O Paraná ia perder 500 milhões de toneladas de terra por ano com a erosão agrícola, através de seus rios que desaguam no Rio Paraná, e isso assorearia tanto a represa de Itaipu que até micharia a usina – conforme informe que passou pela redação desta Folha lá nos anos 1970, para ser apenas lido, pois a censura não deixaria publicar.

Quando a geada de 75 arrasou a cafeicultura, os cafezais perenes deram lugar a culturas mecanizadas, multiplicando a erosão. Queimava-se a palhada das plantações de inverno (enfumaçando as cidades e degradando a terra) e depois se arava e gradeava a terra para plantio de verão. Terra “boa” para plantio era aquela que virava quase um pó, que porém qualquer chuva levava ao riacho, enquanto nas colinas começavam a “brotar pedras”. Era preciso fazer alguma coisa. E alguém fez.

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. | Foto: Arquivo familiar

Herbert Bartz contava que o plantio direto nasceu quando, num toró, viu sua plantação descer para o riacho com sementes e adubos e suor. Criado na crença alemã de que terra e cultura são os maiores patrimônios de um povo, não se conformou. Foi procurar no mundo e nos trouxe o sistema do plantio direto sobre a palhada, sem queimada e sem mexer na terra. Em entrevista que me deu então, seu olhar brilhava ao falar dos benefícios:

- A palhada protege a terra do sol, retém a umidade da chuva, as raízes penetram mais, os micro-nutrientes todos sobrevivem e voltam as minhocas, o melhor dos adubos! E o melhor de tudo é que, numa terra assim, a chuva penetra fácil e não forma enxurradas...

Começou com o plantio direto sozinho, chamado de louco. Não havia plantadeira própria para furar a palhada e semear, mas ele procurou parcerias industriais, com a mesma fé na terra e na técnica que depois moveria o agronegócio. E o tempo foi mostrando aos vizinhos menos mato nas plantações do alemão louco. Quem queria, também podia ver que sem aração e gradeação cortava-se também seus custos, além de diminuir a compactação do solo pelas rodas. E a produtividade aumentava sempre na terra mais e mais fértil!

Na fazenda, Bartz levava visitantes a um barranco cortado verticalmente para mostrar entusiasmado:

- Em poucos anos as raízes já dobraram de tamanho!

Começou com 200 hectares mas, a partir dos vizinhos, o novo sistema foi sendo adotado até cobrir dezenas de milhões de hectares no Sul do Brasil e da América. Pode ser a maior contribuição pessoal à agricultura mundial depois da Revolução Verde que deu o Prêmio Nobel da Paz a Norman Borlaug.

Somos criados com mitologia de heróis políticos e militares, além dos heróis das igrejas, os santos e os mártires, e os heróis cívicos como Ghandi ou Luther King. Bartz era desta categoria.

Por isso, não acredito que ele morreu. Heróis não morrem, e Herbert Bartz continua vivíssimo em trilhões de minhocas, bilhões de toneladas de grãos, bilhões de dólares em exportações, incontáveis empregos no campo e nas cidades onde as colheitas movimentam indústria e comércio.

Heróis não morrem, ainda mais um herói da terra.