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Folha Rural 5m de leitura

Nos EUA, produtores do PR veem tendências em tecnologias

Viagem promovida pela Cocamar com vencedores de seu concurso de produtividade teve, como ponto alto a Farm Progress Show

ATUALIZAÇÃO
03 de setembro de 2022

Reportagem local
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Imagem ilustrativa da imagem Nos EUA, produtores do PR veem tendências em tecnologias

Viagem promovida pela Cocamar com vencedores de seu concurso de produtividade teve, como ponto alto a Farm Progress Show, uma das maiores vitrines tecnológicas do agro em todo o mundo

O grupo de brasileiros na fazenda da John Maxwell, que espera colher 18 mil quilos de milho por hectare
 

Uma delegação da Cocamar Cooperativa Agroindustrial, formada por produtores e técnicos que, ao longo de uma semana percorreu algumas das principais regiões produtoras de grãos dos Estados Unidos, esteve na terça-feira (30/8) em Boone, no estado de Iowa, participando da edição 2022 da Farm Progress Show.

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Ecossistema de inovação: organizar, planejar e desenvolver

A feira, uma das maiores em tecnologias para o agro em todo o mundo, realizada anualmente desde 1953, voltou a ser promovida após dois anos de interrupção por causa da pandemia da Covid-19. Os integrantes do grupo conquistaram o direito de participar da viagem por terem obtido as primeiras colocações no Prêmio Cocamar de Produtividade de Soja, categorias geral e ILPF (integração lavoura-pecuária-floresta), nas safras 2019/20, 2020/21 e 2021/22.

Para o produtor Antônio César Pacheco Formighieri, que conduz há mais de duas décadas um programa de ILPF em sua propriedade, na região de Umuarama, tecnologias já disponíveis no Brasil como a aplicação com drones, que observou na feira e em propriedades visitadas, terão grande impacto na produtividade em virtude da maior eficiência e por não causarem perdas por amassamento, dimensionadas entre 10 e 15%. A tendência, segundo ele, é de uma forte expansão no uso desse serviço nos próximos anos.

 

Formighieri disse ter se impressionado, também, com a alta tecnologia de precisão de plantio que viu na feira, a qual apresenta digitalmente ao produtor a eficiência da deposição das sementes, todas na mesma profundidade. Conforme a umidade do solo, a deposição pode ser aprofundada até um limite pré-determinado, revelando ainda o teor de matéria orgânica em todo o gradiente de plantio, por meio de sensores. “Isto auxilia muito na tomada de decisão, bem como na elaboração de centros de manejo e investigação de cada talhão”, citou.

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Inovações

José Henrique Seko, engenheiro agrônomo da unidade de atendimento da cooperativa em Ibiporã, resumiu: “a Farm Progress Show é uma conexão de empresas do agro com agricultores do mundo inteiro em um só lugar”. Segundo ele, inovações são demonstradas não só em novos equipamentos agrícolas, tratores e colheitadeiras, como também em sementes, defensivos e startup’s do setor.

 

A feira serve, ainda, para que fabricantes capturem novas demandas e soluções nos seus contatos junto aos visitantes. “Os norte-americanos se destacam muito por inovar”, comentou Renan Facina, agricultor de Jussara, mencionando também a ampla diversidade de equipamentos que foram vistos na feira, entre eles um robô avaliado em R$ 100 mil para monitoramento de pragas, capaz de “tomar conta” de uma área de 1,5 mil a 2 mil hectares e cuja varredura pode ser feita, inclusive, durante a noite, emitindo relatórios detalhados.

Curiosamente, a tecnologia é brasileira, concebida por uma empresa de Araçatuba (SP) e já com fila de espera para o fornecimento do produto. “Muitos dos equipamentos que eles utilizam são completamente diferentes dos nossos, devido às características da agricultura local, são máquinas maiores e mais tecnológicas”, pontuou Felipe Sutil, engenheiro agrônomo da unidade de São Sebastião da Amoreira.

Paridade 

O produtor Cleber Veroneze, de Maringá, avaliou que há uma distância menor, hoje em dia, entre as tecnologias empregadas pelos agricultores norte-americanos e seus colegas brasileiros. “Antigamente a gente vinha na Farm Progress Show e via maquinários que nem imaginava”, disse, exemplificando que um dos estandes mais visitados, o da John Deere, mostrou máquinas praticamente iguais em relação às que são oferecidas no Brasil.

