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EMPREGOS 5m de leitura

Comércio entre vizinhos aquece negócios no condomínio

Processo de compra e venda entre pessoas próximas pode ser o pontapé inicial para o empreendedorismo

ATUALIZAÇÃO
24 de janeiro de 2022

Walkiria Vieira - Grupo Folha
AUTOR

Imagem ilustrativa da imagem Comércio entre vizinhos aquece negócios no condomínio

 Dê a preferência. Sem uma sinalização obrigatória e imposta, a preferência por comprar de vizinhos, amigos e pessoas próximas segue um costume econômico e cultural que atinge em cheio a renda do trabalhador. De acordo com o educador financeiro e fundador da Academia do Dinheiro, Mauro Calil, todo talento ou conhecimento pode ser transformado em renda. "Em algumas  sociedades, em diferentes momentos em que o sustento torna-se difícil, a troca de serviços permite que o dinheiro circule mais rapidamente entre as pessoas e gere riquezas", explica.

Mauro Calil, educador financeiro e fundador da Academia do Dinheiro: "Todo talento ou conhecimento pode ser transformado em renda"
 

Calil situa que a prática remonta ao período anterior à Revolução Industrial, quando a moeda era muito escassa. "A economia colaborativa já era uma realidade desde que o escambo era o recurso existente para realizar a comercialização", explica. O educador financeiro, que trabalha em Londrina,  considera também que sua utilização nos dias atuais advém da necessidade. "Ciclos econômicos de depressão severos fazem a economia colaborativa ser resgatada e observamos esse movimento por meio de  líderes comunitários e ONGs". E exemplifica: "Ao invés de comprar o pão que você consome diariamente de uma marca industrializada, compre de seu vizinho que tem um produto tão bem feito como o famoso e você contribui diretamente com a renda da família dele". 

De acordo com o fundador da Academia do Dinheiro, nesse processo de compra e venda entre pessoas próximas, cada um oferece o que sabe fazer e no Brasil esse é o pontapé de muitos cases de empreendedorismo. "A motivação inicial se dá pela necessidade", lembra. Um aspecto relevante abordado por Calil, que é autor dos livros "Separe uma verba para ser feliz", e  "A  receita do bolo", ambos da Editora Gente, é a dificuldade em colocar preço no seu trabalho, produto, serviço e saber valorizar o que faz. "A pessoa faz uma geleia para a família, uma pimenta e até o churrasco que é sucesso entre amigos e tudo isso  se tornar um produto. Mas é preciso romper a trava e saber cobrar, pois essa é uma crença limitadora no Brasil. Para cobrar a  geleia, é só colocar no papel o gasto com ingredientes, embalagem, gás e o tempo dedicado. Pronto, não há do que se envergonhar por isso" ensina. 

UM CONDOMÍNIO DE MUITOS TALENTOS

 

Um bazar realizado recentemente em um condomínio residencial de Londrina reuniu diferentes produtos feitos pelos próprios moradores. A veterinária e síndica da unidade, Ana Beatriz da Costa Ribeiro considera que foi a retomada de uma convivência que ela teve a oportunidade de vivenciar nos tempos em que a sua avó era moradora do edifício. "Cada um ofereceu o que sabe fazer - massas, bolos, panos de prato, adornos de MDF, pijamas, conservas. Foram cerca de 10 participantes e além dos moradores, também nos visitaram familiares e vizinhos de alguns prédios que possuem relação com moradores. Parte da arrecadação da venda foi revertida para a Casa da Sopa. "A proposta era levar apoio a eles e praticar a filantropia", conta.

Em um exercício prático da lei do retorno, é possível considerar que todos os moradores se beneficiaram do bazar. "Temos no whatsApp um grupo de classificados e hoje percebemos que estamos mais integrados e, mesmo respeitando as restrições impostas pela pandemia, nós nos redescobrimos e somos mais cordiais e solidários. Também acreditamos que o fato de prestigiarmos uns aos outros é mais que justo e até mesmo uma grande comodidade. Encomendamos o bolo da vizinha, pois é um produto de qualidade, nos poupa tempo, trânsito e isso ainda pode ser um incentivo para ela empreender e prosperar mais", alegra-se Bia. As irmãs Betinha e Maria Rute Campos participaram do bazar e consideram que foi assertiva a ideia. "Foi tudo muito bem planejado e não sabíamos que podíamos contar tanto uns com outros", comentam.

UM COMEÇO A SER LEMBRADO

 

Luciane Justo é microempresária e atua com moda. Fernanda  Souza Gouveia vende empadas, bolos e docinhos. De renda extra, seus negócios são hoje a atividade principal e representam 100% de seus rendimentos. Ambas prosperam em suas escolhas e recordam com muito respeito o começo de suas histórias - que contou com o apoio de amigos e vizinhos, respectivamente.

O bom gosto entre as amigas da então assistente social Luciane Justo foi o ponto de partida de um negócio que começou de modo despretensioso. "Levávamos para o trabalho roupas e acessórios que não usávamos mais e trocávamos umas com as outras no intervalo", explica. O que estivesse parado no armário e já havia desfilado pelos olhos das mulheres, tinha aceitação. "Quando gostávamos de algo já íamos avisando: quando enjoar, já sabe", recorda. 

As trocas tomaram uma proporção que o acervo de Justo a encaminhou a transformar sua inclinação em negócio e, há quatro anos, a venda consignada de roupas e acessórios é sua bandeira. Referência no que faz, recentemente a empreendedora ampliou seu espaço e estendeu a reutilização de roupas e a moda sustentável para as crianças. "Antes de a pandemia começar, fazíamos um evento mensal em que diferentes fornecedores vinham até o espaço. Era como uma feira  e havia cosméticos naturais, comida, camisetas estilizadas, música e a proposta era que cada um trouxesse os seus clientes e todos fôssemos vistos por mais pessoas - um movimento de networking importante", explica. Em sua loja, Justo abriga objetos de decoração, adornos pessoais de produtores locais e todas as peças são consignadas. 

CONFEITEIRA DE MÃO CHEIA

 

Ser cobaia da expert em empadas Fernanda  Souza Gouveia é uma missão literalmente prazerosa. A massa leve e o recheio farto somam opiniões. A chef que fez cursos técnicos de culinária no Senac  sempre teve mão boa para a cozinha e foi há cinco anos que passou a fazer das delícias antes servidas na própria mesa e de familiares - uma opção também para quem sentia o cheiro de longe. "O meu início foi apenas com a vizinhança. Eu ia com minha filha Gabi a lojas de roupas, cabeleireiras e manicures pedir que provassem  minhas empadas. Eu tenho muita consideração por eles e posso afirmar que 80% das minhas vendas eram destinadas aos vizinhos", lembra.

O popular boca a boca contribuiu para que Gouveia atingisse um público maior e atualmente seus preparos são preferência também no universo corporativo. "O mix hoje tem até coxinha e panqueca. Faço o que amo e estou sempre me aprimorando. Os ingredientes, a apresentação e o sabor são planejados e assim como eu sou acolhida pela minha vizinhança, também valorizo a papelaria, o mercado próximo e sou prova de que essa circulação de dinheiro entre nós pequenos é muito significativa", afirma. 

Leia mais 

Economia Colaborativa e planejamento diminuem gastos com material escolar: 

https://www.folhadelondrina.com.br/economia/economia-colaborativa-e-planejamento-diminuem-gastos-com-material-escolar-2980055e.html 

Economia Tradicional x Economia Compartilhada: 

https://www.folhadelondrina.com.br/economia/economia-tradicional-x-compartilhada-932007.html

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