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Opinião 5m de leitura

ESPAÇO ABERTO: Sobre o amanhã comprometido

O mundo que conhecíamos, que nos sustentou tal líquido amniótico, não existe mais!

ATUALIZAÇÃO
02 de fevereiro de 2024

Padre Manuel Joaquim R. dos Santos
AUTOR

Dispomos de várias lentes que nos permitem observar o mundo que nos embala no seu caldo cultural e civilizatório, embora reconheçamos que nenhuma é integral ou definitiva. Mesmo que fosse, seria impossível olvidar que o vasto mundo oriental com o seu histórico pujante, longe dos olhos da centralidade europeia da idade média e moderna, continua ali, grande e imponente player econômico planetário!

A China avança para se configurar na maior economia mundial. Diga-se a propósito, que embora tenha aumentado o seu orçamento bélico em relação ao PIB, ela tudo faz para evitar conflitos abertos, desgastantes e prejudiciais. Seria uma vertente da “sabedoria oriental”?

O mundo que conhecíamos, que nos sustentou tal líquido amniótico, não existe mais! A mudança de época, numa amálgama de morte da modernidade, queda da razão hegemônica, avanço da modernidade líquida como nos fala Zigmund Bauman e a introdução do fator digital, condensado agora numa evidente nova cultura, fomentada e alimentada por redes sociais, novos aplicativos etc., dá forma, cor e textura a uma nova performance civilizatória.

São mares nunca dantes navegados, que exigem de nós coragem, ousadia e a certeza de que não voltaremos atrás. Para os cristãos, a perplexidade, encontra paralelo na queda de Constantinopla em 1453, considerado o fim da medievalidade, quando os muçulmanos gritando Alá adentraram os muros e passaram a fio de espada os adeptos de Jesus de Nazaré! Causa estupor, que lá como cá, muitos ainda estejam “discutindo o sexo dos anjos” enquanto as muralhas caem!

A guerra fria foi ruim. O mundo vivia sob a opressão de armas nucleares atômicas estocadas e numa tensão constante entre leste e oeste. Quem não recorda a terrível “crise dos mísseis”? Americanos, cubanos e soviéticos se prepararam para um confronto, que por vários dias se acreditou inevitável. Com a queda do muro de Berlim, o mesmo mundo respirou aliviado.

Hoje, porém, não sou exagerado ao manifestar certo saudosismo dos tempos em que a guerra “era fria”! A virada do século e do milênio trouxe de volta o fantasma da extrema direita e dos políticos populistas, que nos assustam bem mais do que Nikita Khrushchov, Leonid Bresjnev, Andropov e Konstantin Chemenko!

As tensões na Península da Coreia, no Mar da China, a invasão da Ucrânia, o atual caldeirão de fogo no Oriente Médio com o seu potencial real de alargamento e os vários conflitos regionais na África tornam o mundo um lugar perigoso para se nascer! Crimes cibernéticos e extremismos terroristas são outros temperos deste caldo!

Mas, se o estrondo dos mísseis caindo e o zumbido dos drones mortais ainda não for suficiente, enterramos cada vez mais vítimas das mudanças climáticas, negadas pelos que decidiram de modo autofágico impedir os seus netos de respirar! O planeta pede socorro e o sapiens alimenta o fogo com combustível fóssil!

O papa Francisco, o único líder despretensioso, clarividente e profético, não tem economizado palavras para denunciar as loucuras, que podem encerrar a odisseia do homem na terra. Já o chamaram de “apocalítico”! Contudo, os profetas do AT e o próprio Jesus legitimam as suas interpelações.

O planeta geme as dores da destruição, inviabilizando a vida de milhões de pessoas que só lhes resta morrer ou tomar a trilha de refugiados. Hoje já se aproximam dos 18 milhões! O clima bagunçado é sinal de pobreza, miséria e morte. E a corda sempre quebra pelo lado mais fraco. As mudanças climáticas expõem mais uma vez a perversa desigualdade social!

Os sinais de esperança exigem mudança de mentalidade dos que normalmente fomentam o desespero! Os homens que podem destruir são os mesmos que podem salvar! Este princípio básico do livre arbítrio é o mais belo da criação, inerente ao ser humano. A ONU chama a atenção para a proximidade do ponto inflexível. Abramos os olhos!

Padre Manuel Joaquim R. dos Santos, Arquidiocese Londrina

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