Mell Lima Brandt: "Não é a mesma energia de estar em grupo, mas me esforço"
Mell Lima Brandt: "Não é a mesma energia de estar em grupo, mas me esforço" | Foto: Arquivo pessoal/ Divulgação

Corpo são, mente sã. O ensinamento aborda a importância do equilíbrio. A pandemia alterou a rotina de diferentes áreas profissionais. O fechamento das academias e a impossibilidade de treinar ao ar livre ou em grupos, fez com que os ativos também se reinventassem para não perder o pique. É o caso da administradora Mell Lima Brandt, 52 anos. Integrante do grupo de corrida Eu 10, sua rotina de treinos incluía corrida ao ar livre quatro vezes por semana, incluindo o sábado. "Eu preciso me movimentar, tenho um problema de saúde que exige que eu seja ativa", explica. Desde a pandemia, os encontros em grupo estão suspensos e Mell está se virando de mil maneiras. "Sigo as planilhas individuais do professor José Eugênio Zaninelli, e como precisa mandar foto, acabo cumprindo. Uso as escadas do prédio do condomínio e aderi às aulas ao vivo da educadora Carol Borba. Tem música, ela nos incentiva, me senti motivada porque além de ela ser alto astral, mostra que é uma pessoa normal. Faz o treino junto, sente dor, vontade de desistir e isso faz diferença", destaca. "Mas ainda sinto muita falta dos treinos coletivos e ao ar livre", admite.

Carol Borba oferece treinos online desde 2016: "Ouvi  que recriei os laços da família com a atividade física"
Carol Borba oferece treinos online desde 2016: "Ouvi que recriei os laços da família com a atividade física" | Foto: Antônio Neto/Divulgação

Formada em Educação Física pela UEL (Universidade Estadual de Londrina), Carol Borba, 34 anos, recebe de muitos seguidores o reconhecimento. E não é de hoje. "Comecei a trabalhar já no primeiro ano da faculdade, em 2006. O ambiente de academia é algo muito íntimo para mim, mas desde agosto de 2016, criei um canal no Youtube para incentivar as pessoas que não podiam ir à academia, a se exercitarem em casa." Com a pandemia e sem onde treinar, Carol passou a oferecer os treinos diariamente, às 18h30. "Houve uma adesão muito positiva e passei a estudar mais para oferecer treinos variados", afirma. Os 550 mil seguidores no Instagram passaram a 1 milhão e no Youtube são 2,5 milhões inscritos. "Percebo que as pessoas estão aproveitando a oportunidade para evoluir, crescer em diversas áreas e também cuidar da saúde e do bem-estar", observa. Carol também desenvolveu seis programas de treinamento que são periodizados - Power Dance, Power Hiit, Power Glúteo, Power Abs e Power Tônus. "A vantagem da periodização é que o aluno treina conforme seus objetivos específicos e no horário ideal dentro de sua rotina", explica. O improviso é parte do momento. "Num treino de perna sugeri o uso de uma mochila com livros. As mães colocaram até os filhos nas costas".

Tecnologia foi crucial para manter o vínculo

Fernando Mitamura: locação de equipamentos e treinos personalizados ajudam na saúde financeira da Rise Hub
Fernando Mitamura: locação de equipamentos e treinos personalizados ajudam na saúde financeira da Rise Hub | Foto: Bruno Ferraro/ Divulgação

Professor de Educação Física e sócio-diretor da academia Rise Hub, Fernando Mitamura, 28 anos, é Mestre em Exercício Físico na Promoção da Saúde. O professor considera que o número de cancelamentos em sua unidade ficou entre 5% a 7%. "Mas sou exceção. Realizo trabalho para outras academias e no geral a evasão foi de 30%. E uma situação bem crítica - não há faturamento, o custo fixo é elevado e nem todos os donos de academias conseguiram uma boa negociação em relação ao ponto de locação", lamenta. Fernando atribui a seu modelo de negócio a diferença. "Sempre estivemos relacionados com a parte tecnológica, temos um aplicativo próprio para as aulas online e assim que o primeiro caso do novo coronavírus chegou ao Brasil, instruí minha equipe para prescrever treinos específicos para serem feitos em casa e montamos estratégias para manter os alunos motivados, pois houve um "boom de lives", mas focamos em treinos personalizados", diz.

