A máxima de que "saco vazio não para em pé" também tem seu reconhecimento quando o assunto é estudar e assimilar o conhecimento. Os problemas decorrentes da falta de uma nutrição adequada nos primeiros anos de vida podem marcar toda a trajetória estudantil e adulta de crianças mal nutridas e produz efeitos no desenvolvimento cerebral e cognitivo.

Diversos estudos já mostraram que o processo de desenvolvimento obedece a um programa genético influenciado por diversos fatores ambientais, incluindo os nutricionais. Além disso, segue uma sequência temporal de amadurecimento gradativo de circuitos neurais, iniciando pelos sistemas sensoriais, seguidos dos sistemas motores e depois dos mais complexos: cognitivos, emocionais e outros.

Em dia com o Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE), a rede municipal de ensino demonstra exemplos bem-sucedidos em sua rotina. Na Escola Municipal Hikoma Udihara, a oferta e o consumo de alimentos frescos e selecionados integra a rotina dos atuais 441 alunos atendidos. Sem deixar de lado o prazer proporcionado pelos alimentos, a diretora da unidade, Iracema Sbizera dos Santos Ribeiro, explica que o tema alimentação saudável também compõe as tarefas escolares de modo interdisciplinar.

É possível incluir o assunto na disciplina de Matemática ao propor problemas que incluam as frações das merendas, as unidades de medidas e o cálculo de uma receita e a quantidade de pessoas a serem servidas. Da mesa para a carteira, é possível explorar a pauta na Geografia e História: "Em relação ao que consumimos, nossa herança cultural e nossos hábitos estão presentes. Um exemplo é a mandioca, sob influência dos indígenas", cita Ribeiro.

Com propostas em consonância com a sequência didática de cada ano, os conteúdos fluem disciplina por disciplina. Abordar a importância de uma alimentação saudável e equilibrada permite discutir o ponto de vista das Ciências e da Educação Física também ao avaliar questões singulares como o plantio e desenvolvimento de grãos, assim como os impactos do sedentarismo no organismo, respectivamente.

A diretora comenta que além do cardápio mantido pela Secretaria de Educação, que preza pela variedade, qualidade e preparo em conformidade com cada faixa etária, há datas especiais que ganham lanches diferentes do que é servido no dia-a-dia como cachorro quente, pipoca, mingau de chocolate e bolo de chocolate.

DIETAS ESPECIAIS

Na Escola Municipal Mari Carrera Bueno , localizada no Jardim Santa Rita, em média são servidas diariamente 1100 refeições. E isso sem contar os lanches, pois com 650 matriculados - do P5 ao EJA, o estabelecimento educacional orgulha-se da cozinha que tem, e também do prestígio dos alunos ao que é preparado com muito carinho pela equipe profissional.

De acordo com a diretora auxiliar, Cristina Curilazo, a recepção é excelente. "Nossa comunidade é bastante carente e os alunos já chegam à escola perguntando o que vai ser o lanche", comenta. "São pratos feitos no capricho, da salada até a sobremesa", divide.

A diretora explica ainda que para os alunos que possuem algum tipo de dificuldade, há um preparo especial. "Geralmente os autistas preferem só o arroz e a carne. Os diabéticos comem arroz integral e para os que tratam a obesidade a dieta é controlada", menciona.

Com direito a repeteco, a combinação arroz, feijão e carne é das mais festejadas. "Nos próximos dias, os alunos irão preparar um sanduíche - com tomate, alface, frango e milho". A atividade gastronômica é a culminância da leitura da obra " O sanduíche da Maricota", de Avelino Guedes, Editora Moderna, desenvolvida na aula de Língua Portuguesa.

No poema, a galinha Maricota preparou um sanduíche. Mas, antes de conseguir comer, a bicharada toda começou a chegar e dar palpite para tornar o sanduíche da Maricota mais gostoso. O resultado é difícil de explicar. Só lendo mesmo. Em recente atividade, os alunos do P5 entenderam melhor o caminho que os alimentos fazem - da lavoura até o prato, com direito a ter em sala de aula um caminhão simulando o importante trabalho do transporte que precisa ser realizado.

Na escola Municipal Mari Carrera Bueno, a simulação do transporte dos alimentos, em caminhões de brinquedo, integra o processo de alimentação
Na escola Municipal Mari Carrera Bueno, a simulação do transporte dos alimentos, em caminhões de brinquedo, integra o processo de alimentação | Foto: Divulgação

LANCHE PEDAGÓGICO

Na Escola Municipal Doutor José Hosken de Novaes o prato favorito é a macarronada com molho e carne moída. Mas os alunos também não escondem do que não gostam. "Carne com legumes", admite a diretora, Adriana Belizário da Silva. Mas existe uma comunicação permanente com as famílias para que contribuam no sentido de manter em casa o incentivo a uma alimentação equilibrada. "Sempre, inclusive com atividades envolvendo as famílias e convite para que participem do lanche pedagógico na escola", afirma.

Do alto do conhecimento de Silva, a alimentação fornecida pela escola é adequada. "Rica em legumes, frutas e verduras. No cotidiano da escola, o assunto também está presente em diferentes abordagens. "O Projeto Alimentação Saudável e "Jovem Empreendedor Pequenos Passos ( salada de frutas; geladinho gourmet, vitaminas - projeto para degustação e vendas) são exemplos. Assim como o da "Alimentação Saudável na Educação Infantil - "Sopa do Neném", um projeto desde a ida ao mercado para verificação de preços e qualidade do alimento até o preparo de sopa de letrinhas com legumes", cita.

Sobre eventual dificuldade dos alunos em relação a determinados itens, comenta: "Encontramos certa resistência em experimentar alguns alimentos, especialmente os legumes, na turma dos menores, o P5. O projeto "A Sopa do Neném", favorece esta experiência de experimentar novos sabores", acrescenta.

Na Escola Municipal José Hosken de Novaes, alimento fresquinho é rotina na hora da refeição
Na Escola Municipal José Hosken de Novaes, alimento fresquinho é rotina na hora da refeição | Foto: Divulgação

COZINHAS REGULAMENTADAS ATENDEM NORMAS DO PNAE

Nos bastidores, cozinhas equipadas para dar conta de preparar e servir refeições de acordo com todas as exigências do Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE). De acordo com a Diretora Financeira e de Compras da Secretaria Municipal de Cultura, Márcia Figueiredo Barioto, a Lei nº 11.947, de 16/6/2009, dispõe sobre o atendimento da alimentação escolar e está regulamentada atualmente pela Resolução CD/FNDE nº 06, de 8 de maio de 2020 e suas alterações.

Só em agosto de 2023, foram preparadas e servidas 1.148 312 refeições na Rede Municipal de Ensino. "Além do regramento para a composição dos cardápios, respeita-se também o Guia de Alimentação Nutricional, que inclui normas como por exemplo a não inclusão de açúcar nas refeições de crianças de 0 a 3 anos", explica.

Com seis nutricionistas e uma estrutura melhorada neste ano, a alimentação dos alunos cumpre critérios rigorosos e, sem perder o gosto, deixam alunos satisfeitos e alimentados de forma adequada. Para aprimorar a qualidade e eficácia das cozinhas e da alimentação escolar em Londrina, a Secretaria Municipal de Educação (SME) fez a aquisição de novos fogões que serão repassados às unidades de ensino da rede municipal, das áreas urbana e rural.

A ideia é ter comida saudável e "de verdade" nas escolas, na contramão dos alimentos industrializados e processados cada vez mais comuns entre crianças e adolescentes.