Imagine um corredor terrestre que ligue o Porto de Santos, em São Paulo aos portos do Chile, criando uma rota que liga o oceano Atlântico ao oceano Pacífico, um sonho de a muito acalentado.

O Brasil finalmente poderá realizar seu desejo de ter uma saída para o Oceano Pacífico com um Corredor Bioceânico, por meio do projeto rodoviário que abrangerá mais de 3 mil quilômetros.

Tal feito representa importante conquista logística que poderá reduzir o tempo de viagem das exportações e importações de parte do Brasil e Paraguai principalmente para os mercados da Ásia, Oceania e costa oeste dos Estados Unidos.

A ligação já existia ...

Muito antes da chegada dos europeus ao continente, já estava estabelecida uma rota indígena que cruzava a América do Sul, ligando o Atlântico ao Pacífico, que se estendia por mais de 4.000 quilômetros, passando por o que é hoje Brasil, Paraguai, Argentina e Chile. Era o caminho de Peabiru.

... e utilizada por milênios...

O caminho era utilizado pelos povos indígenas para comércio, migração e possivelmente para fins religiosos e cerimoniais. Acredita-se que a rota tenha sido estabelecida e utilizada por diferentes culturas indígenas ao longo de milênios.

..., mas desapareceu.

Apesar de sua importância histórica e cultural, grande parte do Caminho de Peabiru desapareceu ao longo dos séculos, devido a fatores como a colonização, o desenvolvimento urbano e a erosão natural. Agora, impulsionado pelo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), o ‘homem branco’ vai refazê-la.

Os motivos para restabelecê-la são os mesmos...

A ideia de criar um corredor interligando as costas leste e oeste, será um fomento ao comércio na medida que trará uma extraordinária redução do custo logístico pela redução da distância marítima até os destinos asiáticos. Mas também visa expandir o turismo e a integração regional.

... embora mude o nome...

Chamada de Rota de Capricórnio, ou Corredor Bioceânico, é um projeto voltado a interligar os litorais do Oceano Atlântico e do Oceano Pacífico no Cone Sul da América do Sul, fazendo caminho semelhante à rota de Peabiru, ou seja, passando por Brasil, Paraguai, Argentina e Chile.

... e encurte o trecho

Com extensão de 3.320 Km, a rota parte do porto de Santos, passando por Assis, Campo Grande, Porto Murtinho no Brasil, entra no Paraguai por Carmelo Peralta seguindo para Loma Plata até Pozo Hondo na divisa com Argentina, segue por Salta até a fronteira com o Chile e daí para San Pedro de Atacama até os portos de Antofagasta e Iquique.

O ritmo das obras no Paraguai...

Com o maior volume de investimentos no projeto, o Paraguai já aportou US$ 935 milhões para a construção da ponte que liga Porto Murtinho a Carmelo Peralta, que ultrapassou os 50% de construção, e para asfaltar 650 km de estradas, com mais de 70% concluído.

... e no Brasil estão avançadas...

Do lado brasileiro, o projeto recebe R$ 473 milhões do PAC para a construção do Centro Aduaneiro de Controle de Fronteira, além do acesso rodoviário de 13,1 km que ligará a BR-267 até a entrada da ponte em Porto Murtinho.

..., com pequenos atrasos na Argentina...

Do lado Argentino é necessário asfaltar 40 km de estrada entre a província de Salta até Jujuy na fronteira com o Chile. Por conta da situação econômica do país, pode ser que haja atrasos neste trecho, embora os prazos tenham sido ratificados pelos governadores de Jujuy e Salta.

... mas inauguração em 2026, ...

Mesmo que possam existir alguns percalços, a rota de Capricórnio deverá estar operacionalizada em mais 2 anos, abrindo caminho para que o Brasil comece a escoar sua produção pelo Pacífico.

... proporcionando grande economia...

Navios partindo do Porto de Santos para Shanghai percorrem 24 mil km via Cabo da Boa Esperança e Canal do Panamá, demorando cerca de 55 dias a um custo de US$ 2.000 por contêiner. Já pelo porto de Antofagasta, no Chile, a viagem dura 42 dias, cobrindo 18,6 mil km. Ou seja, 13 dias mais rápido e 23% mais barato.

... em produtos de maior valor agregado

Do lado brasileiro o foco está na criação de uma alternativa para escoar produtos de maior valor agregado, como celulose, algodão, carnes, alimentos processados, calçados e vestuário, além de automóveis, ônibus e caminhões.

É pra comemorar.

Marcos J. G. Rambalducci, Economista, é Professor da UTFPR. Escreve às segundas-feiras.