São Paulo - O Rio Grande do Sul chegou, neste domingo (5), à marca de 78 mortes em decorrência das fortes chuvas que atingiram a região ao longo da semana passada. Ainda há 103 desaparecidos. Em meio à pior tragédia climática já vista no estado, com todos os serviços básicos afetados, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) afirmou que vai destravar obstáculos da burocracia para garantir o socorro às vítimas e prometeu ações de longo prazo.

As enchentes afetaram o acesso a saúde básica, a água potável, a energia elétrica, a telefonia, e os efeitos da chuva bloquearam algumas das principais rodovias gaúchas. O boletim do governo estadual diz que há 844.673 pessoas afetadas pela tragédia e danos em 341 municípios, o que representa mais da metade do estado.

A woman is transported to a medical center after being rescued at the Sarandi neighbourhood in Porto Alegre, Rio Grande do Sul state, Brazil on May 5, 2024. The challenge is titanic and against the clock: authorities and neighbours are trying to avoid an even greater tragedy than the one already experienced in the Brazilian state of Rio Grande do Sul, where 66 people died and 80,000 were displaced by the floods, according to the authorities. (Photo by Anselmo Cunha / AFP)
A woman is transported to a medical center after being rescued at the Sarandi neighbourhood in Porto Alegre, Rio Grande do Sul state, Brazil on May 5, 2024. The challenge is titanic and against the clock: authorities and neighbours are trying to avoid an even greater tragedy than the one already experienced in the Brazilian state of Rio Grande do Sul, where 66 people died and 80,000 were displaced by the floods, according to the authorities. (Photo by Anselmo Cunha / AFP) | Foto: ANSELMO CUNHA/AFP

O número de mortes confirmadas e de pessoas afetadas mais do que dobrou em relação à última sexta-feira (3). Ainda conforme a Defesa Civil, neste domingo havia mais de 839 mil imóveis sem abastecimento de água, fornecido pela empresa Corsan, e 421 mil domicílios sem energia elétrica.

As aulas foram suspensas nas 2.338 escolas da rede estadual e quase 200 mil alunos foram impactados. Um total de 250 escolas tiveram sua estrutura danificada pelas consequências da chuva. O governo estadual informou que, na tarde deste domingo, divulgaria a orientação para o retorno às aulas para a rede estadual.

Em todo o estado, os temporais também provocaram também danos e alterações no tráfego nas rodovias estaduais gaúchas. Segundo a última atualização, neste domingo, eram 113 trechos em 61 delas, com bloqueios totais e parciais, entre estradas e pontes. Sete rodovias com bloqueios foram liberadas ao longo do sábado.

Na noite de sábado, o governo gaúcho informou que duas barragens estavam em situação de emergência, com risco iminente de romperem. Uma delas é a usina hidrelétrica 14 de Julho, entre os municípios de Cotiporã e Bento Gonçalves, que teve um rompimento parcial na última sexta-feira (3). Além disso, a barragem de São Miguel, também em Bento Gonçalves, estava em situação semelhante.

Outras cinco barragens no estado estavam em nível de alerta, que ocorre quando "as anomalias representam risco à segurança da barragem, exigindo providências para manutenção das condições de segurança".

As chuvas que devastaram cidades do Rio Grande do Sul também chegaram a Santa Catarina e ao Paraná, causando outras três mortes.

ROTINA DE RESGATES

A chuva voltou a assolar a Grande Porto Alegre e municípios da região norte do estado durante a madrugada deste domingo. Em Canoas, na região metropolitana, populares realizaram um cordão humano dentro da água para auxiliar as embarcações que a todo momento chegavam com pessoas resgatadas das áreas inundadas.

Na noite de sábado, o governador Eduardo Leite (PSDB) afirmou que a região vai precisar de uma espécie de "Plano Marshall", em referência ao plano dos Estados Unidos para reconstrução de países aliados após a Segunda Guerra Mundial.

Leite afirmou que a chegada de reforços será importante para as demais frentes de atuação, como o reconhecimento de corpos e a reconstrução de estadas. A prioridade neste momento, porém, é o resgate das vítimas. "Tudo o que é possível empregar está sendo empregado. Vai chegar mais gente. Não porque não tenham chegado antes porque não quisessem, mas porque essa mobilização leva um tempo", disse ao ser questionado sobre a ajuda do governo federal nesse esforço.

05.05.2024 - Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, durante Sobrevoo em Porto Alegre, Porto Alegre - RS.


Foto: Ricardo Stuckert / PR
05.05.2024 - Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, durante Sobrevoo em Porto Alegre, Porto Alegre - RS.

 Foto: Ricardo Stuckert / PR | Foto: Foto: Ricardo Stuckert / PR

O presidente Lula (PT) voltou ao estado neste domingo (5) para acompanhar de perto a crise e afirmou que vai destravar obstáculos da burocracia para garantir o socorro ao Rio Grande do Sul e prometeu ações de longo prazo, com a criação de um "plano de prevenção de acidente climático". O plano de prevenção, disse Lula, deverá ser desenvolvido ministra Marina Silva (Meio Ambiente).

Lula desembarcou na base aérea de Canoas (20 km de Porto Alegre) pela manhã, acompanhado de uma comitiva de ministros, e sobrevoou municípios da região metropolitana para ver o impacto das enchentes que já afetaram 332 municípios. Acompanharam o presidente no sobrevoo o governador do estado, Eduardo Leite (PSDB), e os presidentes da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), e do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG).

ANIMAIS

As equipes do poder público e de voluntários resgataram ao menos 3,5 mil animais ilhados pelas chuvas no Rio Grande do Sul (RS). Porém, o número deve ser bem maior, já que se formaram diversos grupos de voluntários para o salvamento de cães e gatos que ficaram para trás devido às enchentes que assolam o estado.

A proprietária de um pet shop e de uma creche de animais em Esteio (RS), Carla Ebert, contou que recepcionou, apenas no sábado (4), 50 animais deixados pra trás nas enchentes. Ela relata que pessoas comuns estão resgatando os animais ilhados e levando para um abrigo cedido pela prefeitura.

“É muito animal. É uma coisa absurda. A gente vai ver quando baixar a água, a gente nem está preparado para isso, devido aos que morreram. É muito triste”, lamentou Carla. “A gente se organizou como pode e as pessoas foram levando os animais”, completou.