federal decidiu ampliar sua mobilização para proteger os presidenciáveis durante a campanha eleitoral.

Conclusão da polícia sobre assassinato de petista é incentivo a violência política, diz Gleisi

A presidente nacional do PT, deputada federal Gleisi Hoffmann (PR), afirma que a conclusão da Polícia Civil do Paraná sobre o assassinato do guarda municipal petista Marcelo Arruda é "açodada e contraditória aos fatos" e que ela significa "mais um incentivo aos crimes de ódio e à violência política comandadas por Bolsonaro".

De acordo com a Polícia Civil do Paraná, o crime ocorrido no último sábado (9) em Foz do Iguaçu teve motivo torpe e, tecnicamente, não será enquadrado como crime de ódio, político ou contra o Estado democrático de Direito, por falta de elementos para isso.

Arruda foi assassinado pelo policial penal bolsonarista Jorge Guaranho.

"Ficou evidente que a Polícia Civil do Paraná não quer reconhecer que foi cometido um crime de ódio com evidente motivação política que tem que ser investigada na alçada da Justiça Federal como requisitamos à Procuradoria-Geral da República na última terça-feira", afirma Gleisi.

Na terça (12), representantes dos partidos que formam a coligação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) entregaram ao Procurador-Geral da República, Augusto Aras, pedidos para que sejam federalizadas as investigações do caso e dos disparos contra a caravana de Lula em 2018.

Gleisi afirma ainda que as provas colhidas pela polícia mostram que Guaranho foi até a festa de aniversário de Arruda "de caso pensado para agredir e ofender exclusivamente por motivação política".

"E mesmo assim a delegada do caso quer concluir que a motivação foi pessoal, exatamente a versão que Bolsonaro e seu vice Mourão querem impor, contra a verdade dos fatos", diz ela.

A deputada afirma também que advogados do caso estão avaliando o que fazer diante da conclusão da polícia.

O deputado estadual Arilson Chiorato, presidente estadual do PT no Paraná, diz que recebeu com indignação a conclusão do caso pela polícia e que ela "não está fazendo um trabalho por completo". Segundo ele, o partido irá avaliar juridicamente o que pode ser feito. (Victoria Azevedo/Folhapress)


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