Imagem ilustrativa da imagem Cooperação: sem dúvida, a nossa maior invenção
| Foto: Dalva Vidotte/ Acervo pessoal

Em conversa sobre qual terá sido a maior das invenções, alguém diz que foi o fogo, mas digo que porém nem inventado foi, decerto apenas recolhido de algum incêndio provocado por raio. Invenção mesmo foi a fogueira para manter o fogo, com o que todos do primitivo bando decerto deviam cooperar catando lenha.

Outro diz que maior invenção foi a linguagem, mas lembro que ela nasceu e vive da cooperação entre fala e escuta. E a cooperação homem/mulher pariu o casamento e a família humana, única no planeta que precisa proteger a prole durante década...

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Onça na lembrança

Concordam então comigo que a cooperação é nossa maior invenção, que também se vê instintiva na natureza. Por exemplo o garço, marido da garça, não só ajuda a fazer o grande ninho como fica chocando os ovos quando ela vai comer. E, entre nós humanos, basta ver que as melhores escolas públicas são as com associação de pais e mestres atuante, cooperação entre governo e cidadania.

Então lembro das pamonhas de vó Tiana também como exemplo de cooperação. Primeiro, vô João cooperava trazendo sacos de milho-verde. Depois, ela chamava filhas e vizinhas para descascar as espigas e ralar, e os raladores eram feitos de lata toda furadinha por prego, a mostrar que todo artefato resulta da cooperação entre ferramentas, como também todo organismo é uma cooperação de órgãos.

Ralando as espigas, as mulheres enchiam bacias trazidas de suas casas, outra cooperação, e, depois que vó Tiana despejava tudo num tacho, umas voltavam a ralar milho, outras cortavam as palhas para empamonhar. A palavra pamonha vem do tupi-guarani “apá minoia”, que significa comida “enrolada e cozida” - e empamonhar era despejar, com uma concha, o caldo do tacho em cada palha enrolada e dobrada formando como que um copo, que depois era fechado por outra palha, amarrando com fita também de palha – coisa só possível para quatro mãos em cooperação.

No fim do dia, cada mulher levava um tanto das pamonhas, outro tanto a vó deixava em casa, pra durar poucos dias naquele tempo ainda sem geladeira. Um tantão das pamonhas ela botava arrumadinhas em duas peneiras grandes cobertas por panos, bem amarrados numa peneira e na outra amarrados malemá. Porque ela enviava as pamonhas de trem para Assis, onde morava uma filha, e as pamonhas duma peneira eram para os ferroviários, por isso mal amarrada, para enfiarem fácil a mão. Pela cooperação, eles ganhavam as pamonhas e ela ganhava a certeza da entrega no mesmo dia e de graça.

Quando as peneiras cheia e vazia chegavam a Assis, o telegrafista da ferrovia já tinha avisado a filha, que tinha telefone, para ir buscar as pamonhas na estação.

A peneira cheia ia com um bilhete: “Quer mais, devolve as peneiras”. E a corrente cooperativa se completava quando, algum tempo depois, um ferroviário batia palmas no portão, eram as peneiras voltando, logo depois do vô falar que o tempo de milho-verde estava pra acabar, ela não ia fazer mais pamonha?

Sempre que ouço ou leio notícia do cooperativismo, lembro das pamonhas de vó Tiana.