Imagem ilustrativa da imagem FOLHA CONFERE | Informação de pagamento de R$ 18 mil por morte de Covid-19 é falsa

Nas redes sociais têm circulado um vídeo acusando os hospitais de receber R$ 18 mil a cada registro de óbito por Covid-19. No vídeo o narrador exibe um atestado de óbito do dia 16 de junho, e diz que o documento é de um sujeito que morreu de infarto e que havia a anotação de que a causa era Covid-19. A gravação foi feita por um morador do município de Ipê (RS). Logo a Smsas (Secretaria Municipal de Saúde e Assistência Social de Ipê) emitiu uma nota pela qual diz que a declaração de óbito apresentada trata-se de um óbito domiciliar que ocorreu no município de Ipê e foi atestado por médico lotado na Secretaria Municipal de Saúde. “Por se tratar de um óbito domiciliar, sem assistência médica, não foi possível a precisão da causa mortis. Desta forma, seguiu-se o protocolo estabelecido pela resolução conjunta do Cremers (Conselho Regional de Medicina do Rio Grande do Sul) nº01/2020 (art.3).” O protocolo determina a coleta de material biológico até 24 horas após o óbito para exame de SARS-CoV2, a ser encaminhado para o laboratório, e recomenda que o médico descreva a sequência de diagnósticos na Declaração de Óbito e as outras condições clínicas significativas que contribuíram para a morte e que não entraram na sequência que determinou a morte.

“Quanto à declaração que hospitais e instituições de saúde receberiam repasses de recursos por óbito confirmado de Covid-19, desconhecemos tal informação, pois não há qualquer portaria ou decreto do Ministério da Saúde que confirme esta citação. Portanto, a Prefeitura Municipal de Ipê através da Smsas (Secretaria Municipal de Saúde e Assistência Social de Ipê) repudia toda e qualquer forma de fake news e desmoralização profissional. Alertamos à população que antes de acreditar, compartilhar ou disseminar qualquer tipo de informação, verifiquem a veracidade da mesma.”

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Mesmo que o caso tenha ocorrido no Rio Grande do Sul, o vídeo tem circulado em redes sociais de londrinenses. A Diretora Superintendente do HU/UEL (Hospital Universitário da Universidade Estadual de Londrina), Vivian Feijó, ressalta que a informação é improcedente. “O Ministério da Saúde não preconiza valor para fazer registro por Covid-19. A diária do leito Covid-19 está fixada em R$ 1600. O leito de enfermaria Covid está fixado em R$ 300 reais por dia, com tempo médio de cinco dias”, destacou. Ela explicou que o protocolo determina que seja anotado a possibilidade de que o paciente morreu de Covid-19 quando não se consegue excluir esse diagnóstico no primeiro exame. “Sem esse resultado a pessoa pode estar no período de transmissibilidade e é preciso adotar medidas sanitárias de proteção de todos que manipulam esse corpo, como os preparadores de corpo, o pessoal do necrotério, o pessoal que trabalha no serviço funerário, etc.”

Ela relatou que o HU já foi vítima de informações falsas, quando áudios compartilhados em aplicativo de mensagens geraram especulação sobre três crianças que estariam entubadas por conta do Covid-19, no HU de Londrina, o que era falso. “O Gaeco fez um trabalho de excelência. Quando uma informação falsa gera pânico na população pode provocar o caos e pessoas podem adoecer em função dessa angústia”, destacou.

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OUTRA REALIDADE

O Secretário de Saúde de Londrina, Felippe Machado, ressaltou que não existe essa história de que o município ganhe por mortes por Covid-19. “Os tratamentos do SUS têm uma tabela. Com o advento da Covid-19, o Ministério da Saúde criou códigos diferenciados para internação em enfermaria de Covid-19 e outro para UTI de Covid-19”, explicou.

