A pandemia tem provocado diversas mudanças comportamentais pelo mundo afora, algumas delas bastante positivas. Diante das restrições a eventos sociais adotadas para tentar conter a disseminação da Covid-19, muitos brasileiros estão redescobrindo o prazer da leitura. Um levantamento recente apontou que em 2021 as vendas de livros no país aumentaram 29% em relação a 2020. Com essa retomada, o setor que vinha apresentado quedas significativas obteve um faturamento de R$ 2,28 bilhões no ano passado.

Segundo dados divulgados pelo Sindicato Nacional dos Editores de Livros (SNEL) na semana passada, o mercado editorial brasileiro fechou o ano de 2021 com 55 milhões de livros vendidos. A pesquisa realizada junto a livrarias, e-commerce e redes varejistas apontou ainda que o preço médio de cada unidade vendida foi de 43,26 reais. O número representa um crescimento de 8,77% em relação a 2020, quando o valor era de 39,77 reais. Os dados constam do 13º Painel do Varejo de Livros no Brasil, pesquisa feita pela Nielsen BookScan.

De acordo com o PublishNews, site que reúne informações diárias ligadas ao setor editorial, “Mais esperto que o diabo” (Citadel), clássico de Napoleon Hill ficou em primeiro lugar na lista geral dos livros mais vendidos. “O poder da autorresponsabilidade” (Gente), de Paulo Vieira, ocupa a segunda posição. O terceiro colocado foi “Mindset milionário” (Buzz), de José Roberto Marques.

Fenômeno de público e crítica, “Torto Arado”, de Itamar Vieira Junior, liderou o topo da Lista Anual de Ficção, seguido de “A Garota do Lago” (Faro Editorial), de Charlie Donlea; e de “Os Sete Maridos de Evelyn Hugo” (Paralela), de Taylor Jenkins Reid.

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A Lista Anual de Não Ficção foi liderada por “Mulheres que Correm com os Lobos”, seguido por Mindset (Objetiva), de Carol Dweck, que ficou em segundo lugar. Laurentino Gomes ocupa o terceiro lugar com o segundo volume de Escravidão (Globo Livros).

Na categoria Autoajuda, o livro mais vendido de 2021 foi “Mais Esperto que o Diabo”, de Napoleon Hill. Na sequência veio “A Coragem de ser Imperfeito” (Sextante), de Brené Brown, e “A Sutil Arte de Ligar o Foda-se" (Intrínseca), de Mark Manson. A categoria Negócios foi liderada por “O Poder da Autorresponsabilidade”, de Paulo Vieira, com “Mindset Milionário”, de José Roberto Marques, em segundo. No terceiro lugar, ficou “Do mil ao milhão” (HarperCollins), de Thiago Nigro.

A influência do TikTok se fez presente na Lista Infantojuvenil. “Vermelho, branco e sangue azul” (Seguinte), de Casey McQuiston, e “Mentirosos” (Seguinte), de E. Lockhart, que fazem sucesso no aplicativo ocuparam, respectivamente, a primeira e a segunda colocação. O bronze da categoria ficou com o box “Harry Potter” (Rocco), de J.K. Rowling.

BOA COMPANHIA DURANTE O ISOLAMENTO

Sueli Bortolin, bibliotecária e professora: "“Leio livros impressos e textos digitais, mas, sem dúvida, sinto mais prazer na leitura  do  impresso, ele não fica sem bateria"
Sueli Bortolin, bibliotecária e professora: "“Leio livros impressos e textos digitais, mas, sem dúvida, sinto mais prazer na leitura do impresso, ele não fica sem bateria" | Foto: Roberto Custódio/ Arquivo Folha 12-03-2020

Na avaliação de Sueli Bortolin, Bibliotecária de formação e atualmente docente do Programa Pós-graduação em Ciência da Informação da Universidade Estadual de Londrina (UEL), a busca maior por livros durante a pandemia pode ter sido motivada por vários fatores. “O livro é uma companhia que nos permite manter o diálogo com autores/personagens em um encontro de subjetividades com concordâncias ou conflitos. Outra possibilidade é buscar, no livro, respostas num período insano de discursos divergentes, inimizades, falsas informações, agressividade, medo, morte e dor”, argumenta.

Ela acredita que as recentes campanhas contrárias à disseminação da leitura acabaram tendo efeito contrário. “Há um discurso de que os livros e as bibliotecas não servem para nada e vão sumir. Há uma insinuação de que ler é coisa de quem não tem o que fazer (para não usar outras palavras). Há quem queira proibir os livros, quem manda encaixotá-los e fechar bibliotecas. Isso tudo faz despertar ainda mais o interesse pelos livros, principalmente de quem conhece a importância deles na formação humana”, ressalta

Apesar de ser favorável à democratização da leitura proporcionada pelos livros digitais, Sueli afirma não abrir mão de ler um livro impresso. “Leio livros impressos e textos digitais, mas, sem dúvida, sinto mais prazer na leitura do impresso, em especial se for literatura. Recentemente, peguei o Kindle do meu irmão, li um livro e concluí que: na medida em que envelheço, as possibilidades de tamanho de letra neste dispositivo me proporcionaram conforto. Estou buscando novos modos de leitura, porém não me desapego dos livros infantis com ilustrações maravilhosas que, por serem uma paixão, são insubstituíveis”, relata ao destacar as características positivas tanto dos livros impressos quanto dos digitais.

Sueli enfatiza que o livro impresso permite que durante a leitura o leitor estabeleça uma relação tátil (gramatura do papel, cortes), visual (cores e imagens), olfativa (cheiros) e com foco (sem interrupções de propagandas etc.). “O livro impresso não fica sem bateria e está disponível em qualquer momento e situação. O livro digital permite uma maior portabilidade, principalmente no celular que cabe no bolso, e democratiza a leitura, com a utilização de softwares especializados voltados a pessoas com deficiência visual. O audiolivro também possibilita aos analfabetos o acesso à literatura e à informação”, conclui.

Samantha Abreu, escritora e agente cultural do Sesc: “Os participantes dos clubes leem, em média, 12 livros por ano"
Samantha Abreu, escritora e agente cultural do Sesc: “Os participantes dos clubes leem, em média, 12 livros por ano" | Foto: Anderson Coelho/ Arquivo Folha 18-01/2019

Escritora e responsável pela coordenação dos eventos literários promovidos pelo Sesc Cadeião Cultural em Londrina, Samantha Abreu revela que os livros de romance são os mais procurados pelos leitores londrinenses na biblioteca da instituição em que ela trabalha. "Os leitores gostam, se envolvem, gostam de falar sobre a leitura da história que leram”, salienta.

Ela comenta que tem percebido um aumento considerável de busca e de interesse por literatura brasileira, sobretudo contemporânea. “Há alguns anos atrás, me lembro de as pessoas, de forma geral, lerem muito autores estrangeiros de best sellers. Tenho notado uma mudança nisso, com obras nacionais tomando o lugar de interesse dos livros mais vendidos e mais buscados”, avalia.

Samantha acredita que os clubes de leitura têm influenciado positivamente nessa mudança. “Os participantes dos clubes leem, em média, 12 livros por ano. Isso faz com que muitas pessoas que participam leiam mais do que fariam solitariamente”, ressalta.

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