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A novidade ficou por conta da maior colheitadeira desta marca, ainda em fase de lançamento. “Alguns tipos de produtos são lançados na feira e depois vão para o Brasil”, comentou o engenheiro agrônomo Rodrigo Sakurada, gerente técnico da Cocamar, salientando que a feira é, portanto, uma vitrine na qual se pode saber, com alguma antecedência, o que os produtores brasileiros vão ter à sua disposição nos anos seguintes.

Lavouras em bom desenvolvimento

Sobre a situação das lavouras de soja e milho, a comitiva da Cocamar não observou déficit hídrico nas regiões visitadas em Illinois e Iowa, os dois principais produtores de grãos do país. Renan Facina, agricultor em Jussara e integrante do grupo, contou que, ao menos visualmente, o desenvolvimento das plantas é normal.

Em conversa com colegas norte-americanos, os brasileiros foram informados que problemas com falta de chuvas estão ocorrendo mais pontualmente à oeste. “Como eles têm somente uma safra por ano, o que se vê é muito planejamento e capricho, tudo bem cuidado”, destacou Facina.

Duas fazendas visitadas pelos brasileiros no estado do Iowa confirmam que o clima tem favorecido o desenvolvimento das lavouras, já na reta final. Uma delas, a da família do produtor John Maxwell. Os Maxwell estão na quinta geração, mas foi John, com seu espírito empreendedor, quem revolucionou a propriedade, expandindo-a e introduzindo novos negócios. Adquiriu terras baratas, por 1,6 mil dólares o hectare, que hoje não valem menos de 30 mil cada. São cultivados cerca de 2 mil hectares de soja e milho e a projeção é colher 18 mil quilos de milho por hectare.

A família de John Maxwell mantém, ainda, dez mil suínos, possui gado de corte e leite e é reconhecida pela qualidade de seus queijos. Com a estrutura leiteira inteiramente robotizada, os Maxwell já conquistaram várias premiações por sua alta produtividade.

A outra fazenda que recepcionou o grupo da Cocamar foi a da família do produtor Denis Campbel. Altamente tecnificada, possui 3,8 mil hectares e cultiva 1,2 mil com milho para semente. Faz aplicações de fungicida com drone e a expectativa é colher, por hectare, em média, 5 mil quilos de soja e 16 mil quilos de milho.

Brasil x EUA

O engenheiro agrônomo Felipe Sutil, de São Sebastião da Amoreira, destacou que as altas produtividades norte-americanas de milho, em alguns casos na faixa de 15 a 18 mil quilos por hectare, são creditadas não só ao nível tecnológico com que são conduzidas, mas também a fatores como a exuberante fertilidade do solo do Meio-Oeste, onde predomina a “terra preta”, enquanto os solos brasileiros apresentam elevada acidez.

A maior quantidade de horas/luz, por ser o período de verão nos EUA, também contribui, ao passo que no Brasil a maior produção de milho se dá durante o inverno. Sutil foi taxativo: “Em relação ao milho, estamos muito atrás, mas quanto à soja, temos mais potencial do que eles”.

“Por causa do frio severo, os produtores norte-americanos sofrem muito menos com o ataque de pragas do que nós no Brasil”, afirmou o agricultor Cleber Veroneze, de Maringá. “Em alguns aspectos, os produtores brasileiros são melhores que os norte-americanos”, comentou o gerente técnico Rodrigo Sakurada, referindo-se, por exemplo, à palhada que serve de cobertura e proteção para o solo, e o próprio plantio direto, em relação aos quais o Brasil é referência.

“Quando a gente vai a uma feira assim, o impacto já não é tão grande como há dez, quinze anos. Estávamos muito atrasados em tratores, hoje não mais”,

 

citou o agropecuarista César Luis Vellini, de Jardim Olinda, onde faz ILPF. Ele disse ter observado uma tendência, em algumas regiões, onde o solo é muito úmido, de tratores com esteiras e não pneus. Numa fazenda visitada, havia quatro tratores assim.

 

Vellini mencionou ainda algumas particularidades da agricultura do Meio-Oeste daquele país: as plantadeiras são bem maiores, os produtores fazem a aplicação de nitrogênio líquido na cultura do milho – algo que ainda não ocorre no Brasil - e, quando acaba o inverno, sempre muito rigoroso, eles têm que passar grade para descongelar o solo. “A falta de mão de obra no campo, que vimos nos Estados Unidos, é o que começa a acontecer também no Brasil”, completou Vellini.

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