Na semana passada, navegando pelas minhas páginas favoritas da internet, deparei-me com uma reportagem da revista “Time Out”, especializada em turismo, que elegia o bairro paulistano de Vila Madalena como um dos mais “legais” do mundo. Foi uma grata surpresa. Nasci, cresci e estudei na Vila. Quando cheguei a Londrina, eu estava prestes a completar 18 anos. Posso, então, atestar: meu bairro de origem é realmente muito especial.

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Morei numa só casa e estudei sempre na mesma escola enquanto vivi em São Paulo. Lembro com carinho do casarão da Rua Madalena, onde pude me desenvolver em paz, cercado de familiares e amigos. Do mesmo modo, carrego comigo muita saudade dos tempos da escola estadual “Carlos Maximiliano Pereira dos Santos”. À época, anos 1980 e início da década seguinte, o colégio era uma simples instituição de bairro, sem grandes atrativos. As famílias ricas matriculavam seus filhos nos gigantes da rede particular, receosas da suposta má qualidade da educação pública. Bobagem. Tudo de sólido que aprendi, sem dúvida, devo ao famoso “Max”.

A rede de amizades que conquistei nos tempos escolares me permitiu desbravar meu bairro e reconhecê-lo em seus detalhes. À medida que eu crescia, meu universo de referências se expandia de maneira radical. Fui percebendo que meu bairro era abrigo de artistas e intelectuais, que em cada esquina a cultura respirava livre, leve e solta. Não à toa, afeiçoei-me à música e à literatura muito cedo, coisas que ainda hoje compõem o centro de minha vida. Morar na Vila Madalena era sinônimo de uma existência dinâmica, em contato permanente com novidades de todo tipo.

Beco do Batman na Vila Madalena, em São Paulo
Beco do Batman na Vila Madalena, em São Paulo | Foto: iStock

Tudo era tão vasto que se fazia desnecessário sair do bairro para fazer o que fosse. Havia tudo ali, desde locais de compras até espaços de formação e entretenimento. Outra coisa: a Vila era verde, cheia de praças e parques em seus domínios e nos bairros bem próximos. O contato com a natureza, no coração da selva de pedra paulistana, era um privilégio. Vale lembrar das feiras de cultura e artesanato que a Vila organizava com frequência. Tratava-se de mais oportunidade para incríveis trocas e aprendizados muito humanos.

Pais e avós, pioneiros no bairro, diziam que a Vila Madalena era como uma cidade inteira, pacata e próspera, dentro da grande megalópole brasileira. Minha geração, a de filhos e netos, cresceu nas ruas, brincando, experimentando amores e histórias memoráveis. A Vila Madalena inteira era nossa casa, sem exageros.

Em Londrina há mais de três décadas, tornei-me cria da UEL e um apaixonado cidadão. Tenho realizado aqui a etapa adulta da minha travessia. Voltei pouco à Vila: sei que o bairro cresceu, mudou muito, tornou-se moda e é super-habitado. De qualquer maneira, a base de minha visão de mundo elaborei lá, para, depois, aperfeiçoá-la aqui nesta terra vermelha. No meio do caminho, estive noutros lugares e fui me constituindo. O certo é que sabe mais quem enriquece e diversifica seus passos.

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A opinião do colunista não reflete, necessariamente, a da Folha de Londrina.

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