Marialva, na região noroeste do Paraná, é o município que mais produz flores no Estado. O Censo do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) aponta 35 estabelecimentos com produção de floricultura ou plantas ornamentais.

Entre esses estabelecimentos localizados no município de 35 mil habitantes, 21 deles produzem flores e folhagens para corte; 9 produzem grama; 4 produzem plantas ornamentais em vaso e 1 produz mudas de plantas ornamentais.

Anderson Yassunaka diz que a falta de defensivos específicos é um dos desafios da atividade
Anderson Yassunaka diz que a falta de defensivos específicos é um dos desafios da atividade | Foto: Divulgação/Arquivo Pessoal

Dados preliminares do VBP (Valor Bruto da Produção Agropecuária), apurados pelo Deral (Departamento de Economia Rural), apontam que a floricultura movimentou quase R$ 20 milhões em Marialva no ano passado. A produção de grama gerou quase metade do VBP, alcançando R$ 9,9 milhões.

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Em segundo lugar vêm as plantas perenes ornamentais, com 33% de participação e VBP de R$ 6,5 milhões. Na sequência vem a orquídea, com 8,3% de participação – ao todo, foram 50 mil unidades produzidas que resultaram numa riqueza de R$ 1,6 milhão. Em quarto lugar está a rosa, com produção de 100 mil unidades e VBP de R$ 1,2 milhão (6% do total).

“O cultivo das flores movimenta nosso município, gera muita mão de obra e os produtores vêm obtendo várias conquistas, atendendo aos mercados local e regional”, destaca Nathan Bortolon Lucca, secretário municipal da Agricultura e Pecuária. Atualmente, são 15 hectares de flores cultivados em Marialva, além de 200 hectares de grama utilizados em paisagismo.

Expectativa da família Yassunaka, de Marialva, é comercializar 15 mil vasos de flores neste ano
Expectativa da família Yassunaka, de Marialva, é comercializar 15 mil vasos de flores neste ano | Foto: Arquivo pessoal

O secretário explica que a vocação de Marialva para produzir flores veio especialmente do trabalho das antigas gerações. “A vocação veio de geração em geração. Temos vários produtores que eram filhos de produtores e hoje trabalham com os seus pais”, exemplifica.

TRADIÇÃO

Tradição de família exemplificada por Anderson Hideyo Yassunaka, que seguiu os passos do pai, Kozo – há quase 30 anos no ramo. Hoje, a família planta orquídeas, rosas-do-deserto e algumas espécies de suculentas em 6.000 metros quadrados de estufas.

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“Começamos a cultivar flores para diversificar a produção, e por falta de mão de obra na produção de frutíferas, principalmente a uva, que demanda mão de obra quase todos os dias. Então optamos para a produção de flores. Nossa principal cultura são as orquídeas. O tempo do plantio até a colheita demora, mas não precisa ficar todos os dias em cima da produção. Dessa forma, utilizamos menos mão de obra”, explica.

A expectativa para este ano é positiva, com comercialização 50% maior em comparação a 2021. Ano passado, Yassunaka produziu flores que resultaram em 10 mil vasos. Neste ano, a expectativa é atingir uma produção para 15 mil vasos.

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“Com a retomada da economia e a diminuição das restrições da pandemia, as vendas estão aumentando gradativamente, sendo que estão vindo clientes novos, mais pessoas estão conhecendo nosso trabalho”, explica. A atividade tem proporcionado uma lucratividade de até 20%.

DESAFIOS

Entre os desafios da atividade, o produtor rural destaca o tempo entre a muda e a floração da orquídea e a falta de produtos no mercado.

“O maior desafio é tentar encurtar o tempo da muda de orquídea até a floração, pois demora uns 7 anos da semente até chegar na floração. Além disso, não há muitos defensivos agrícolas voltados para a produção de flores, é difícil encontrar algum. Quando aparece uma praga ou doença, vamos tentar achar nas lojas de defensivos e não encontramos para a cultura de flores.”

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Hoje as flores são comercializadas principalmente para quem vai até a propriedade e seleciona as plantas que deseja. “Gente que trabalha em floricultura, ambulantes e revendedores em geral”, lista. As vendas também são feitas por meio do site orquidea.net.br.

SÃO JOSÉ DOS PINHAIS

Apesar de Marialva ser a maior produtora de flores do Estado, São José dos Pinhais, na Região Metropolitana de Curitiba, registrou o maior VBP da floricultura em 2021 – R$ 23 milhões. Desse montante, no entanto, 97,8% foram provenientes da produção de gramado (ao todo, foram 3,8 milhões de unidades).

“Por São José dos Pinhais estar ao lado de um grande centro, os loteamentos, clubes recreativos e novos espaços de urbanização usam grama no paisagismo”, explica Paulo Andrade, engenheiro agrônomo do Deral.

Setor movimentou R$ 156 milhões em 2021

Dados preliminares do Deral mostram que o VBP da floricultura paranaense alcançou R$ 156,9 milhões em 2021. A participação do setor ainda é muito pequena diante do VBP estadual, de R$ 180,4 bilhões, representando 0,09% do montante estadual.

