O senegalês Luma Gabes mora em Londrina e é um refugiado que está há quatro anos na cidade. O jovem de 26 anos relata que o Brasil o acolheu "como um abraço". “Aqui é um país legal. As pessoas são muito ‘gente boa’, são ‘legais’. Eu gostei daqui. Eu achei o Brasil bonito, de coração. Quando cheguei aqui gostei muito. Já viajei por muitos países diferentes, mas o Brasil foi o mais ‘legal’ para mim. Já passei pela Espanha, França e Itália, mas entre todos os países o Brasil foi o melhor para mim, porque aqui todo mundo é igual“, declara.

“Aqui é um país legal. As pessoas são muito ‘gente boa’, são ‘legais’. Eu gostei daqui", afirma Gabes
“Aqui é um país legal. As pessoas são muito ‘gente boa’, são ‘legais’. Eu gostei daqui", afirma Gabes | Foto: Vítor Ogawa - Grupo Folha

O depoimento do senegalês vai ao encontro com uma pesquisa realizada em 28 países pela Ipsos. A empresa é especializada em pesquisa e inteligência de mercado, e realizou essa indagação global que aponta que os brasileiros estão entre os que mais apoiam acolhimento a refugiados, com 86% das pessoas ouvidas aceitando que as pessoas devem poder se refugiar em outros países ou no seu. No ranking global, o Brasil só está atrás da Suécia, que possui índice de aceitação de 88%, enquanto a média global dos 28 países pesquisados é de 78%.

Foram entrevistadas 20.505 pessoas entre 22 de abril e 6 de maio de 2022 de forma ‘on-line’, sendo aproximadamente mil no Brasil. A margem de erro é de 3,5 pontos percentuais.

Além do Brasil, integram a pesquisa: Argentina, Austrália, Bélgica, Canadá, Chile, China, Colômbia, Singapura, França, Alemanha, Grã-Bretanha, Hungria, Índia, Itália, Japão, Malásia, México, Holanda, Peru, Polônia, Arábia Saudita, África do Sul, Coreia do Sul, Espanha, Suécia, Suíça, Turquia e Estados Unidos.

Leia também:

+ Prefeitura notifica a Sanepar e terceirizada por irregularidades em obras

+ Vereador em Cambé é acusado de assediar funcionária dentro da Câmara

COMPARAÇÃO HISTÓRICA

A comparação histórica da mesma pesquisa revela que o apoio saltou nos últimos anos. Em 2019, antes da pandemia e dos conflitos na Ucrânia, 61% dos brasileiros defendiam os refugiados. Em 2020, primeiro ano pandêmico, o índice saltou para 77% e foi a 78% no ano seguinte. Neste ano, após a consolidação da ofensiva russa contra o território ucraniano, o apoio cresceu 8 pontos percentuais, até chegar ao patamar atual de 86%.

Os brasileiros também se destacam ao rechaçar a ideia de que os refugiados pretendem apenas se aproveitar de políticas de bem-estar ou da situação econômica no país. Segundo os dados, apenas 34% acreditam nesta teoria, o menor índice entre todos os países da lista. Neste quesito o Peru lidera com 74% de respondentes que concordam.

Ainda conforme o estudo, 66% dos brasileiros afirmam que os refugiados trazem mais contribuições positivas para o país. A média global nesta questão é de 47%. Acima do Brasil estão somente Canadá (67%), Austrália (68%) e Arábia Saudita (69%).

A coordenadora da Cáritas Londrina, Fabrícia Laís Pigaiani, afirmou que a Cáritas atende em nível de arquidiocese, abrangendo 16 municípios e a maior parte é formada por venezuelanos, haitianos, bengaleses, paquistaneses e sírios. “Somente da Venezuela, o site da Acnur (Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados) aponta que 322 pessoas foram interiorizadas aqui em Londrina.”

Ela explicou que a Cáritas possui um programa de atendimento de refugiados e apátridas em parceria com a Secretaria de Assistência Social para o encaminhamento para a confecção de documentos na Polícia Federal e encaminhamento para a rede assistencial.

