"Toca Cavalo Preto": canção de mais de 70 anos vira hit no País
Música preferida do personagem Zé Leôncio na novela 'Pantanal' faz grande sucesso; o violeiro Tiago Luziano fala do gênero sertanejo
PUBLICAÇÃO
sábado, 23 de julho de 2022
Música preferida do personagem Zé Leôncio na novela 'Pantanal' faz grande sucesso; o violeiro Tiago Luziano fala do gênero sertanejo
Marcos Roman - Grupo Folha
Cantando e tocando música sertaneja em bares e eventos de Londrina e cidades da região há cinco anos, Tiago Luziano estranhou quando, recentemente, o público começou a pedir pra ele interpretar “Cavalo Preto”. “Conhecia essa canção da época em que era criança e meus pais costumavam ouvi-la. Como não assisto a novelas, não entendi porque estavam pedindo para eu tocar essa música que fez sucesso há tanto tempo. Fui descobrir o motivo há algumas semanas, pois alguém da plateia comentou comigo que era por causa da novela Pantanal”, comenta o cantor e violeiro londrinense.
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Ao contrário de Luziano, quem acompanha o remake do folhetim exibido com sucesso pela Rede Globo já se acostumou a ouvir o personagem Zé Leôncio (Marcos Palmeira) pedir pra tocarem a música que o faz lembrar de seu pai. A canção que narra a rotina de um peão que tem um cavalo preto, chamado Ventania, que o acompanhada em viagens pelo Brasil afora e deixa um rastro de saudade" por onde passa foi composta por Anacleto Rosas Júnior. Gravada pela primeira vez em 1946 pela dupla Palmeira & Luizinho, a música já ganhou releituras nas vozes de Tonico & Tinoco; Cezar & Paulinho e Sérgio Reis, que integrou a trilha sonora das duas versões de "Pantanal".
A música também passou a fazer parte dos shows do cantor Tiago Luziano, um grande admirador da música sertaneja de raiz. “Tenho um repertório eclético para atender o público, mas o que gosto mesmo de tocar é música caipira”, confessa ao elogiar seu gênero musical preferido. “A exemplo de 'Cavalo Preto', a música sertaneja de raiz retrata em suas letras a rotina do homem do campo, descrevendo paisagens e acontecimentos da vida rural. Outra característica marcante é que sempre têm uma viola e uma sanfona bem tocadas. Infelizmente, esses elementos não estão presentes no que chamam de sertanejo universitário”, reclama o cantor.
Na avaliação dele, a descaracterização da música caipira ocorreu devido ao êxodo rural. “Se você observar, nas décadas de 50, 60 e 70, cerca de 70% da população morava no campo. A música sertaneja daquele período trazia consigo essa questão da identidade. As letras tinham uma pegada romântica: retratavam o cavalheirismo do homem que exaltava a beleza da mulher e enalteciam a paisagem rural. Eram histórias de quem se apaixonava e achava que ia morrer de amor. Hoje em dia, devido ao contexto atual, as letras do sertanejo universitário falam de baladas e pegação, do homem que pensa que se a mulher não me quer eu pego outra”, argumenta.
Luziano aponta ainda mudanças em relação aos arranjos das músicas do sertanejo universitário. “Acho natural que haja inovações, principalmente em relação à chegada de novos instrumentos. A dupla Henrique e Juliano, por exemplo, inclui a gaita de fole - que é típica da Escócia - em uma das suas músicas. O que não pode é perder o foco daquilo que é essencial. Há duplas que gravam 30 músicas sem ter uma viola ou uma sanfona na banda, que são instrumentos típicos da música sertaneja”, reclama.
BUSCAS AUMENTARAM 3.000%
O cantor londrinense acredita que essas descaracterizações da música caipira citadas por ele acontecem devido à padronização do mercado. “Todas as duplas seguem a mesma receita com o objetivo de tocar no rádio e obter visualizações e likes. O padrão mercadológico é ter letras curtas com refrão chicletinho, aquele que cola de primeira. Não que isso seja ruim. É uma realidade de mercado não somente no Brasil, mas com isso acaba se perdendo a essência da música sertaneja de raiz”, critica.
Embora o sertanejo universitário domine a preferência do público brasileiro, Luziano acredita que ainda tenha espaço para a música sertaneja de raiz. “O universo sertanejo faz parte da nossa cultura. Basta observar as festas juninas que aconteceram em Londrina recentemente com muita gente usando trajes rurais típicos, como botas e roupas xadrez. Devido à novela 'Pantanal', a gente vê até crianças cantando 'Cavalo Preto'. Isso prova que música não tem idade o que falta é resgatar esse estilo musical que marcou época. Torço para que isso continue a acontecer”, conclui.
Não é apenas o personagem Zé Leôncio (Marcos Palmeira) que gosta de ouvir a música Cavalo Preto. Desde o início da exibição do remake de Pantanal, em março deste ano, o número de audições da canção no Spotify registrou um aumento de 931%. No YouTube, a busca pela música aumentou mais de 3.000% .
Na primeira versão de "Pantanal", exibida em 1990 pela TV Manchete, era o cantor Sérgio reis o responsável por cantar a música "Cavalo Preto". No remake atual do folhetim a missão de dar voz à canção foi transferida para o ator Guito, que também é cantor. É ele quem intrepreta os versoso que afloram memórias de infância de Zé leôncio e o fazem lembrar de seu pai, Joventino, vivido por Irandhir Santos.
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CAVALO PRETO
Composição: Anacleto Rosas Júnior
Tenho meu cavalo preto por nome de Ventania
Um laço de doze braças do couro de uma novilha
Tenho um cachorro bragado, que é pra minha companhia
Sou um caboclo folgado, pois eu não tenho família
*
No lombo do meu cavalo, eu viajo o dia inteiro
Vou de um estado pra outro e não tenho paradeiro
Quem quiser ser meu patrão, me ofereça mais dinheiro
Eu sou muito conhecido por este Brasil inteiro
*
Tenho uma capa gaúcha que troquei num boi carreiro
Tenho dois pelegos grandes, que é pura lã de carneiro
Um me serve de colchão e outro de travesseiro
Com minha capa gaúcha eu me cubro o corpo inteiro
*
Adeus, que eu já vou partindo, vou pousar noutra cidade
Depois de amanhã, bem cedo, quero estar em Piedade
Deus me deu este destino e muita felicidade
Onde eu passo com meu Preto deixo um rastro de saudade
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