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Economia Nossa de Cada Dia 5m de leitura

Cadastro positivo tem potencial para reduzir juros ao consumidor final

ATUALIZAÇÃO
17 de novembro de 2019

Marcos Rambalducci
AUTOR

O Banco Central iniciou em outubro de 2016 um processo de redução da taxa básica de juros, que estava estacionada desde julho de 2015 em 14,25%, chegando em outubro a 5% ao ano. 

Enquanto a taxa básica ficou 185% mais baixa, a redução dos juros para aquisição de bens por pessoa física caiu somente 11,25%, considerando o mesmo período, segundo o Banco Central.   

Os bancos alegam que um dos motivos para cobrar juros tão altos no crédito é a inadimplência. Como sabem que uma parte das pessoas não vai conseguir pagar, cobram mais de todo mundo para tentar compensar os prejuízos eventuais. 

O dilema Tostines... 

Fica a questão: os juros não caem porque a inadimplência é alta, ou a inadimplência é alta porque os juros não caem?  Não tenho dúvidas que a inadimplência, em grande parte, decorre da asfixia a que é submetido o cliente com as taxas aplicadas, da falta de esclarecimento sobre o produto e da prática das vendas casadas.  

... precisa ser resolvido pelo banco 

Mas o óbvio é que é da competência do banco fazer a correta análise da capacidade de solvência do cliente antes de conceder o crédito, e não usar sua própria ineficiência para atribuir o problema ao consumidor. 

Aperfeiçoando a análise de crédito... 

No entanto, um novo modelo de gerenciamento da capacidade de crédito de cada pessoa começa a ser aplicado. Até agora a ferramenta utilizada para a concessão de crédito era a consulta ao cadastro negativo, que dá informações sobre dívidas vencidas e não pagas tanto por pessoas físicas ou empresas. 

... com o uso do cadastro positivo... 

Agora teremos o cadastro positivo que faz o contrário. Ele avalia o consumidor pelos compromissos quitados no prazo, pagamentos realizados, obrigações em andamento e a capacidade de assumir novas obrigações financeiras. 

... que é o mais usado no mundo 

O Brasil foi o último país do G20 e dos BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), a aprovar o cadastro positivo. EUA, Reino Unido, Alemanha, Bélgica, México, Argentina, entre outros, o adotam há tempos.  

Não depende de adesão,... 

Desde o dia 9 de julho, com a promulgação da Lei Complementar 166 pelo Congresso, da mesma forma que funciona com o cadastro negativo, as empresas que administram os cadastros poderão incluir por conta própria os nomes de clientes na lista de bons pagadores. A inclusão é automática.  

...mas permite solicitar a exclusão 

Diferentemente do cadastro negativo, em que o cliente não pode solicitar simplesmente sua exclusão, no cadastro positivo o cliente tem direito de solicitar a retirada de seu nome da listagem. 

Funciona como medidor de risco... 

Cada consumidor terá uma pontuação e as empresas que consultarem o cadastro positivo receberão a nota do cliente que variará de 0 a 1.000 pontos, significando qual o risco deste cliente ficar inadimplente.  

... e menor risco, menor taxa de juros 

O cliente que tem um histórico de bom pagador, diminui o risco de dar calote, permitindo que lhe seja ofertado taxas de juros mais atraentes. 

Pode consultar seu escore ... 

De forma gratuita e bastando fazer seu cadastro, qualquer pessoa pode consultar seu escore e obter também outras informações. Testei na Boa Vista (www.consumidorpositivo.com.br) e na Serasa (www.serasaconsumidor.com.br). O escore é diferente em cada uma delas.     

... e negociar melhores taxas de juros 

Na teoria a prática é boa, resta saber se na prática a teoria é essa mesma e leva realmente a uma redução dos juros para aqueles que tem histórico de bom pagador.  

Marcos J. G. Rambalducci , economista, é professor da UTFPR. Escreve às segundas-feiras. 

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