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Sem reforço na sinalização, tragédia em Jandaia completa três meses

Em março, um ônibus de estudantes da Apae foi atingido por um trem. Acidente deixou cinco mortos

ATUALIZAÇÃO
07 de junho de 2023

Jéssica Sabbadini - Especial para a Folha
AUTOR

O acidente entre um ônibus escolar e um trem em Jandaia do Sul, no Vale do Ivaí, que deixou cinco mortos, completa três meses nesta sexta-feira (9). Quatro das vítimas eram estudantes e a outra funcionária da Apae (Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais) do município. 

Na época, a administração municipal prometeu colocar lombadas nos cinco cruzamentos de vias com a linha férrea. Três meses depois, a medida não saiu do papel.

O prefeito Lauro de Souza Silva Junior (União Brasil), afirma que já esteve em Brasília para reunião com representantes da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) e que a autarquia está fazendo um diagnóstico das passagens em nível do Brasil que registram mais acidentes. O objetivo é implantar cancelas nos cruzamento de vias urbanas com a linha férrea. 

“O objetivo do município é de que sejam cancelas automáticas para não depender de servidores para trabalharem nos locais”, explica o prefeito, que acrescenta que ainda aguarda o retorno da ANTT sobre o pedido.

De acordo com um acórdão do STJ (Supremo Tribunal de Justiça) de dezembro do ano passado, a responsabilidade por obras de sinalização em passagens em nível é dos municípios, caso as vias tenham sido construídas após a chegada da ferrovia. Na região, a estrada de ferro foi construída por volta de 1935, ano em que a maioria das cidades ainda não tinha se consolidado ou ainda não era considerada como município. 

O artigo 21 do CTB (Código de Trânsito Brasileiro) também coloca como responsabilidade dos municípios, estados e da União a implantação, manutenção e operação do sistema de sinalização e dos dispositivos e equipamentos de controle viário. Lauro Junior, no entanto, diz que a responsabilidade em Jandaia será da concessionária da ferrovia, mas o município está aberto a parcerias. A reportagem entrou em contato com a Rumo, mas não obteve retorno. Sobre a possível construção de transposições, Lauro Junior afirma que elas são de interesse do município, mas que não há projetos em andamento. 

Na época, o motorista do ônibus escolar alegou que o mato alto atrapalhou a sua  visão da linha férrea. “Nós entendemos que o mato não tirou a visão do motorista porque o ônibus é um veículo mais alto [do que o mato]”, afirma, acrescentando que a prefeitura vem realizando a manutenção e limpeza dos trechos quando necessário.

O prefeito de Jandaia do Sul ressalta que o motorista envolvido no acidente permanece afastado e que um procedimento administrativo disciplinar foi aberto para averiguar as causas. Segundo ele, apenas a perícia veicular vai poder atestar se o acidente foi causado por falha mecânica ou humana. 

“Nós entendemos que o ônibus estava em perfeitas condições mecânicas, mas vamos supor que a perícia aponte alguma falha mecânica, isso muda toda a situação”, afirma. A Polícia Civil informou que ainda aguarda laudos periciais dos veículos e das vítimas para concluir o inquérito. Caso seja comprovada falha humana, aponta a Prefeitura, o motorista deve ser exonerado.

De acordo com a administração municipal, o motorista não estava com a CNH (Carteira Nacional de Habilitação) vencida e nem certificado de treinamento de transporte escolar e coletivo. “Se a pessoa exerce a atividade de motorista, é a base de tudo o documento dela estar em dia”, afirma Lauro Junior. 

O município segue prestando o serviço de transporte escolar à Apae, agora com um veículo novo e um monitor. As vítimas também estão recebendo atendimento psicológico, psiquiátrico e clínico. Uma das alunas ainda não retornou às aulas, já que precisou passar por cirurgia no fêmur.  

A concessionária Rumo informou que a "segurança nas ferrovias e a convivência harmoniosa com as comunidades do entorno da linha férrea são preocupações constantes". “Desde 2021, a empresa coloca em prática o projeto ‘PN Sensoreada’ em parceria com a prefeitura de diversos municípios do Paraná, sendo uma tecnologia pioneira da companhia que consiste na implantação de sensores de inteligência artificial que detectam a aproximação dos trens. O critério para seleção dos locais das passagens de nível sensoreadas é feito com base no índice de acidentes registrados em cada localidade", aponta a nota.

O acidente com o ônibus que levava alunos da Apae chocou a a cidade de Jandaia do Sul
 
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