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Geral 5m de leitura

Santa Casa confirma afastamento de funcionários e surto de Covid-19

De acordo com a Iscal, todos os profissionais afastados já foram testados e 15 exames apresentaram resultado positivo

ATUALIZAÇÃO
20 de maio de 2020

Vitor Struck - Grupo Folha
AUTOR

A diretoria da Santa Casa de Londrina confirmou o afastamento de 95 funcionários com suspeita de Covid-19 depois que um paciente que havia procurado o atendimento no final da semana passada teve o diagnóstico da doença confirmado. De acordo com a equipe da Iscal (Irmandade Santa Casa), todos os profissionais afastados já foram testados e, por enquanto, 15 exames apresentaram resultado positivo para a Covid-19. Além da Santa Casa, o HU (Hospital Universitário) da UEL (Universidade Estadual de Londrina) e o Hospital Evangélico também têm profissionais que foram contaminados com o vírus, porém em número bem menor.

Paralelamente a todos os desafios e riscos à saúde de quem está na linha de frente, alguns profissionais já relatam terem receio de sofrer algum tipo de "bullying" por parte de vizinhos ou conhecidos, como já vem sendo registrado em cidades com um maior número de casos confirmados, como São Paulo.    

Com a capacidade de atendimento 50% acima do limite, aglomeração colaborou para que houvesse um "surto" da doença no hospital
 

De acordo com o médico infectologista e membro da Comissão de Controle de Infecção Hospitalar da Santa Casa, Walton Tedesco Júnior, no final da semana passada, uma aglomeração no pronto-socorro acabou ocorrendo uma vez que a unidade deve receber todos os paciente encaminhados pelo Samu (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência) conforme determina o conceito Vaga Zero, instituído por uma Portaria do Ministério da Saúde. A situação, que já ocorria com certa frequência e se agravou nas últimas semanas, tornou a prática de medidas de segurança, como o distanciamento entre as macas e a redução da capacidade de atendimento no pronto-socorro, impossíveis naquele momento.

Com a capacidade de atendimento 50% acima do limite, uma aglomeração colaborou para que houvesse um "surto" da doença no hospital, uma avaliação que leva em conta o fato de que, na semana passada, eram apenas 30 profissionais com a suspeita, explicou Tedesco Júnior. 

"Com o aumento de suspeitas e a superlotação, optamos por tomar esta medida mais drástica em respeito aos pacientes que aqui estavam e aos nossos funcionários, para ter uma condição mais adequada de trabalho", afirmou. 

Desta forma, o PS precisou ser fechado e só foi reaberto no início desta semana. Atualmente, 11 pacientes estão internados no hospital por conta do novo coronavírus, sendo cinco confirmados e seis ainda aguardam o resultado dos exames. 

Segundo o infectologista, a diretoria vai adotar uma medida de segurança ainda mais rígida para autorizar o retorno dos profissionais cujos resultados dos testes sejam negativos para a Covid-19. "Para nós termos mais segurança, pedimos dois resultados porque um resultado só tem 60% de chance de vir positivo, então em  40% das vezes a pessoa pode ter o vírus e ele vir negativo. Então deixamos um tempo maior afastado e depois solicitados um outro exame", explicou.  

Questionado, Tedesco Júnior também afirmou que a unidade "nunca" registrou a falta dos EPIs (Equipamentos de Proteção Individual) aos profissionais da linha de frente. Ao todo, a Santa Casa possui 1.480 funcionários e, se for necessário, profissionais que atuam no Hospital Mater-Dei e no Hospital Infantil poderão ser remanejados.   

No HU da UEL, cinco profissionais que atuam também em outras instituições tiveram que ser afastados por conta da Covid-19 e outros dez aguardam o resultados dos exames. A reportagem também apurou que no Hospital Evangélico, nove colaboradores foram diagnosticados com a doença e dos 15 profissionais com a suspeita, dois já tiveram o exame negativo. 

Diante de um cenário que vem se agravando também em cidades do interior, cresce o número de relatos de profissionais que dizem se sentirem hostilizados por vizinhos ou conhecidos.

Questionada sobre o tema, a pneumologista Janne Stela Takahara, integrante do Comitê Coronavírus da APPT (Associação Paranaense de Pneumologia e Tisiologia), lamentou a situação e mencionou que até alguns de seus pacientes pneumopatas também passaram a relatar situações que em nada colaboram com o tratamento para as doenças que vêm tratando muito antes da pandemia.    

"É um mundo muito difícil. Os meus próprios pacientes pneumopatas têm sido hostilizados em clínicas. O paciente pelo histórico em si ele tem tosse, falta de ar, como enfisema, asma, fibrose pulmonar, hipertensão pulmonar que eu atendo, são doenças crônicas e ele procura o pneumonologista exatamente por estes sintomas, algumas clínicas não estão querendo recebê-los em consultas já fazendo menção que essa tosse é Covid-19 e não é", lamentou.   

CLOROQUINA 

Questionado se pacientes ou familiares de pessoas diagnosticadas com o novo coronavírus em Londrina passaram a "pressionar" as equipes médicas para que deem início a um tratamento com a Cloroquina, o diretor da instituição, Walton Tedesco Júnior, informou que não. "Só um dos pacientes, que não é o que está internado aqui, quis utilizar até agora. A grande maioria ao entender os riscos e benefício escolhe por não utilizar, mas tomamos esta decisão em conjunto com o paciente já que não temos nada na literatura que afirme com certeza o benefício deste uso. Pelo contrário, o que têm saído recentemente mais tem mostrado que não tem utilidade", lembrou.

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