Alguém me conta que a filha rasgou as calças no traseiro e não percebeu, foi pra escola e as colegas admiraram: que massa, comprou onde?

Adolescente, acompanhei a revolução jeans, as calças perdendo vinco, até porque deixaram de ser de tecidos vincáveis e passaram a ser de brim, ganhando mais charme quanto mais desbotadas. Mas nunca pensei que veria remendos e buracos se tornarem chiques em calças de butique.

Quando quero mostrar como sou antigo, digo que sou do tempo em que calças jeans ainda eram chamadas rancheiras, até porque na origem, nos Estados Unidos, eram usadas por vaqueiros e lavradores.

Que inveja tivemos do Pedro Olher Medina, lá no mitológico 1968, quando ele colegial ia ao Festival Universitário envergando macacão de brim azul. E não contava onde arranjou aquilo que combinaria tão bem com meus coturnos!

Eu continuava usando os coturnos, depois de terminado o Tiro de Guerra, porque davam um ar guerrilheiro, junto com a barbicha guevarista, embora os cabelos longos já fossem também influência hippie. Eu era multicultural e não sabia.

Revendo fotos, dá vontade de rir: como é que a gente conseguia gostar de calças boca-de-sino? Tive umas tão bocudas que cobriam totalmente os sapatos, e ao correr pisava na barra da calça e assim levei uns baita tombos. Tudo tem seu preço, né?

E as batas? Vieram com a onda hippie, e tinha gente que botava bata tão grande que parecia tenda ambulante. Como as batas eram decoradas com flores pintadas, uma reunião de bateiros parecia mistura de jardim com acampamento.

Os ponchos foram contemporâneos de inverno das batas. Talvez tenham vindo dos faroestes italianos, onde Clint Eastwood fazia um Django que não sacava revólveres dos coldres, sacava do poncho. E, também, os ponchos nos davam um ar latinóide, de digna pobreza com rústica elegância.

Um dia, perguntei a um amigo porque ele não usava mais poncho, ele respondeu com ar entediado:

- Fiquei com o saco ancho de poncho.

E as gravatas? Tinham de ser fininhas, tripinha escorrendo do pescoço, às vezes apenas uma fita com um laço. Gravata grossa era coisa de velho. Sandália franciscana era coisa de velho. Xadrez era coisa de velho. Cachecol era coisa de velho. Sobretudo era coisa de velho. E, meio século depois, tudo isso é chique para os jovens. Por isso concordo com outro amigo:

- A melhor moda é não dar bola pra moda, aí você até cria moda.

Ele conta que um dia se vestiu no escuro, saiu com meias de cores diferentes. Sentou no calçadão para engraxar o sapato, tanta gente parou para lhe apontar as meias, que resolveu inventar:

- É a última moda na Europa.

No dia seguinte, outros já engraxavam sapatos com meias diferentes.

Quando conheci Dalva, usava camisetas floridas por baixo de camisas abertas no peito. Ela perguntou por que eu me vestia assim:

- É promessa?

Um dia, abriu meu guarda-roupa e foi separando roupas velhas. Perguntei para que, ela respondeu com voz casual:

- Para o asilo. Quem gosta de roupa velha é velho. Questão de lógica!

E eu, quem diria, com as novas roupas me senti renascer.