Sempre esqueço de começar com “bom dia” ao digitar mensagens, embora seja neto de avós a quem se pedia bênção, e que cumprimentavam todo mundo nas ruas.

Talvez nonna Paulina tenha deixado de sair de casa por falta de bons dias, nas suas últimas décadas, depois de outras décadas saindo só para missa e para ver filme do Mazzaropi em cinema. Desconfio que sua reclusão, fazendo tricô e ouvindo novelas de rádio, enquanto pitava seu cigarro de palha com a escarradeira do lado, era porque na rua já não encontraria gente conhecida a quem dar bom dia.

Preciso incorporar isso no espírito, como diria o Pateta, essa civilidade de dar bom dia, boa tarde e boa noite sempre, para todos que encontrar ou com quem me comunicar.

Sem exageros porém, como aquele sujeito que cumprimentava três vezes cada um ao chegar ao trabalho:

- Bom dia, bom dia, bom dia!

Às vezes, passava por ele alguém ainda não cumprimentado, ele não falhava, dava seus três bom dia como relógio cuco dando a hora.

Aquilo foi intrigando e até irritando alguns, e alguém, que só respondia a todo bom dia apenas com um “bom”, passou a responde a ele também triplamente, “bom bom bom”.

Ele estranhou, matutou, resolveu dar a esse lacônico colega só dois bons dias. E o outro passou a responder apenas “bom bom”.

Ele matutou que matutou naquilo, até que arriscou dar um só bom dia, que o outro de imediato respondeu com apenas um “bom”.

Ele aguentou aquilo alguns dias, até que resolveu interpelar: que é que o colega queria dizer com aquilo? Que ele estava dando bom dia demais? Era acaso uma repreensão implícita ou censura velada?

O outro se espantou, disse que respondia naturalmente sem nem notar nem contar quantos bons dias ele dava, “que nem monjolo bate forte conforme a água que recebe”, falou.

Então ele se picou, mandou o colega às favas, disse que nunca mais ia lhe cumprimentar, e aos outros passou a dar um só e seco bom dia, comprovando o velho ditado de que todo excesso acaba mal... E um dia foi chamado de Seo Bombom pela faxineira, exigiu explicação e ela espantada falou ué, é como todo mundo chama o senhor! Ele pediu demissão, e não se sabe como passou a cumprimentar gente no novo emprego...

Então lembro de uma feirante que, quando me via, abria os braços para dizer bom dia sorrindo. Um dia lhe perguntei por que abria os braços assim, e ela:

- Ah, é o coração que manda nos braços, eu abro o coração, os braços abrem!

E outro dia perguntei a um porteiro de prédio se não enjoava de ter de dar tantos bons dias a tanta gente, moradores, visitantes, entregadores. Ele disse que ao contrário:

- Isso é o melhor do meu serviço, não enjoo não! E não me custa nada, porque eu gosto de gente, né.

Eu também, então tenho só de não esquecer de lembrar, ou lembrar de não esquecer, sempre, as seis palavras mágicas conforme os avós: bom dia, boa tarde, boa noite, com licença, por favor e obrigado.

Obrigado pela leitura. E bom dia, ou boa tarde, ou boa noite!

* A opinião do colunista não reflete, necessariamente, a da Folha de Londrina.