Teu Ano Novo será sempre no dia do seu desaniversário
Melhor é viver agradecendo os bons momentos como se todo dia fosse de Ano Novo.
PUBLICAÇÃO
sábado, 12 de outubro de 2024
Melhor é viver agradecendo os bons momentos como se todo dia fosse de Ano Novo.
Domingos Pellegrini

Isso que chamamos de ano é apenas o tempo de giro do nosso planetinha em redor do Sol, e começa no dia primeiro de janeiro só nos nossos calendários. Se conseguirmos um dia viver em Marte, nossos marcianos terão dois calendários, o da Terra e o de lá. Se um dia dominarmos a galáxia, teremos uma rede de calendários...
Já aqui no chão, pro pessegueiro e pra mangueira o ano começa com a florada no inverno para as frutas do verão.
Pro Coelho de Alice no País das Maravilhas, todo dia é dia de nosso desaniversário... permitindo interpretar que todo dia nascemos e morremos, e, podia dizia dizer o Coelho, eterno porque sempre passante é apenas o instante.
Mas é o colibri quem diz que o tempo passa rápido e já se foi. E, como o vôo do colibri, o tempo pode ser surpreendente, mostrando que, na bananeira que reguei bastante, o cacho cresceu tanto que despencou do pé. E o tempo também pode ser tão irritante quanto ensinante - como na pitangueira que se negou a florir durante tanto tempo que esqueci, até que floriu de se cobrir toda, mas enfim só poucas flores viraram pitangas, talvez por ser sua estreia no, como se diz, mundo da produção.
Até por tudo isso, melhor é viver agradecendo os bons momentos como se todo dia fosse de Ano Novo.
Beber com gosto a mãe Água, a quem devemos a vida.
Respirar com o fundo respeito que se deve a nosso pai Ar.
Usar com precisão as mais complexas e sensíveis ferramentas, nossas mãos, honrando tantas gerações de gente que trabalhando desenvolveu nossos dedos.
Cheirar no ar que vai chover, sentir no vento que vem tempestade, vestir a velha jaqueta, antes cheirando se não mofou desde a primavera passada.
Olhar tudo com olhos de Van Gogh, o vento avivando as árvores, as nuvens tramando chuva, os raios te abrindo os olhos.
Ouvir os passarinhos assustados e os insetos se calando, e a chuva chacoalhada por trovões, e, depois da tempestade, de volta o ronco amigo da geladeira garantindo que tudo continua bem.
Comer o que a terra dá, com o sal do mar e as verduras da horta, saborear no mamão o mel das abelhas, sentir o café na língua como em comunhão com tua terra e tua gente.
Sentir-se humano, único ser no planeta com consciência, essa incessante usina interna.
Então lavar o rosto para entregar a quem vive com você um bom-dia com um bom olhar e um sorriso bom.
E eis que, pra quem gosta de viver, todo dia está sempre pronto para um Feliz Ano Novo!

