Embora o novo Censo informe que a população da Região Metropolitana de Londrina aumentou 8,8% entre 2010 e 2022, ver o número de moradores subir passa longe de ser uma regra entre municípios que fazem parte da RML.

Das 25 cidades que compõe o grupo, 11 perderam moradores ao longo dos últimos 12 anos. Em termos percentuais, as cinco quedas mais expressivas foram em Porecatu (-18,%), Assaí (-15,6%), Tamarana (-12,6%), Rancho Alegre (-11,2%) e Uraí (-9,2%).

Já nas 14 cidades que receberam mais munícipes, Sabáudia lidera percentualmente na região, com 44,7%. Em seguida, vêm Rolândia (23,8%), Jaguapitã (23,6%), Arapongas (14,3%) e Cambé (10,8%). Hoje, ao todo, a RML concentra 1.088.006 pessoas.

‘Falta carinho com as pequenas’

Entre os municípios que enfrentam o êxodo populacional, Assaí caiu de 16.354 habitantes em 2010 para 13.797 no levantamento finalizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

O prefeito Tuti Bomtempo (PSD) reconheceu que houve redução, mas questionou se em montante tão expressivo. “É um efeito muito ruim para nós tanto em matéria de arrecadação como em perspectiva de crescimento.”

Assaí caiu de 16.354 habitantes em 2010 para 13.797 no levantamento finalizado pelo IBGE
Assaí caiu de 16.354 habitantes em 2010 para 13.797 no levantamento finalizado pelo IBGE | Foto: Arquivo Folha

Para o gestor, a praça de pedágio da BR-369, em Jataizinho, quase no entrocamento com a PR-090, dificultou a atração de investimentos para Assaí e seu entorno ao longo das últimas décadas. Hoje desativado, o local está previsto para voltar a funcionar no novo modelo de concessões rodoviárias articulado entre os governos estadual e federal — mas lideranças locais tentam mover o posto para outro trecho da 369.

“O nosso poder de barganha é muito pequeno em relação aos grandes centros. Esse nosso corredor é totalmente dependente de Londrina, e as pessoas do governo não nos enxergam como parte do Brasil. Está faltando um pouco de carinho com as pequenas cidades”, comentou Bomtempo.

“São poucos os benefícios que nós podemos ter sendo parte da metrópole. Nossa luta é ter transporte coletivo integrado com a região metropolitana”, complementou o prefeito. Ele aposta em investimentos que afirma estar realizando na educação básica e também em iniciativas de qualificação profissional para reter mão de obra em áreas para as quais sustenta que Assaí tem potencial, como a tecnologia da informação (TI).

Estado promete investir

Enquanto prefeitos como Bomtempo reclamam que seguem com o ‘pires na mão’, o governo de Ratinho Junior (PSD) garante que atua em soluções. Entre elas, a Agência de Assuntos Metropolitanos (Amep) que, instituída em janeiro de 2023, ainda tem se organizado para entender as particularidades dos aglomerados metropolitanos e, dessa forma, contribuir para que os centro menores se tornem atrativos economica e socialmente.

“A gente precisa realmente fortalecer os municípios do entorno para que as cidades da região metropolitana não fiquem só como cidades-dormitório. A gente precisa pensar em infraestrutura, acesso logístico, e isso o governo do estado tem feito”, alegou a coordenadora da Casa Civil para Londrina e região, Sandra Moya.

Quanto às críticas históricas sobre a falta de integração entre os sistemas de transporte coletivo da RML, Moya sustentou que o trabalho “é uma das prioridades” do atual comando do Palácio Iguaçu.

“Estão sendo feitos os projetos complementares e penso que, ao final dos quatro anos [da segunda gestão de Ratinho Junior, em 2026], a gente já vai ter esse terminal [de integração, na Avenida Leste-Oeste, em Londrina] construído e, junto com isso, fazer esse trabalho da questão da integração. Isso vai acontecer naturalmente depois que a gente tiver esse terminal”, exemplificou a representante do Executivo estadual.

“Estamos fazendo um recorte dos 50 menores IDHs do Paraná, e o arranque de redução do IDH é renda. Vamos fazer um trabalho para induzir, através de políticas bem específicas nas áreas econômica, tributária e fiscal, que o investimento tenha uma motivação para, ao invés de se instalar em uma grande cidade, ele possa ir para uma pequena cidade, gerando emprego”, completou o secretário estadual de Planejamento, Guto Silva, sinalizando que a medida deve ser divulgada no segundo semestre.

