Qual o efeito das 'noticias" falsas? Boa parte dos seres humanos costuma tomar suas decisões baseadas em sentimentos e emoções em vez de fazer isso com base em fatos. Muitas delas acontecem pelo efeito manada ou pelo instinto de sobrevivência no grupo ao qual pertence, ou seja, as pessoas replicam comportamentos e ideias para não ficarem isoladas. Isso ocorre porque o cérebro humano evoluiu para garantir a sobrevivência da espécie. Quando essa visão de mundo é desafiada, esse instinto faz com que as pessoas reajam de forma agressiva. Essa tentativa de contrapor crenças com fatos muitas vezes gera o efeito “tiro pela culatra”, isto é, as pessoas ficam ainda mais convencidas de suas ideias originais por medo de uma novidade disruptiva. Esse medo pode levar as pessoas a tentarem convencer outras de sua visão de mundo, mas disseminar a informação que acredita se torna um ato perigoso quando o componente emocional entra em jogo. Para algumas pessoas vale tudo. Até mentir. Essa é a gênese das "notícias" falsas.

Imagem ilustrativa da imagem FAKE NEWS| Contra o vale-tudo na propagação da informação

A docente do departamento de ciência da informação da UEL (Universidade Estadual de Londrina), Ana Cristina de Albuquerque, é doutora em Ciência da Informação pela Unesp (Universidade Estadual Paulista) e ressalta que a disseminação das informações falsas não é um fenômeno novo. “Há registros de historiadores do século 4 que identificaram histórias duvidosas sobre alguns imperadores”, destacou. Ela afirma que há um apelo popular, emocional e servem como gatilho catalisador para que pessoas de várias idades e de diferentes níveis de escolaridade sejam estimuladas a acreditar e a disseminar essas informações. Mesmo sendo um fenômeno antigo, ela ressalta que agora há um fator enfático, que são plataformas digitais. Ela ressaltou que nas redes sociais a tendência é viver com essas bolhas e para rompê-las só por meio da educação. “Mas não é qualquer uma delas, é a educação crítica, que dê condições da pessoa pensar e não a coloque em um ambiente alienado. Esse é um desafio muito grande, principalmente em um País como o nosso”, apontou.

A docente diferencia a notícia errada da falsa notícia. Segundo ela, a notícia errada é aquela em que existe a chance de corrigir uma informação, mas a falsa notícia é produzida intencionalmente para criar um boato. Ela explica que a falsa notícia nunca é gerada por brincadeira e comumente causa prejuízos. São informações criadas para ter propagação rápida e para provocar a desinformação.

Para quem acredita que as redes sociais são meios democráticos para a difusão da informação, ela apontou que a horizontalidade das redes sociais é uma falácia. “Existem relações de poder. As notícias falsas têm muito mais propagação que notícias verídicas. Todas essas questões de leis sobre redes sociais e aplicativos são extremamente urgentes”, afirmou. “Se tivéssemos conhecimento científico sendo divulgado com velocidade e dinâmicas que são divulgadas notícias falsas seria maravilhoso, mas não é assim que nós vemos”, destacou.

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MODELO DE NEGÓCIO

O professor André Azevedo da Fonseca ministra a disciplina de Tecnologias de Comunicação e Informação para o curso de jornalismo da UEL e ressalta que as informações falsas se espalham muito nas redes sociais pelo próprio modelo de negócios. “As pessoas ficam muito suscetíveis a reagir quando se deparam com conteúdos que são escandalosos, exagerados e provocam raiva. Os próprios criadores das redes sociais fizeram um sistema em que as pessoas são recompensadas emocionalmente diante desse tipo de conteúdo. As pessoas se sentem estimuladas a reagir, a engajar, a criticar, a participar e compartilhar. Por outro lado, o momento político acirrado faz com que as pessoas compartilhem sabendo que as informações são falsas com o objetivo de convencer o outro até mesmo com mentiras.”

Segundo ele, muitos imaginam que as redes sociais são um terreno democrático, livre e cada um pode se expressar da forma que quiser e acham que a informação circula de forma saudável. “Não é o que acontece. As redes sociais têm interesses. Há propaganda disfarçada de informação. Existe a intermediação das redes sociais, mas esse intermediário, que são os algoritmos, é invisível. Eles não são neutros. São as programações da própria rede para direcionar conteúdo de forma deliberada. Elas distorcem ou amplificam temas que não tem importância e ocultam temas que são importantes. O grande objetivo dos algoritmos não é informar e oferecer conteúdos de qualidade, mas promover engajamento, seja por raiva ou por desejo, para que a pessoa fique mais tempo na plataforma. Assim a pessoa entrega seus dados e cada detalhe de interação da pessoa torna-se commoditie. São dados preciosos e caros que as redes sociais vendem por milhões para empresas de publicidade”.

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Para Azevedo, a virtude dos veículos tradicionais é que os vieses são declarados. “Esses veículos podem ser criticados a partir de determinada perspectiva, mas nas redes sociais há a ilusão de que a matéria não tem filtro, mas não há parâmetro para criticar se a informação é correta ou não.” Ele reforça que a informação divulgada na rede social não é assinada, não vem de lugar algum. “A pessoa pode inventar qualquer coisa e isso pode convencer as pessoas, até as instruídas. De repente aparecem gráficos no WhatsApp querendo provar qualquer coisa e as pessoas acreditam sem saber de onde vem esse gráfico, quem foi que criou e quais eram as intenções da pessoa que criou aquilo. Como a imagem do gráfico é impactante, as pessoas atribuem importância matemática de certeza a uma imagem com essa retórica. Esses truques acabam sendo bem sucedidos. Um dos cuidados imprescindíveis para lidar com rede social é buscar sempre a fonte”.

Outro conselho é desconfiar de tudo. “Esse é o primeiro ponto. O segundo é não ser muito ávido na hora de compartilhar.” Ele recomenda às pessoas a não criticar a publicação sem antes parar para pensar sobre ela. “Há várias formas de enganar. Matérias antigas são compartilhadas e as pessoas são induzidas a acreditar que são recentes por não ver a data da matéria. Muitas vezes é uma notícia verdadeira, mas por ser velha pode induzir ao erro pela falta de contexto. É preciso ter calma e paciência. A pessoa não deve se impressionar imediatamente pelo conteúdo que circula pela linha do tempo em sua rede social."

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