A espécie humana teve origem no continente africano há aproximadamente 200 mil anos, daí o apropriado apelido de “Mãe África” para o território que nos acolheu e permitiu que aflorássemos como espécie. A pele de todos os grupos populacionais era negra, somente muitos milhares de anos depois, com a migração para outras regiões menos ensolaradas, é que começaram a surgir os humanos de pele mais clara.

Imagem ilustrativa da imagem ESPAÇO ABERTO - Consciência negra e o Brasil cruel
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A ideia de raça é, na atualidade, rejeitada pela maioria dos cientistas, considerando as ínfimas diferenças genéticas entre os humanos, na realidade há apenas uma única raça, a raça humana. As diferenças físicas são fruto da necessidade de adaptação aos ambientes naturais que cada grupo foi submetido. Em sua origem, a espécie humana limitava-se ao continente Africano, era negra, o que facilitava a sobrevivência em ambientes ensolarados.

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Há 150 mil anos, começaram a surgir as primeiras migrações, inicialmente para o Oriente Médio, depois para leste do continente asiático, Europa, Oceania e por último, para as américas. As populações que se fixaram em locais frios com baixa incidência de sol, tinham na pele clara vantagens para aproveitar os raios solares e produzir vitamina D, essencial para a saúde.

Foi no continente africano que surgiram as primeiras técnicas de metalurgia e fundição de metais, escrita, matemática, engenharia e comércio. As primeiras grandes civilizações tiveram origem na África, a exemplo da egípcia, em que a maioria dos faraós tinha pele negra, ao contrário do que sempre foi apresentado nos filmes de Hollywood ou nos livros escolares.

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A história humana sempre foi marcada pela tentativa em estratificar grupos sociais, escalonando-os entre superiores e inferiores. Percebe-se uma busca incessante em tentar justificar privilégios e/ou legitimar a opressão. De todos os mecanismos de apartação, o fenótipo é recorrente, ou seja, características físicas como a cor da pele são suficientes para alguns se acharem superiores.

O Brasil é o caso mais escandaloso de racismo. Foi o país com o maior número de escravizados e o último a abolir a escravidão, o que aconteceu há pouco mais de 130 anos. Sequestraram-se milhões de indivíduos da sua terra natal para produzirem riqueza para seus algozes, num dos crimes mais hediondos da história. Contudo, com o colapso do regime escravista, a elite branca, intelectual e latifundiária cuidou para que se mantivessem as estruturas opressoras, garantindo que brancos e pretos continuassem a ocupar os mesmos lugares na sociedade. Para tanto, contavam com teorias eugenistas para implementar o apagamento histórico e cultural da população preta na formação da sociedade brasileira, fosse pela miscigenação com a migração europeia, fosse pela fome, ou pela repressão policial decorrente da criminalização das atividades pretas, como a capoeira e o samba.

Atualmente, o Brasil é o país com maior população afrodescendente fora da África, com 56,2% do total dos seus habitantes. Contudo, as arbitrariedades continuam latentes, o desemprego da população negra é 71% maior do que entre brancos, a expectativa de vida da população negra é, em média, 7 anos inferior à da população branca, são os mais assassinados, são os menos escolarizados, são os que menos têm acesso à justiça e os atos racistas dificilmente são condenados. No Congresso Nacional apenas 17,8% dos parlamentares são negros.

O dia 20 de novembro é importante porque demanda consciência da sociedade brasileira sobre a trajetória da população preta no Brasil, lançando luz aos temas invisibilizados durante o ano sob o véu da falsa democracia racial. Vidas negras continuam a valer menos do que as brancas, só a consciência negra pode nos libertar do Brasil cruel, arrogante e desalmado, e sermos igualmente acolhidos como filhos de uma mesma mãe gentil.

Kathleen Cristina Tie Scalassara, mestranda em Direito da UEL e Luís Miguel Luzio-Santos, professor de socioeconomia da UEL

A opinião dos autores não reflete, necessariamente, a opinião da Folha de Londrina

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