Imagem ilustrativa da imagem Tema racismo predomina em obras literárias para prova da UEL
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Parte integrante da prova de conhecimentos, dez obras literárias listadas pela UEL são as leituras obrigatórias para o Vestibular 2022, marcado para 6 de março. A Universidade repete os livros cobrados na edição 2021, mantendo a tradição de troca a cada dois anos.

No Manual do Candidato, a UEL indica que espera do candidato que considere, em literatura, uma “prática que estimula o exercício da sensibilidade, da liberdade e do amadurecimento crítico por meio do convívio com a representação de experiências humanas plurais”.

A FOLHA conversou com o professor de literatura do Colégio Marista de Londrina, Celso Pagnan, para trazer uma análise da lista. Ele considera que os livros possuem uma diversidade no que diz respeito a períodos literários e contextos sociais, mas faz uma observação quanto à conexão dos mesmos.

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“Você tem narrativas diferentes, mas que dialogam entre si de uma maneira ou de outra. É muito possível as questões abordarem essa temática a partir desses ângulos de visão apresentados”, afirmou. “Livros podem tratar de momentos específicos, mas também tem caráter atemporal, sendo assim, valendo para outros momentos”, acrescentou o professor.

Entre as temáticas, Pagnan destaca que o racismo está presente nas narrativas de grande parte das obras. Porém, questões identitárias, além do machismo e do feminismo – como uma forma de afirmação social, também marcam presença para retratar os problemas do cotidiano. Em “Clara dos Anjos”, obra póstuma do escritor Lima Barreto (1891-1922), publicada em 1948, a personagem principal é uma moça negra, de classe média-baixa, moradora do subúrbio do Rio de Janeiro, que se envolve com um rapaz de nome inglês e estilo conquistador, e que tem uma mãe superprotetora.

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“Mesmo também sendo de classe média, a mãe acredita que eles pertencem à nobreza inglesa, e tem um discurso machista e racista, atribuindo às mulheres a culpa de se relacionarem com o filho dela”, explica o professor.

Famoso pela obra “O Cortiço (1890)”, Aluísio Azevedo escreveu, seis anos antes, o romance naturalista “Casa de pensão”, que segundo o professor acaba apresentando traços do contexto racista, mesmo não sendo o foco da obra. “Em ambas as obras, aparece a personagem Rita Baiana, mulher negra que está sujeita aos caprichos masculinos”, destaca.

O livro também mostra o machismo em como as mulheres que não eram mais virgens, porém não eram casadas, eram mau vistas pela sociedade.

Como uma autobiografia, Carolina Maria de Jesus (1914-1977) publicou em 1960 “Quarto de despejo: Diário de uma favelada”, em que apresenta, na forma de diário, o dia a dia de uma mulher negra, mãe de dois filhos, e suas dificuldades em conseguir trabalho e sustentar os filhos.

“A autora traz diversas frases que partem da perspectiva de quem passa fome e de alguém que sofre algum tipo de preconceito”, ilustrou Pagnan.

Obra mais recente, publicada em 2004 pelo escritor angolano José Eduardo Agualusa, o romance “O vendedor de passados” apresenta um aspecto mais regionalizado do país africano. Nas palavras de Pagnan, o autor quis abordar a questão racial e histórica na formação de Angola, ainda no período que era colônia de Portugal, marcado por uma guerra civil. “A ideia era de resgatar o passado, a identidade angolana. Quase como que um romantismo no século XXI”, comentou.

PROBLEMAS SOCIOECONÔMICOS

Em “Poemas escolhidos”, de Gregório de Matos (1636-1696), de acordo com o professor, os problemas sociais são mais evidentes, envolvendo também outros grupos, como os indígenas. “Dentro disso há a questão da miscigenação e de que maneira isso acabou formando a sociedade brasileira. Não que ele (Gregório) era um escritor antirracista, pois nem sempre via isso (miscigenação) como positivo. Era mais um retrato fiel do que realmente acontecia na Bahia, onde morou”, apontou.

Já a peça de teatro “Eles não usam black-tie”, do ítalo-brasileiro Gianfrancesco Guarnieri, escrita em 1958, trata da luta por melhores condições de trabalho. “Como black-tie é uma roupa elegante, então já sabemos pelo título que o livro remete aos pobres. O foco é maior na parte social e econômica, não chegando a falar de maneira detalhada sobre o lado racial”, explicou o professor.

Um dos fundadores do Modernismo, Mário de Andrade (1893-1945) traz no terceiro capítulo do póstumo “Novos contos (1947)” o conto Primeiro de Maio, que aborda o preconceito dos trabalhadores, muitos deles negros e, “por razões econômicas e de outra ordem, mal remunerados”, contou Pagnan.

DICAS

Faltando cerca de 40 dias para a aplicação da Vestibular em formato único, o professor aconselha para o candidato que não conseguiu ler todos os livros, que faça uma espécie de roteiro com informações básicas sobre as obras. “Uma lista com as principais características de cada livro, como a sua escola literária e o porquê de pertencê-las a tal, e buscar informações para estabelecer uma relação entre o contexto trazido pela obra com o período literário”. Outro ponto destacado por Pagnan é a interpretação. “A UEL pode, por exemplo, colocar um trecho do livro e uma pergunta específica sobre interpretação. O candidato deve ler com bastante atenção, para eliminar os distratores e chegar na alternativa correta. Como também é cobrado a história do livro, um chamado ‘mapa mental’, com a função dos personagens, é uma boa ideia”, finalizou.

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