| |

Política 5m de leitura

Após Câmara, Senado também aprova MP dos Ministérios

Se medida perdesse validade nesta quinta, Esplanada deveria retomar desenho de Bolsonaro, com 23 pastas em vez de 37

ATUALIZAÇÃO
01 de junho de 2023

Thaísa Oliveira, João Gabriel e Julia Chaib/Folhapress
AUTOR

Brasília - O Senado aprovou nesta quinta-feira (1º) a MP (medida provisória) que reestrutura o governo Lula (PT). A poucas horas do fim do prazo após as ameaças da Câmara dos Deputados de enterrar o texto, os senadores aprovaram a MP em cerca de duas horas. O texto foi aprovado por 51 a 19 e uma abstenção.

A MP reorganiza o governo federal e cria novos ministérios, como o da Cultura, da Indústria e dos Povos Indígenas. Se perdesse a validade nesta quinta, a Esplanada dos Ministérios deveria retomar o desenho de Jair Bolsonaro (PL), com 23 pastas em vez de 37.

Diferentemente do que ocorreu na Câmara, a MP foi aprovada pelo Senado sem grandes obstáculos. Em meio às reclamações dos deputados federais nesta quarta (31), senadores afirmavam que votariam a MP independentemente do tempo que tivessem para isso.

Em outro sinal de boa vontade do Senado com o Planalto, o presidente da Casa, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), escalou o líder do governo, senador Jaques Wagner (PT-BA), para relatar o texto.

Antes da votação, Pacheco afirmou que "pode haver críticas à articulação", mas disse que todos os senadores compreendem a importância da MP dos ministérios para a estruturação do governo.

"Obviamente que pode haver críticas à articulação política, mas nada que leve a uma situação dessas, de não aprovar a principal medida provisória do país e do governo. A estruturação de ministérios, instituições, seria muito ruim interromper isso."

A MP perderia a validade nesta quinta se não fosse aprovada pelo Congresso. Justamente pela falta de tempo, o Senado manteve o texto da Câmara dos Deputados --aprovado na noite desta quarta por 337 votos a 125, e uma abstenção.

VITÓRIA COM CONCESSÕES

Apesar de escapar da derrota na Câmara, o governo teve que ceder no plano inicial e aceitar a recriação da Funasa (Fundação Nacional de Saúde), órgão cobiçado por diferentes partidos para indicações políticas.

Horas antes da votação na Câmara, o presidente da Casa, Arthur Lira (PP-AL), emparedou o Palácio do Planalto e disparou críticas à articulação política do governo.

Diante do recado do centrão de que estava disposto a rejeitar a MP, Lula conversou pessoalmente com parlamentares. O Planalto prometeu ainda acelerar a liberação de emendas e nomeações em cargos diante da pressão por mais espaço no governo.

Ao subir na tribuna do Senado, Jaques pediu desculpas aos colegas pelo prazo enxuto e fez um apelo à oposição para que o texto não fosse alterado. "O governo anterior pensou de um jeito, o governo atual pensa de outro", disse.

"E quero pedir aos colegas senadores, alertando que um dos pontos que tinha muita controvérsia aqui dos senadores, que era a extinção da Funasa, acabou por acordo na noite de ontem sendo acolhida pelo relator a pedido do governo na Câmara."

A MP foi aprovada pela comissão mista - formada por deputados e senadores - por 15 votos a favor e 3 contra. O relator, deputado federal Isnaldo Bulhões Jr. (MDB-AL), aliado de Lira, desidratou a política ambiental do governo.

Competências de órgãos que atualmente estão na estrutura dos ministérios do Meio Ambiente (chefiado por Marina Silva), do Desenvolvimento Agrário (por Paulo Teixeira) e dos Povos Indígenas (por Sônia Guajajara) serão transferidas para outras pastas.

O texto aprovado retirou a ANA (Agência Nacional de Águas) do Meio Ambiente e a transferiu para o Desenvolvimento Regional --pasta comandada por Waldez Góes (PDT), indicado por parlamentares da União Brasil.

O CAR (Cadastro Ambiental Rural), instrumento para controlar terras privadas e conflitos em áreas de preservação, também saiu do ministério de Marina Silva para o de Gestão e Inovação em Serviços Públicos, chefiado por Esther Dweck.

O enfraquecimento de Marina Silva levou Lula a instruir seus ministros para adotarem uma retórica de defesa da ministra.

Rui Costa, ministro da Casa Civil, chegou a afirmar que o texto da MP estava "desalinhado" com a visão do governo; e que trabalharia para reverter as mudanças durante a votação nos plenários da Câmara e do Senado.

O que se viu nos dias seguintes, no entanto, foi um Palácio do Planalto incapaz de promover modificações na proposta. Articulares políticos passaram a admitir que não havia como recuperar as derrotas sofridas na área ambiental, sob pena de a MP perder a validade.

"Tudo aquilo que preocupava a FPA [Frente Parlamentar da Agropecuária] está equacionado", afirmou nesta quinta o senador Carlos Viana (Podemos-MG), de oposição, e membro da bancada ruralista. "Os pontos principais [da bancada] foram atendidos."

Esse conteúdo é restrito para assinantes...
Faça seu login clicando aqui.
Assine clicando aqui.

PUBLICAÇÕES RELACIONADAS