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Geral 5m de leitura

Feira livre dá trabalho e prazer

ATUALIZAÇÃO
23 de janeiro de 2017

Wilhan Santin<br>Especial para a Folha
AUTOR

Com a crise econômica, mais pessoas querem trabalhar nas feiras; CMTU diz que há vagas nas que já existem, mas existe a possibilidade de se criarem novas



É madrugada, 4h30, quando Maria Gracioso, 30 anos de feira e "50 e tarará" de idade, estaciona a sua Kombi fabricada em 1992 para montar a barraca na qual vende bananas na feira livre da Vila Nova (região central), em Londrina. A rotina dela se repete nos outros dias da semana em outras feiras, com exceção das terças, quando tira folga para cuidar das coisas do lar.
"Ser feirante não estressa. Tudo vai numa boa", responde a vendedora de bananas quando questionada sobre as agruras da profissão. Mas e o fato de acordar tão cedo? "Já acostumei. Nem preciso de despertador", rebate a mulher, que trabalha sozinha e criou três filhos vendendo as frutas que vêm de Santa Catarina para as mesas dos londrinenses.
A exemplo de Maria, outros 212 feirantes têm autorização da Companhia Municipal de Trânsito e Urbanização (CMTU) para trabalhar em uma das 29 feiras livres que se espalham todas as manhãs pela cidade. Outros 100 requerimentos, aproximadamente, estão tramitando. São mais pessoas querendo um espaço. De acordo com a assessoria de imprensa da CMTU, há vagas nas feiras que já existem, mesmo assim estudos estão em andamento para criar outras. "A procura tem aumentado bastante, em especial por conta da crise econômica do País", diz trecho do documento enviado pelo órgão municipal à FOLHA.
Entre os feirantes é quase consenso que a crise também está atrapalhando a vida deles e que quem entrar no ramo não vai escapar dela. Mas a feira tem seu charme e as suas manhas. E o profissional que aprende a dominá-las vai bem. O bom feirante chama o freguês pelo nome e tem à disposição o produto – preferencialmente bem vistoso - que ele procura.

Keigo Fukuda vende as verduras produzidas numa propriedade onde toda família trabalha das 5 às 20h



Vendendo feijões, arroz e amendoim na feira desde 1991, Lourival Aparecido de Abreu, de 57 anos, acha bonito quando atende fregueses que um dia já foram crianças que bagunçavam os seus produtos enquanto os pais faziam compras. "Já estou na segunda geração de clientes", ressalta ele que já trabalha ao lado da segunda geração da família no negócio. A filha Eleonora, de 16, o acompanha.
Para Keigo Fukuda, de 51 anos, o investimento na qualidade do que é vendido é o segredo do sucesso. Dono de uma das mais concorridas bancas de verduras da feira livre que é realizada aos domingos na Avenida São Paulo e na Rua Alagoas, no centro da cidade, onde trabalha com a mulher, Eunice, e mais três filhos, chega a vender 500 pés de alface em um dia bom.
A produção vem de uma pequena propriedade, de quatro hectares, na zona rural do município, na qual a família trabalha das 5h às 20h, todos os dias. À feira livre os Fukuda só não comparecem às segundas. "Dá trabalho. Mas não tem outro jeito. O freguês quer verduras bonitas e frescas", diz o patriarca.



Para a dona de casa Adélia Sinedese, de 72, o verdureiro está coberto de razão. Moradora no Jardim Califórnia (zona leste), ela frequenta a feira que é montada no bairro às terças. Com o inseparável carrinho aramado, procura frutas, verduras e legumes frescos. De vez em quando também come um pastel. Mas com moderação. "Por causa do colesterol", ela explica.

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