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INOVAÇÃO E EMPREENDEDORISMO 5m de leitura

A única certeza do empreendedor: a incerteza

Ouvi em uma palestra que uma das poucas coisas certas na vida de um empreendedor é justamente a incerteza com suas muitas idas e vindas

ATUALIZAÇÃO
06 de março de 2022

Lucas Vieira de Araujo
AUTOR

Há quem acredite que não dá para viver assim e, por isso, busca uma vida mais estável, muitas vezes por meio do serviço público, o que é perfeitamente compreensível, sobretudo em um país com sucessivas crises econômicas e problemas crônicos de política econômica.  

 

Dana Meschede conhece os dois lados dessa moeda. Engenheira agrônoma, ela fundou e é a atual CEO da Dana Agro, empresa criada a partir de suas pesquisas de mestrado e doutorado que desenvolve tecnologias inovadoras em forma de produtos mais sustentáveis. Dois deles reduzem os efeitos negativos das mudanças climáticas na lavoura, como em decorrência de estresse hídrico.  

O trabalho de quase duas décadas entre pesquisa, docência e desenvolvimento de tecnologia já lhe rendeu prêmios, como estar entre as mulheres mais influentes do agronegócio do Brasil segundo a Revista Forbes.    

Para chegar nesse patamar, contudo, Dana precisou lidar com pressões familiares, medo do futuro e a eterna incerteza de empreender. Filha de um comerciante, Dana foi encaminhada para ser médica, mas decidiu seguir a Agronomia. Deu aulas na Universidade Estadual Paulista (Unesp) e na Universidade Estadual de Londrina (UEL) como professora substituta. Foi servidora efetiva na Universidade Estadual de Mato Grosso (Unemat). Deixou tudo, porém, para abrir seu próprio negócio.  

Com a ajuda do irmão, construiu um prédio no interior de São Paulo para fabricar a tecnologia que desenvolveu. Em plena pandemia, entrou no concorrido mercado de produtos para tratamento de sementes e pulverização foliar. Assim como tantos outros empreendedores, gastou suas economias, endividou-se e agora luta para obter maior espaço para sua empresa.  

Com sorrisos, diz que o mercado de tecnologia agrícola é formado principalmente por jovens universitários com a idade de seus filhos, mas que isso não a intimida. Com a experiência típica dos empreendedores natos e confiança que hoje a mantém inabalável, Dana acredita no potencial de suas tecnologias e no quanto ainda pode ir longe com elas.   

Já dei exemplos de professores empreendedores aqui nesta coluna. Seja mantendo o trabalho em sala de aula ou dedicando-se exclusivamente ao negócio, eles têm em comum a força e a crença na ciência como um diferencial para crescer. As startups formadas a partir de pesquisa científica geralmente são robustas, pois vão além do básico benchmarking que a maioria pratica. Quando os docentes resolvem ir a campo, maior a chance de sucesso porque conhecem o assunto profundamente como poucos. Se eles têm paixão pelo que fazem, daí o sucesso é quase uma certeza.   

Enquanto as salas de aula perderam uma excelente professora, o Brasil ganhou uma empreendedora nata.  

Muito sucesso a você, Dana. Que bom que você decidiu pelo caminho incerto ;)    

*Lucas V. de Araujo: PhD e pós-doutorando em Comunicação e Inovação (USP). Professor da Universidade Estadual de Londrina (UEL), parecerista internacional e mentor Founder Institute. Autor de “Inovação em Comunicação no Brasil”, pioneiro na área.

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