No próximo domingo (2), ocorrerão as mais importantes eleições presidenciais desde o advento da Nova República, em meados da década de 1980. É claro que a votação para os governos estaduais e para a composição das assembleias e do Congresso Nacional também é decisiva: o modo como a política se fará nas casas legislativas e nos executivos da federação dará o tom daquilo que se revelará no âmbito maior da nação. Política, sabemos, é o consenso possível que brota do dissenso inevitável.

Mas o que está em jogo nas eleições para a presidência da República é a adoção de um novo olhar sobre a vida brasileira. Nos últimos anos, desde que setores hoje expressivos do conservadorismo e da extrema-direita ganharam evidência, fortaleceu-se o ódio generalizado, inviabilizou-se o fazer político pautado na sobriedade e no equilíbrio democrático. Neste período eleitoral, por exemplo, a violência vem regendo os ânimos. É como se houvesse um abismo separando dois mundos afetivos – o problema é que a Guerra Fria já acabou, junto com suas paranoias ideológicas, há mais de 30 anos...

São muitos os sintomas desta nova era de discórdias e ressentimentos. Em todo o espectro político viceja um mal-estar que toma conta das ideias e impede a crença nas saídas públicas e pactuadas. Se é verdade que a diversidade deve caracterizar a democracia, é indubitável que sem inclinações na proteção do bem comum inviabiliza-se a política. É isto que se espraia hoje: o individualismo, a alienação, a convicção de que o outro é um inimigo. No lugar do discurso responsável e da ação consequente, ganha espaço o palavrório sem sentido nem propósito, recheado de bizarrices e alucinações.

Aprendi com Hannah Arendt que o desejo de compreender é uma atividade para toda a vida e exige que sejamos capazes de fazer as pazes com a história. Só assim podemos observar o presente com acuidade e projetar, corajosamente, o futuro, mirando a criação de um espaço público no qual todos possamos ver e ser vistos, ouvir e ser ouvidos. Compreendo, portanto, que é momento de dar um basta na raiva, nos segredos centenários, na maldade, na cegueira diante das necessidades mais prementes de educação, saúde, ciência e cultura. Ao mesmo tempo, é hora de optar pela defesa incondicional da democracia, das liberdades singulares e coletivas, do meio ambiente, das terras indígenas e quilombolas, da agroecologia, das escolas e universidades públicas, do incentivo à produção artística, da valorização da sensibilidade. Cresce a cada dia a grande corrente em favor desses ideais de felicidade e bem-estar.

Existem momentos preciosos em que podemos exercer a cidadania. Instantes que se prolongam no tempo, trazem consequências, invadem nossos corações com força para seguirmos em frente. Na democracia, o voto é um desses momentos milagrosos. Ele não basta, uma vez que devemos permanecer atentos sempre, mas preenche um pedaço em nós destinado à capacidade e à urgência de fazer o bem.

Em nome disso tudo, domingo, dia 2, eu vou votar na esperança!

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A opinião do colunista não reflete, necessariamente, a da Folha de Londrina.

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