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Audiência sobre imunização para crianças recebe médicos antivacina

A Anvisa disse que tem atuação técnica e rejeitou o convite do governo para o debate

ATUALIZAÇÃO
04 de janeiro de 2022

Mateus Vargas e Raquel Lopes - Folhapress
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Brasília - A audiência pública realizada pelo Ministério da Saúde para discutir a vacinação de crianças de 5 a 11 anos com doses da Pfizer contra a Covid-19 recebeu médicos antivacinas. Já a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) disse que tem atuação técnica e rejeitou o convite do governo Jair Bolsonaro (PL) para o debate.

 

Além de representantes do Ministério da Saúde, CFM, sociedades médicas especializadas e de secretários estaduais participaram. Médicos antivacina foram ao debate como representantes da CCJ (Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania) da Câmara, presidida por Kicis, aliada de Bolsonaro.

Zeballos chegou a argumentar que o Brasil não precisa de vacina neste momento da pandemia. Ele destacou que a variante é para casos graves e a ômicron é pouca agressiva. "Quero entender qual é o problema que nós temos hoje, qual a justificativa para botar as crianças em risco de ter uma miocardite", disse.

O imunologista e outros médicos contrários à vacinação de crianças usaram como argumento para evitar a vacinação de crianças o desenvolvimento de miocardite, uma inflamação do músculo cardíaco que foi associada em casos raros à vacinação contra o coronavírus.

O representante da Sociedade Brasileira de Pediatria, Marco Aurélio Sáfadi, chegou a afirmar que os casos de miocardite em crianças são ainda menores que em adolescentes. Ele mostrou dados de farmacovigilância de mais de 8 milhões de crianças vacinas nos EUA. Segundo os dados, o risco de miocardite em adolescentes vacinados contra a Covid chegou a 40 casos por milhão de vacinados. Já entre crianças de 5 a 11 anos foi substancialmente menor, 11 casos em 8 milhões de crianças vacinadas, com evolução clínica favorável.

Ressaltou ainda que é preciso ter cuidado com a variante ômicron. "O último comentário é em relação a variante ômicron, de preocupação, mais transmissível e, de acordo com os dados preliminares, menos agressiva. Entretanto, a experiência reportada nos EUA, Reino Unido e África do Sul mostra que é menos agressiva, mas tem risco de hospitalização, morte. E temos observado um número importante de vacinação em grupo de não vacinados", destacou.

A representante da Sociedade Brasileira de Imunizações, Izabella de Assis Martins Ballalai, acrescentou que não pode negligenciar a gravidade da doença por conta do cenário mais favorável dos últimos meses. "Diante desse cenário epidemiológico atual, favorável, a gente tende a negligenciar a gravidade da doença. A Covid, graças à vacinação, deixou de ter o impacto de hospitalização, mortes que tinha no início. A gente não pode menosprezar uma nova variante", acrescentou.

A Anvisa aprovou o uso da vacina da Pfizer no grupo de 5 a 11 anos em 16 de dezembro, mas o governo ainda não tinha as vacinas em mãos. A ideia é receber 20 milhões de doses até março.

Após a decisão da Anvisa, o presidente Bolsonaro abriu uma campanha para desestimular a vacinação das crianças. Ainda ameaçou expor nomes de membros da agência que participaram da análise.

A Ctai (Câmara Técnica de Assessoramento em Imunização da Covid-19) deu parecer favorável à inclusão destas crianças na campanha de vacinação da Covid. Mesmo com registro da Anvisa e parecer da câmara técnica, o ministro Queiroga, que faz agrados a Bolsonaro para se manter no cargo e avalia se candidatar neste ano, decidiu colocar o tema em consulta pública.

A intenção da Saúde é recomendar que crianças de 5 a 11 anos sejam vacinadas contra a Covid-19, desde que mediante a apresentação de prescrição médica e consentimento dos pais. O Conass (Conselho Nacional de Secretários de Saúde) reagiu e disse que não irá cobrar o aval dos médicos para a vacinação.

Manifestantes fizeram protesto em frente a Organização Pan-Americana da Saúde em Brasília , contra a vacinação de crianças contra a Covid-19.

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