“A Covid está ensinando muita coisa para nós. Estamos vivendo uma outra realidade. O consumo de EPIs (Equipamentos de Proteção Individual) aumentou absurdamente. Temos que garantir a segurança do profissional de saúde, porque é a categoria mais suscetível à contaminação por conta da exposição ao vírus. Há gastos com esterilização, com higienização, ações que já eram realizadas devido ao protocolo hospitalar, mas com o advento da Covid-19 há diferenças em relação ao protocolo de higienização das ambulâncias do SAMU, por exemplo.

“Agora realizamos a desinfecção a cada transporte, com produtos específicos. O próprio local em que os pacientes são internados tem essa necessidade. Há um custo maior tanto por conta de EPIS, desinfecção, mas também por conta do afastamento de servidores do trabalho, que acaba sendo maior do que em outras oportunidades”, ressaltou.

Machado ressaltou que a pandemia trouxe essa realidade que exige aporte maior de recursos para fazer atendimento de qualidade. “Londrina não fechou unidades de saúde. Remodelamos algumas unidades. Também fizemos a expansão de leitos da rede hospitalar e contratamos muitos profissionais de saúde”, destacou.

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ITENS QUE NÃO FAZIAM PARTE DAS AQUISIÇÕES

A farmacêutica Daniele Zampar é assessora técnica da Secretaria de Saúde e integra o comitê de suprimentos Covid-19. Ela ressalta que muitos itens que usam hoje não eram comprados até o ano passado. “Itens como o macacão de proteção e aventais descartáveis impermeáveis não faziam parte dos equipamentos de proteção que adquirimos até o ano passado. O macacão era zero. Hoje adquirimos 1500 macacões por mês. Cada um custando R$ 29. Os aventais também não eram adquiridos e agora estamos usando 10 mil unidades por mês e cada um custa R$ 10”, ressaltou.

Ela explicou que existem itens que já eram usados, mas hoje a quantidade é muito maior. “As máscaras cirúrgicas, por exemplo, hoje usamos 30 mil por semana, o que equivale a um gasto de 120 mil unidades por mês. Antes usávamos sete mil delas.” Ela explica que houve mudança nos preços praticados no mercado. “A máscara custava R$ 0,08 centavos a unidade e agora pagamos R$ 3. Além disso, falta TNT e filtro para confeccionar as próprias máscaras. Esses materiais compõem uma das camadas que retém partículas. Isso sumiu do mercado e ajudou a inflacionar o preço”, expôs.

Zampar destacou que o consumo da máscara FPF 2 (Fator de Proteção Facial número 2), também conhecida por N95, não atingia 100 unidades por mês e agora são usadas cerca de três mil por mês. “Cada uma custa R$ 12 aproximadamente. Antes não usávamos 100 por mês, porque era só usada para sarampo ou outros procedimentos específicos. Antes distribuíamos 30 óculos por mês, agora o consumo é de 250 unidades por mês”, destacou. O face shield (uma proteção transparente para o rosto) nunca foi comprado. “Até agora só recebemos doação, mas teremos de comprar a partir de agora”, apontou.

ORÇAMENTOS E PESQUISA

O Secretário Municipal de Gestão Pública de Londrina, Fábio Cavazotti, ressaltou que todas as compras feitas para a Covid-19 são instruídas com muitos orçamentos e com uma pesquisa de mercado bem ampla. “Isso garante um valor efetivamente praticado. Todas as compras são discriminadas separadamente na página de Covid-19, em nosso site, além de estar também no Portal de Transparência. Em Londrina tomamos a decisão de não fazer o pagamento antecipado dos produtos. Ele só é feito depois de recebido o produto e atestada a qualidade pela Secretaria de Saúde”, enfatizou.

Um exemplo de produto que não era utilizado anteriormente e hoje precisa ser adquirido são os reagente para fazer os testes para a detecção do novo coronavírus. “Se tivéssemos que contratar laboratórios para realizar esses testes, ele sairia por mais de R$ 200 e com a compra de reagentes e o termo de cooperação com o laboratório do HU podemos fazer testes PCR padrão ouro para detecção da Covid por pouco mais de R$ 40. Muito menos que um teste rápido que custa R$ 150 ”, declarou Cavazotti.

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