Luiz Alberto Pozzo conta que as plantas vêm de Holambra e Campinas
Luiz Alberto Pozzo conta que as plantas vêm de Holambra e Campinas | Foto: Gustavo Carneiro

“Num país onde 33 milhões de pessoas passam fome e 125 milhões não fazem as três refeições por dia, ampliar o consumo de flores é um desafio para o setor produtivo. Desta forma, ajardinamentos, eventos e datas comemorativas são o momento de ter produtos da floricultura em voga”, destaca Paulo Andrade, engenheiro agrônomo do Deral.

Próximo à metade do VBP da floricultura no Estado, precisamente 44,4%, refere-se à produção em cinco municípios: São José dos Pinhais, com 14,7%; Marialva, com 12,7%; Agudos do Sul, com 8%; Cianorte, com 5,1%, e Cascavel, com 3,9%.

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A atividade da floricultura está presente em 109 municípios paranaenses. Dados do Censo Agropecuário do IBGE, por sua vez, apontam que cerca de 900 agricultores se dedicam à atividade.

“Mesmo que reduzida frente à envergadura dos negócios da agropecuária paranaense, as atividades em floricultura estão presentes em 27,3% dos municípios paranaenses e se inserem na oferta de mão de obra no campo e na diversificação das propriedades rurais, possibilitando a ampliação da renda dos negócios rurais, além da beleza natural própria da atividade”, destaca Andrade.

Ceasa busca ampliação de produtores

A Ceasa de Londrina está desenvolvendo, junto ao IDR (Instituto de Desenvolvimento Rural), um trabalho com produtores e agroindústrias que atuam no ramo de flores e plantas, na Região Metropolitana.

O intuito é ampliar a comercialização e dar oportunidade a mais produtores que desenvolvem a atividade. Hoje, existem apenas três produtores cadastrados.

No primeiro semestre deste ano, foram comercializadas 64,4 toneladas de flores no entreposto de Londrina, volume 25% superior ao mesmo período de 2021, quando a comercialização atingiu 51,5 toneladas.

Entre as espécies comercializadas figuram orquídeas, samambaia, rosas em vaso e em botão, kalanchoe, crisântemo, entre outras plantas ornamentais. A comercialização abrange atacado e varejo.

“Estamos realizando benfeitorias e ampliação da estrutura física da Ceasa para atender a demanda, visando atender o público em geral”, destaca Marcos Baptista, fiscal de mercado da Ceasa de Londrina.

Levantamento feito pelo Deral mostra que não há produtores de flores cadastrados atualmente na zona rural de Londrina.

Entre os municípios vizinhos com produção, está Ibiporã, que em 2020 gerou um VBP (Valor Bruto de Produção) de R$ 247,2 mil relativo a flores.

“Com relação ao clima, não há empecilhos para a produção, já que em grande parte das propriedades ela é feita em ambiente controlado”, explica William Arc Meneguel, economista do Deral.

Na pandemia, floriculturas se reinventaram

A retomada dos eventos em Londrina está reaquecendo o comércio de flores na região. A Floricultura Shangri-lá (zona oeste) é uma das mais conhecidas de Londrina e suas vendas são de maior volume para casamentos, cerimônias e decorações em geral. O negócio ficou fechado fisicamente nos meses de junho a agosto de 2020, durante o período, Luiz Alberto Pozzo, administrador do local, conta que para amenizar os prejuízos as vendas e entregas migraram para aplicativos de mensagens instantâneas.

A Floricultura Shangri-lá tem maior volume de vendas no segmento de decorações de eventos, como casamentos
A Floricultura Shangri-lá tem maior volume de vendas no segmento de decorações de eventos, como casamentos | Foto: Gustavo Carneiro

O método adotado funcionou e optaram para continuar como ponto de venda da empresa. “Sofremos bastante, mas agora tudo está bem animador”, relata Pozzo, para quem a retomada dos eventos deve alavancar as vendas de flores e já aumentou a demanda de compras - suas flores são trazidas das cidades de Holambra e Campinas, no estado de São Paulo.

Já a Floricultura Cheia de Graça, localizada na zona norte, fechou por apenas 15 dias na pandemia, nos quais reinventou a maneira como faziam negócios. O proprietário, Otaniel de Souza adaptou as vendas de flores para aplicativos de entregas. Souza conta que os negócios já não estavam bons antes da pandemia e se agravou durante os lockdowns. A única alternativa foi ampliar seu catálogo de produtos e, hoje, além das flores que ele compra da região de Curitiba, vende, também, cestos, arranjos e vasos – o foco das vendas deixaram de ser decoração de interiores e eventos.

Ambos os comerciantes são uníssonos em dizer que, de todas as flores há, sim, as prediletas e as campeãs de vendas são as rosas, orquídeas e os famosos buques. (Larissa de Assis, estagiária. Com a supervisão de Patrícia Maria Alves)

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