Itching from foot fungus on grass in the park.
Itching from foot fungus on grass in the park. | Foto: Punnarong

Quando eu era criança ia com meus pais no sitio de parentes e quando voltava, depois de uns dias já percebia nos dedos aquela coceirinha gostosa nos cantinhos das unhas. Era o que chamávamos de bicho de pé. Pudera, eu rodeava o chiqueiro de chinelo de propósito pra isso. E coçava,hein? Era uma coceirinha leve e quanto mais coçava, mais dava vontade de coçar.

Aí minha mãe olhava e dizia: -quando formar uma batatinha no dedo a gente tira ,senão zanga! Zangar era inflamar. Quando dali uns dias formava a tal batatinha no dedo, ela falava pra eu fazer um pipi numa latinha de goiabada vazia e fervia com um punhadinho de fumo picado. Depois pegava uma agulha e esquentava no fogo do fogão pra desinfetar e tirava o bicho inteirinho do meu dedo. Colocava um pouco do fumo com urina que estava ainda quente no local e amarrava um pedacinho de trapo. Dali um pouco já podia tirar e sair jogando bola na rua onde ali sim arrancava os tampões dos dedos no asfalto com uma bola de futebol já com os gomos saindo de dentro do couro. E lá se vão uns quarenta e poucos anos.

Naquela época, quando terminava a visita ao sítio, depois de andar por tudo e colher umas frutas, arrancar mandioca do chão, apanhar umas abóboras e mais o que nos dessem, pra levar pra casa (e meus tios ainda diziam:leva mais,gente!), íamos ao chiqueiro com meus primos pra ver darem comida para os porcos. Os porcos ficavam gritando num determinado horário,e quase se matavam quando viam a lavagem levada em baldes.

Era uma mistura de pedaços de abóbora, ração e sei mais lá o quê. Cheirava um azedo que animava o paladar dos suínos tanto que quando colocavam a comida nos cochos eles brigavam insanamente entre si, pois um queria comer primeiro que o outro. Afinal, quem comia primeiro comia mais. Normalmente tinha um mais gordo do que o outro no mangueirão.

Tinha sempre uma porca enorme cheia de filhotes e um cachaço que era o reprodutor que também era grande. Era bonito de ver os bichos comerem. Os bichos mais novos endoidavam quando jogava-se uma folha de abóbora lá no meio deles. Um corria e brigavam até cada um sair com um pedaço da folha que havia arrancado de outro. Mas no final se acalmavam depois de saciados. O chiqueiro ficava calmo e só se ouvia de vez em quando algum grunhido daquele que havia comido menos ou apanhado mais.

Saíamos com o carro cheio de coisas que meus parentes nos davam.Íamos agradecidos pela estrada subindo o carreador que tinha aquelas lombadas pra diminuir a força da enxurrada e nos cantos havia uns buracos para a chuva. Também na beira do carreador lembro das pequenas taperas para abrigar o pessoal que trabalhava na roça em algum imprevisto de chuva ou para se guardar temporariamente alguma ferramenta ou mantimento colhido.

Enquanto saíamos, ainda víamos mãos levantadas nos dando acenos. Era sempre uma alegria uma visita no sítio pois víamos primos, tios e havia um elo familiar que não se perde até hoje mesmo não nos visitando com tanta frequência.

E que gostoso que era chegar em casa já coçando o pé. Claro que era o bicho de pé!

DAILTON MARTINS, LEITOR DA FOLHA

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