Inveja de Londres
PUBLICAÇÃO
sábado, 05 de setembro de 2020
Domingos Pellegrini
É sabido que o nome Londrina nasceu de um brinde, quando o advogado João Sampaio propôs em Londres, brindando, um nome para a primeira das cidades que a Companhia de Terras Norte do Paraná ia plantar em nossa terra-vermelha.
O nome significaria “pequena Londres”, hipótese pretenciosa, ou “filha de Londres”, embora os ingleses tenham deixado a filha para ir lutar contra Hitler.
Londrina na verdade é filha de uma velha senhora que sustenta as economias e as nações: a Iniciativa. Não só iniciativa dos ingleses colonizadores, como também dos colonos, nossos pioneiros que vieram do país inteiro e do mundo todo para enfrentar o barro e o poeirão.
Antes de chegar à nossa terra-vermelha, o café derrubou matas e ocupou terras mineiras e paulistas, e daí vieram muitos dos pioneiros, tomando a iniciativa de buscar vida nova numa terra a desbravar. Essa gente plantaria centena de cidades em poucas décadas, e seus netos se tornariam os pés-vermelhos, gente de muitas origens e raças como a maioria dos brasileiros.
Marco inicial dessa colonização, Londrina pode se orgulhar de sua origem londrina, pois Londres foi a capital do único império que não só aboliu a própria escravatura como lutou pela abolição no mundo. Londrina é assim filha tardiamente temporã do último e mais breve dos impérios, o britânico, parecendo nos predestinar à democracia.
Não aceitamos um primeiro prefeito, lá em 1934, porque não foi indicado pela comunidade.
Depois, na ditadura militar que porém permitia partido oposicionista, sempre elegemos deputados, senadores e prefeitos de oposição, e um desses prefeitos seria governador do Paraná.
Na democracia, elegemos prefeitos de direita, esquerda e centro, assim democraticamente colhendo decepções e lições.
Aliás, tomara que Londrina siga Londres na evolução política: voto distrital em eleições sem propaganda, de modo que ou o candidato a deputado percorra todo seu distrito, comparecendo a centenas de reuniões e sabatinas comunitárias, ou não se elege.
No parlamentarismo britânico, sem presidente da República nem esperança em salvadores da pátria, os deputados eleitos elegem o primeiro-ministro, que também pode ser demitido pela maioria.
Com tanto poder, lá os deputados entretanto tem assentos retos, sem nem repouso de braços, nada como as poltronas giratórias e estofadas de nossos deputados. E lá as sessões começam pontualmente com presença total todo dia, assessoria pouquinha e zero mordomia.
Diversidade? Londres tem prefeito muçulmano.
Civilidade? Com disciplina Londres enfrentou e enfrenta muito bem a pandemia, enquanto aqui prefeito tem de dar bronca em festas irresponsáveis, como se Londrina fosse uma menina birrenta.
Mas olhemos para a frente, dirá o otimista, então sim, olhemos para a frente: vem aí eleições municipais com fundão partidário, dezenas de partidinhos e centenas de candidatos a vereador que, eleitos pela cidade toda, representarão ninguém. Não é para ter inveja de Londres?