Lucas tem um quarto de hóspedes em casa que usa para receber viajantes e turistas em Londrina a um preço bem convidativo. Kharenn Castro e Junia Iglesias têm uma loja em que produtos de pequenos produtores de Londrina e outras cidades dividem as prateleiras. O conceito de compartilhamento de espaços e de bens está se disseminando, mas ainda não se sabe definir exatamente o que é isto, nem como estes novos modelos de relação comercial poderão conviver com a economia tradicional.
Um exemplo claro disso é o Uber, um aplicativo que permite que motoristas fora das associações de táxi usem seus veículos para transportar pessoas, e o Airbnb, uma plataforma que permite que pessoas comuns hospedem viajantes e turistas em suas casas.
Este novo modelo de negócios descentralizado surgiu em um momento que a economia tradicional estava se tornando insustentável, disse Lala Deheinzelin, especialista em Economia Criativa e Colaborativa, que esteve em Londrina recentemente para uma palestra sobre Economia Criativa. "Não conseguimos mais viver em uma sociedade na economia do consumo. Uma questão mundial é o desafio de garantir riqueza e qualidade de vida equilibrados à finitude dos recursos."
Esta nova forma de economia é chamada de economia compartilhada. "A economia compartilhada é absolutamente fundamental e inevitável porque não dá mais para fazer mais carros. Temos que compartilhar mais carros", explica Lala.
Outra mudança pela qual estamos passando, segundo ela, tem relação com a internet, que faz com que todos se tornem bem informados e capazes. "Conseguimos fazer as coisas em rede, cada um resolvendo um pedacinho. É impossível para qualquer processo centralizado dar conta do coletivo. Poucas pessoas não têm como cuidar de muitas pessoas. A única coisa é se a população cuidar de si mesma."
No setor empresarial, há o compartilhamento de infraestrutura, máquinas e até materiais e operários, principalmente no setor da moda, afirma Lala. "E isso deveria acontecer em todo tipo de serviço, pois todas as indústrias e serviços estão entrando em recessão."
Mas o choque inicial da economia tradicional com a compartilhada é inevitável. E para que esta situação de resolva, na opinião da especialista, é preciso o uso de inteligência coletiva. "Aí a gente precisa de advogados, de tributaristas, e da inteligência coletiva para pensar de que maneira a gente pode criar novas normas e novas formas para essa economia gerada. Então a gente vai fazer experiências que serão informais, mesmo que não ilegais. Porque o Uber não é ilegal, é informal."
Para Alexandra Yusiasu dos Santos, advogada especializada em Direito Empresarial e empresária do ramo de coworking, não existe uma definição de como as leis deverão mudar para acomodar essa nova forma de economia. "Não tem como determinar um ponto em que a lei vai ter de mudar. Na verdade, a lei vai ter de se ajustar às mudanças que estão acontecendo, e a gente está no meio do furacão."
No entanto, esse processo deverá ainda levar um tempo. O Direito, como explica, legisla apenas sobre questões consolidadas. "Leis são feitas sobre coisas que estão consolidadas. E a economia compartilhada ainda é algo muito novo. As questões regulamentares esperam que se consolidem as formas para que a gente possa criar uma lei que tenha validade. Senão, cria-se uma lei que depois vai cair."