Com mais investimento em tecnologia, equipamentos de última geração e atendimento diferenciado, Fernando destaca que o sistema online adotado há cinco anos veio para ficar e o covid-19 só acelerou o processo. Com um protocolo de treinamento online que atrai alunos de São Paulo e Brasília, por exemplo, o gestor afirma que está entre os cinco maiores consultores de treinamento online. "Todos entenderam que não dá mais para ficar naquele gerenciamento de papel. Com o aplicativo, os alunos da Rise Hub tem a opção de oito treinos diários - o que abre uma possibilidade de horários para diferentes rotinas. O treino em casa não é a mesma coisa, então cabo de vassoura, toalha, cadeira e elásticos entram em ação. Cabe muito ao profissional manipular as variáveis de treinamento para atingir o potencial máximo do aluno". Do ponto de vista do educador físico, o maior desafio do treino em casa está na motivação. Com as crianças, que também estão em casa, criou uma turma com um professor especializado na garotada . "Estamos vivendo uma situação atípica e hábitos como exposição exagerada a celulares e computador podem trazer muitos malefícios no futuro. Só a indústria farmacêutica ganha com isso, enquanto uma ferramenta simples, que é a atividade física é desprezada. Por isso somos essenciais", enfatiza.

Para manter a empresa de pé, precisou dar férias para a equipe e na sequência reduziu a jornada. "Não fizemos demissões, somos um time e investimos muito nele". Em abril, a academia completou um ano - de portas fechadas. "Lidamos com uma fatia de mercado que dá muito valor ao exercício físico, então montamos kits personalizados para treinarem em casa e locamos as bicicletas. isso está ajudando na saúde financeira da empresa". Sobre a situação dos personais, o professor diz que ele próprio perdeu um aluno presencial. "Mas ganhei 15 online. Profissionais entraram em negociação com seus alunos alguns acertaram em 50% valor, outros mantiveram o valor integral. Mas sei de muitos que perderam todos. Fernando observa o "lockdown" como um erro. "Só há malefícios, pois a obesidade infantil no Brasil aumentou, assim como os transtornos mentais, a ansiedade e a depressão, todos causados pelo sedentarismo".

Procura por acessórios aumentou

Proprietária da Gym Mac, loja de artigos esportivos, Gisele Callero, 38 anos, está no ramo desde 2001 e durante a pandemia a procura de acessórios por pessoas físicas foi considerável. "Atendemos condomínios, construtoras e também damos assistência". Com o fechamento das academias por decreto, Gisele relata que passou a ter outros clientes e precisou se reestruturar da noite para o dia, pois a prioridade, foi sempre o atendimento presencial e personalizado, devido às especificidades do equipamento e a necessidade do cliente. "Passamos a vender por whatsApp e vimos anilhas, ketballs, tornozeleiras e elásticos se esgotarem." A venda pulverizada exigiu uma reestruturação para venda, entrega e muitos acessórios eram vendidos antes mesmo de estarem na loja. "Notamos que quem dependia de academia ficou aflito e assim que a fábrica que nos atende sinaliza a entrega, já nos programávamos para faturar a pré-venda." Na primeira remessa, foram 4 mil toneladas de pesos vendidos, depois mais seis mil e nos últimos 15 dias 4 mil", conta. A reposição tem sido um fator dificultante e a previsão é que os elásticos oriundos da China cheguem só em agosto - e já há lista de espera. Em contrapartida, Gisele preocupa-se. "Atendemos as academias e com elas fechadas, não estamos recebendo. Estamos cobrindo o rombo com essas novas vendas, mas tenho que vender muito peso, por exemplo, para suprir o não recebimento de uma esteira de 10 mil reais e que sei que a academia não tem como honrar mesmo.