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Geral 5m de leitura

'Tenho tijolo por essa Londrina toda'

ATUALIZAÇÃO
21 de agosto de 2016


AUTOR

José André Rodrigues Neto, de 76 anos, conta com orgulho que trabalhou durante décadas na área



Jataizinho - Um bom tijolo depende da qualidade da argila e de uma queima uniforme. Duas coisas que o oleiro aposentado José André Rodrigues Neto, de 76 anos, o Zezão, diz entender bem. "Eu era o maior entendido de barro. Falava para o patrão: aqui tem barro bom e tinha."
Figura conhecida em Jataizinho, trabalhou em várias cerâmicas queimando forno. Natural de Varginha (MG), mudou para o Paraná aos 17 anos e com 20 estava puxando barro do Rio Tibagi. "A gente colocava o barro na carriola puxada com burro e colocava na pipa (máquina que amassa o barro). Depois colocava nas formas e cortava o tijolo com arame." A média de produção era de 2 mil a 2,5 mil tijolos por dia. "Quando a pessoa era boa fazia até 3 mil por dia. A gente pegava às 3 horas da manhã", recordou.
Logo aprendeu a colocar fogo nos fornos, que na época eram do tipo caipira (a lenha vai embaixo do forno). "Para apertar o fogo eram dois dias. Quando o teto estava vermelho era hora de colocar a tampa e lacrar o forno", explicou Zezão, observando que enquanto os tijolos estavam queimando não podia deixar o fogo diminuir. Tinha que ficar de olho dia e noite. "A gente usava lenha ou carvão. Quando era com carvão, ele estourava e vinha na gente. Essas marquinhas são queimaduras", contou, mostrando as marcas nos braços e completou: "Era gostoso aquele tempo; a gente acostumava."
Zezão cuidava de vários fornos ao mesmo tempo. "Tinha lida todo dia. Enquanto um estava esquentando, outro estava queimando, outro esfriando." Ele considerava o trabalho uma diversão. "Era serviço bruto, mas a gente ganhava bem. Se não fosse essa perna eu ainda estava queimando forno", disse. Ele amputou a perna há 20 anos, por isso abandonou o ofício da vida toda.
Zezão fala com brilho nos olhos dos tempos de oleiro. "Criei cinco filhos na olaria. Tenho tijolo por essa Londrina toda", orgulha-se, contando que aprendeu a lida olhando os outros. "Eu tinha interesse em ver os outros fazendo e aprendi." (A.M.P.)

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