O tempo pass

e derrete na taça

de sorvet

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A intenção era botar só nas redes este haicai, com taça e foto feitas pelo neto Caetano, aí diante da foto dei de lembrar.

Meu primeiro sorvete foi num bar lá por 1950, levado pela mãe e com terno de calças curtas, lembro disso porque o sorvete pingou nos joelhos. Agora vejo na net que a sorvetagem industrial só começou no Brasil em 1941, quando uma empresa norte-americana lançou o campeão Chicabom, de que consumi centenas. Era de palito aquele meu primeiro sorvete, talvez feito ali mesmo no bar, pois, até lá pelos anos 70, bares tinham sorveteira no balcão, com quatro tubos metálicos verticais para os quadro sabores, onde a massa era mexida por braços mecânicos tocados por motor, de modo que o bar parecia ronronar.

Onde hoje é o grande Bar Brasil em Londrina, em 1966 era um pequeno bar de esquina com duas portas, onde entrei com uma jarra gordota de vidro para tomar sorvete. Porque as casquinhas suportavam só duas bolas, e eu queria tomar os quatro sabores (chocolate, morango, creme e coco) alternando colheradas. Meu amigo Carlos Roberto Barbosa, colega de curso Clássico, chegou quando eu pedia mais quatro bolas. Eram bolas grandes, enchendo a jarra, e ele duvidou que eu desse conta, o que fiz alegremente. Então ele se dispôs a pagar quantas mais eu tomasse, daí tomei mais quatro e mais quatro e finalmente só mais duas, no total dezoito. E continuei apaixonado por sorvete vida afora.

Agora até pesquiso na net e eis que o sorvete começou na China há mais de três mil anos, uma mistura de leite, arroz e frutas com neve, mantida em câmaras subterrâneas na corte do imperador e outros poderosos. No primeiro século, em Roma o imperador Nero também tomava uma mistura de frutas com neve vinda das montanhas, e depois Marco Polo acharia na China sorvetes já de vários tipos e sabores. E, quando Cabral chegou ao Brasil, o sorvete chegava à Europa.

A primeira sorveteria do mundo foi em Paris, em 1660, ainda artesanando os sorvetes, mas, já prenunciando a potência empreendedora, foi nos Estados Unidos a primeira fábrica em 1855. No Brasil, a primeira sorveteria abriu em 1855, inclusive retalhando duas toneladas de gelo trazidas de lá de navio, assim já simbolizando nossa ainda dependência industrial de insumos estrangeiros.

Como consumidor, lamentei o fim das sorveteiras de balcão e comemorei com muitas bolas e palitos a recente revivescência das fábricas regionais ou mesmo artesanais de sorvete, com opções mais criativas e saudáveis do que as velhas marcas produzidas em grandes centros, e mais feliz fiquei vendo que o mesmo ocorreu no mercado de cervejas.

Outro dia sorveteiro de carrinho me contou ter orgulho dos picolés vindos da sua pequena cidade natal, onde a maior indústria é a de sorvetes. Conversamos concordando que chupar sorvete é um ato político, de escolhas e resultados, e lhe contei quais são minhas sorveterias preferidas, por ele aprovadas em massa, palito e pote. A Humanidade avança, os sorvetes na vanguarda!

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A opinião do colunista não reflete, necessariamente, a da Folha de Londrina.

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