Falta sinergia, diz professor

Professor de socioeconomia na Universidade Estadual de Londrina e membro do Núcleo Interdisciplinar de Gestão Pública (Nigep) da UEL, Luis Miguel Luzio avaliou que, para começar a solucionar questões como a diminuição de população e os demais entraves relacionados a isso (a falta de mão de obra, por exemplo), é necessário sinergia entre as cidades de menor porte.

“Fazer um movimento de forma autônoma é quase impossível. Ou elas se aliam e criam ações conjuntas, o que nunca é fácil, mas é a única forma que elas têm, porque, individualmente elas são muito fragilizadas.”

“As cidades que mais cresceram no Brasil não foram as grandes, mas, proporcionalmente, foram cidades de porte médio, e do interior. Pode ser que esse pessoal esteja vindo das cidades pequenas. Talvez isso possa estar acontecendo no Paraná, é uma suspeita”, acrescentou Luzio.

Dados refletem em PPA

Atualmente visitando diferentes partes do estado devido ao projeto batizado de “Rede399 – Pacto pelo futuro: Planejando o Paraná”, o secretário de Planejamento observou que os dados do Censo também trarão reflexos à essa iniciativa — que, entre outros pontos, recebe sugestões dos cidadãos ao Plano Plurianual (PPA 2024-2027) via audiências públicas presenciais (a de Londrina e região está prevista para o início do segundo semestre).

“Essa dinâmica que mudou em 12 anos, estamos tentando colocar e refletir essas mudanças dentro do próprio orçamento e PPA. Vamos ter que apoiar as grandes obras de infraestrutura nos grandes municípios e, por outro lado, políticas públicas mais assertivas para poder manter esse cidadão na pequena cidade e o serviço público chegar para poder melhorar o quadro socioeconômico daquela realidade”, apontou Guto Silva.

Mesmo assim, Luzio salientou que o atraso na coleta dos números do Censo (prejudicado não só pela pandemia de covid-19, mas até mesmo pela falta de orçamento no IBGE) continuará a ser sentido pelos gestores públicos nos próximos anos. “Você só vai conseguir fazer política pública, tomar decisões, baseado em informações. Já compromete o próximo Censo, em 2030, que vai comparar 12 com 8 anos.”

Sabáudia cresce mais 40%, mas está ‘decepcionada’

Sabáudia cresceu mais 40% graças a um processo acelerado de industrialização
Sabáudia cresceu mais 40% graças a um processo acelerado de industrialização | Foto: Arquivo Folha

Se em 2010 o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) contou 6.096 habitantes em Sabáudia, na Região Metropolitana de Londrina (RML), o dado saltou para 8.882 no Censo 2022.

Uma elevação de 44,7% que, conforme o ex-prefeito Almir Batista dos Santos (2005-2012), ainda é motivo de decepção. “Foi feito um planejamento de indústria e a gente esperava esse crescimento maior”, justificou ele, defendendo que, pela quantidade de ligações de água e energia elétrica, o contingente chegaria a 12 mil pessoas.

Segundo o antigo gestor, o processo de fomento à industrialização realizado desde meados dos anos 2000 alavancou não somente a tabela populacional, mas majorou índices como a renda per capita

“O parque industrial revolucionou Sabáudia. Arapongas, que é o maior polo moveleiro do Brasil, ficou meio saturada, com terrenos caros, e a gente adquiriu, através de financiamento, 22 alqueires exclusivamente na beira da PR-218 só para industrialização. Aí as indústrias vieram com tudo”, contou Santos, que é pai da vice-prefeita Cristiane Viana dos Santos Bortolo.

Já o atual chefe do Executivo, Moises Soares Ribeiro (PP), projetou que novas indústrias estão previstas para chegar com a desapropriação pelo município de uma segunda área, de 10 alqueires. “Estamos começando uma creche para mais de 300 alunos, estamos ampliando escola, vamos fazer reforma de hospital para poder dar condições de vida para quem vem para Sabáudia.”

De acordo com o prefeito, os novos sabaudienses chegam essencialmente de cidades situadas no Norte do Paraná. “Aumenta o gasto na saúde, principalmente, mas hoje a gente está tendo condições. Cidade que tem emprego, tem condições de vida. Por mais que a população aumente, a arrecadação também aumenta”, comemorou Ribeiro.