“Nós temos assistente social e psicólogo para acompanhar essas famílias em Londrina. Os municípios da arquidiocese que possuem a maior população de refugiados e migrantes ficam em Londrina, Cambé, Rolândia e Ibiporã. Não sei te informar quanto tem em cada um deles. Em Cambé a maior parte é de haitianos. Em Ibiporã a maioria é de venezuelanos e em Rolândia são haitianos e bengaleses. Em Londrina temos venezuelanos, haitianos e de outros países como Paquistão e Síria.”

Pigaiani afirmou que a Cáritas atende e acompanha 200 pessoas. “A maior parte é referente à confecção e renovação de documentação.” E se esses refugiados são direcionados a uma casa que não possui móveis e eletrodomésticos, a Cáritas intermedia a doação disso tudo. “Agora estamos fazendo campanha para receber mais cobertores e roupa de frio.”

“O Brasil atende muito as necessidades desses refugiados e é importante esse apoio aos que estão procurando um local que proporcione segurança e garantia de direitos, para eles poderem retomar a sua vida. Muitos refugiados vêm da guerra ou são alvos de perseguição e buscam no Brasil reconstruir a sua vida e o País, no que lhe concerne, precisa entregar essa segurança para eles. Todos eles passam a ter os mesmos direitos que um brasileiro possui. Isso é muito importante para eles e nós também temos que ter esse cuidado de fazer essa integração”, afirma Pigaiani.

A Cáritas possui dois articuladores de projeto que realizam a documentação, um auxiliar administrativo, uma assistente social, uma psicóloga e a coordenadora do projeto. “Estamos agora com voluntários que nos ajudam nessa parte de documentação e estagiários da assistente social e da psicóloga.” Ela ressalta que muitos procuram a Cáritas para direcionar ao Cras, ou para fornecer apoio junto ao atendimento no hospital.

"Também ajudamos no contato junto aos consulados, porque, enquanto eles não se naturalizam, o passaporte é do país de origem. Quando eles precisam também realizamos o encaminhamento à defensoria pública. Fornecemos roupas, móveis, geladeiras e fogão e ajudamos também em relação à alimentação", enumera.

Apoio governamental

Quando questionados sobre o papel do governo frente aos refugiados, novamente o Brasil se destaca na pesquisa. Cerca de 73% dos respondentes afirmaram que o governo brasileiro deve manter ou aumentar os gastos com apoio. A média global ficou em 57%.

Sobre o fato de o governo ter que aceitar mais ou menos refugiados, 72% dos brasileiros defendem que o País deve continuar aceitando o mesmo número de refugiados ou aumentar. Considerando as respostas dos outros países, a aceitação a esta ideia ficou em 48%. No Brasil, apenas 10% afirmaram que o país deve aceitar menos refugiados.

Motivos

Os entrevistados foram provocados a responder se apoiam ou não a entrada de refugiados em seu país pelos diferentes motivos. Nestes recortes, o Brasil aparece líder em todas as listas. Quando o motivo do refúgio é guerra ou conflito, 75% dos brasileiros defendem o direito. Em seguida, se o motivo for escapar de desastres naturais ou mudanças climáticas, 72% demonstraram ser a favor. Já quando o estudo aborda as motivações por raça, etnia ou nacionalidade, o índice de aceitação ficou em 66%.

Outro motivo colocado em questão foi sobre orientação sexual ou identidade de gênero. Nesta questão, 62% dos brasileiros defenderam o refúgio. Se a motivação for religiosa, a aprovação é de 65%. Quando questionados sobre questões de gênero e opinião política, o índice ficou em 60%.

Receba nossas notícias direto no seu celular. Envie também suas fotos para a seção 'A cidade fala'. Adicione o WhatsApp da FOLHA por meio do número (43) 99869-0068 ou pelo link wa.me/message/6WMTNSJARGMLL1.