O título do artigo seria euforicamente lisonjeiro com a atitude de um mandatário, em início de pandemia ou no dia seguinte a uma guerra, mas torna-se por infelicidade desastroso e perverso às vésperas de uma eleição, no mínimo difícil! Portanto, nada melhor do que o alterarmos para “pacote de maldades”! Na verdade, é isso que é. Uma fatura estrondosa a ser paga pelo próximo governo, que além de precisar justificar a ausência dessas benesses, com vencimento em dezembro, ainda terá cerca de 43 bilhões para saldar!

Imagem ilustrativa da imagem ESPAÇO ABERTO - Pacote de bondades!
| Foto: iStock

Bolsonaro acabou de confessar, com esta atitude, que não será o próximo presidente do Brasil! Ou, em tratando-se de um homem não afeito a um pingo de lógica, declara-se apto a acabar no segundo mandato com o que não conseguiu no primeiro! Teto de gastos, equilíbrio fiscal ou prioridades orçamentárias continuarão reféns dos que lhe garantem o poder no prédio ao lado do Planalto! Ali, como em enormes tubulações de esgoto, escorrem as verbas secretas sem nenhum critério republicano.

Mas, e os 20 milhões de miseráveis?

Pobres miseráveis! Além de não verem a sua fome saciada pelo pacotão, alheio à institucional organização municipal, lugar em que todos habitam, o que já é uma aberração e ultraje, perceberão a miserabilidade aumentada com uma recessão que apenas está sendo adiada. Os pobres que já pagam o pato, neste caso pagarão também uma corrida eleitoral. Como disse alguém, o Senado mudou mais fácil a Constituição do que se mudaria um estatuto de condomínio!

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O desgoverno, que passou uma pandemia relativizando o vírus e as mortes e negando a gravidade económica da situação, acusando os governadores e prefeitos, aparece agora declarando um Estado de Emergência! Será a confissão de que Guedes estava equivocado, ao declarar que a crise “já tinha passado”? Ou uma estratégia fajuta e pueril para driblar as leis mais elementares e mexendo inclusive na Lei Magna? É incrível o poder que tem este governista de plantão de ainda nos surpreender!

O Congresso Nacional ficará para os anais da história como o maior símbolo de uma covardia, camuflada em sarcástica defesa dos pobres deste país! A esquerda, que votou a favor do governo, em nome das suas teses ideologicamente constitutivas; o Centrão, que reforçou o seu apanágio perverso de conduzir no cabresto os governantes fracos do Planalto!

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Quem manda no Brasil é um parlamento obeso de bilhões em emendas, que nada mais lhe interessa além do retorno a Brasília em 2023! Pobre país! Pobres miseráveis, quando os vossos defensores não passam de lobos em pele de ovelha! Não existe no Brasil seriedade, traduzida em planejamento e ideias revolucionárias, que tornassem a nação mais habitável e menos desigual!

A mediocridade se instalou nas entranhas do poder e o único bastardo que é dado à luz tem a cara da destruição do país e das suas instituições! Nem a constituição escapa dessa fome devoradora da normalidade democrática.

A premissa de que não falta dinheiro no Brasil é real. Nunca faltou! Com uma das maiores cargas tributárias, que incide e às vezes reincide sobre a produção, embora seja extremamente generosa com grandes fortunas, temos recursos suficientes para viabilizar com dignidade os principais serviços que o Estado deveria prestar. Somos, além disso, um país que produz alimentos para uma grande parte do mundo. É, portanto, inconcebível, como eu já registrei neste espaço, que tenhamos mergulhado de novo tão profundamente no mapa da fome!

Mas a perversidade sempre encontra um buraco bem além do fundo do poço! A crise que nos assola nos últimos anos e que não encontrou solução alguma neste governo serve agora para legitimar o descontrole das contas do Estado e a demolição de nosso arcabouço legal! Se dinheiro não é problema, neste caso bem menos é solução! Ao fazê-lo chegar a milhões de brasileiros empobrecidos e famintos, esvaziamos completamente o debate eleitoral que deveria ser sério e criativo em torno de soluções firmes e duradouras para o Brasil! Não consigo imaginar algum candidato que se manifeste contra a ajuda aos miseráveis! Mas, neste caso, deveria!

Padre Manuel Joaquim R. dos Santos, Arquidiocese de Londrina

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